domingo, 10 de março de 2013

Governo mocambicano acuado

A acção da FIR, Forca de Intervenção Rápida, contra os antigos combatentes nesta terça-feira é um sinal claro de que o Governo moçambicano se sente ameaçado e por isso em jeito de defesa ataca e com forca. Com isso entende-se que pretende abortar logo a nascença qualquer tipo de manifestação que esteja a ser orquestrada contra si. Na manifestação dos médicos estagiários da UEM, a polícia, segundo relatos, estava armada até aos dentes. Não acredito que pretendia ataca-los, mas sim intimidar. Ou então, já prevendo outros "entusiastas", ou "oportunistas" como eles chamam, decidiu evidenciar a sua forca.
Mas como os desmobilizados de guerra prometem manifestações regulares, todas as terças-feiras, para continuar a exigir melhores pensões, então suponho que teremos muito para ver ainda...

Ditadura começa na polícia
O paradoxo é a polícia estar descontente e ter de reprimir outros descontentes. Só não sei se a FIR também faz parte do grupo dos insatisfeitos como os "cinzentinhos". De forma arrogante o comandante da polícia disse desconhecer um plano de greve dos seus homens, embora o assunto tenha "transpirado". Agora nada se fala, uma atitude que ao meu ver denuncia medo por parte dos seus homens.

O regresso da PIDE
Esta semana alguns jovens içaram a bandeira de Portugal na ex-sede da PIDE em Maputo e alguns deles foram detidos pela polícia. Uma atitude que dá muito que pensar. Quererão eles dizer que a PIDE e o colonialismo estão de volta? Talvez queiram estabelecer uma analogia com os serviços de segurança moçambicanos e o Governo de Armando Guebuza. Por favor, deixem-me dar asas a minha imaginação...




Moçambique: greves são um sinal de exercício de cidadania


As ameaças de greves e manifestações dos desmobilizados de guerra em Moçambique mexem com o Governo. Este tem optado pelo uso da força, em jeito de intimidação e repressão, causando indignação no país. A DW, numa entrevista conduzuida por mim, ouviu o pesquisador do departamento de ciências políticas e admnistração pública da Universidade Eduado Mondlane, João Pereira, sobre o assunto.

Nadia Issufo: A revindicação por melhores condições de vida por via das greves, substituindo as manifestações sem cara, significam um amadurecimento da sociedade?

João Pereira: Sim, por um lado nota-se um certo grau de consciência que cada grupo de interesses em relação ao seu exercício de cidadania. E isso mostra a fragilidade que o próprio Estado tem de controlar esses movimentos. Em relação a greve dos médicos, se for a ver quem esteve a frente do processo eram jovens que não tem nenhuma relação com o passado histórico da FRELIMO. Não viveram o período colonial e estão mais predispostas a lutar pelos seus objetivos imediatos e a longo prazo. E muitas das vezes têm uma consciência política muito acima da media em relação a maioria da população que viveu no tempo colonial que tem um passado histórico idêntico ao do partido FRELIMO e que aceita muito dos sacrifícios que o partido adota. Os jovens estão mais predispostos a lutar por outro tipo de sociedade que  não seja essa discursiva em relação ao passado.

Nádia Issufo: Entretanto, os desmobilizados de guerra e os madjermanes são os únicos que tem feito manifestações. No caso dos desmobilizados o Governo repremiu-os com violência na última semana, atingindo até inocentes. Este uso excessivo de força será um sinal de que o Executivo de Armando Guebuza se sente ameaçado?

JP: Não é uma questão de se sentir ameaçado, é a natureza do Estado em muitos países africanos. Nós saímos de um regime autoritário desde o período pré colonial e pós-colonial....


Nádia Issufo: Mas neste momento as ameaças de greves são constantes...

JP: Estão a ser mais constantes porque as dificuldades da vida estão a ser agravadas  pelas políticas que estão a ser adotada neste momento...

Nádia Issufo: É neste contexto que lhe pergunto: sente-se o Governo acuado ou não por causa da pressão?

JP: No meu entender o Governo vai respondendo na dimensão da complexidade das coisas. Por exemplo, no caso dos desmobilizados, é verdade que a ação do Governo foi muito mais violento em relação aos madjermanes...


 Nádia Issufo: Constituirão os desmobilizados de guerra uma ameaça ao Governo?

JP: Sim, sim, é uma ameaça, na percepção dos governantes os desmobilizados de guerra tem uma tradição de luta, não luta política, mas luta armada. Grande parte deles vem de um processo de utilização de uso de armas para reivindicar os seus direitos, espaços ou territórios. Então, quando muitos moçambicanos ouvem dizer que os desmobilizados  querem manifestar-se pensam que a manifestação será violenta, e o Governo prepara-se pata responder com essa mesma violência.

Nádia Issufo: Na sua opinião, a estratégia do Governo é mais correta ou inteligente?

JP: Não é a mais inteligente nem correta porque não representa o que devei ser um Estado de direito. Porque para a questão da greve não é preciso ter uma autorização do Governo, é um direito consagrado na Constituição, e o Governo diz que respeita a Constituição, então tem de respeitar este principio básico de liberdade de expressão que grupos também têm de se manifestarem. Então, quando vemos a atitude do Governo em relação aos desmobilizados vemos a característica do Estado, que é anda de um Estado autoritário.

Nádia Issufo: Podemos dizer que a repressão e a intimidação entraram em Moçambique pelas mãos das autoridades?

JP: Essa é a tradição histórica deste país. O que os moçambicanos vivem hoje não é nada mais nada menos do que um Forte do Zimbábue?? Praticamente torna-se mais visível hoje porque é debatido na televisão e é mais reportado nas mídias sociais. Mas essa história de intimidação, marginalização e controle é uma história que começa no período pré-colonial , colonial, pós-colonial, mesmo com a entrada do sistema multipartidário a liberdade de expressão não é um bem público adquirido, ele tem de ser conquistado até as últimas conseqüências.  

A entrevista pode ser ouvida em: http://www.dw.de/greves-em-moçambique-um-sinal-de-mudança/a-16651640

segunda-feira, 4 de março de 2013

Um Barack Obama no Vaticano?

Agora chegou a vez do Vaticano ser posto a prova: escolherá ele o primeiro Papa negro da sua história? As expectativas são muito grandes, depois dos escândalos que abalaram a igreja católica e a polémica renuncia de Bento XVI, com várias recados nas entrelinhas. Para limpar as manchas "negras" da Casa, um "negro" na liderança pode ser uma dos sinais de reforma que muitos católicos, e não só, esperam. Diz-se que pico tira-se com pico...

Os únicos negros "papáveis" são o cardeal Peter Turkson do Gana e Francis Arinze da Nigéria. O primeiro cardeal negro, Laurean Rugambwa da Tanzânia, foi nomeado em 1960, quatro séculos depois dos europeus terem evangelizado, muitas vezes a força, o continente africano. É caso para perguntar porque. Entretanto, é também no continente africano onde a religião tem a possibilidades de ver crescer o número de crentes, por várias razões que não são aqui chamadas. De lembrar que na Europa muitos são os que abandonam a fé católica. Mas o processo para introduzir um pouco de "cor" no Vaticano segue muito lento.

Depois da eleição de Barack Obama como primeiro Presidente negro da considerada maior potencia mundial, EUA, a eleição de um Papa negro seria o segundo sinal de verdadeira reforma de mentalidades do século XXI. Se bem que no segundo caso não significa exactamente uma reforma de mentalidades, mas provavelmente uma estratégia de "imacular" o Vaticano e a religião católica.

O Vaticano faz-me lembrar o Conselho de Segurança da ONU, falta-lhe a "cor", ou se quisermos, falta o dinheiro a cor. Os mecanismos de eleição são a partida edificados para excluir...

Mas no meios dessa expectativa me recordo que Jesus Cristo também não era preto... foi má essa boca, não?

Qualquer semelhança é só na cor...
Entretanto os candidados negros só se assemelham a Obama apenas na cor, pelo que deduzi depois de conhecer os seus perfis. O cardeal do Gana já deixou claro que os homossexuais não tem direito a vida. Esqueceu-se do que diz a Biblia, só Deus dá a vida e só ele tira. Ele é perigoso, ao que tudo indica pode até golpear Deus...
Já nigeriano, por ser menos radical, tem o vento a seu favor. E neste momento em que o radicalismo tem sido a auto-destruição da igreja católica...

http://paroutudo.com/2013/02/13/forte-candidato-a-papa-defende-pena-de-morte-para-gays-em-uganda/
CPLP poderá ser abençoada...
Se realmente o cardeal brasileiro Odilo Scherer for escolhido como Papa teremos mais uma oportunidade para ouvir discursos vazios em nome da lusofonia. Esta será a capa de falsa coesão que alguns usarão para brilhar, ou então não.
Ler mais sobre Odilo Scherer em:  http://portugues.christianpost.com/news/cardeal-brasileiro-e-cotado-para-ser-novo-papa-14813/

A guerra não declarada entre o Brasil e Portugal, na luta pela posição de "dominador" dos falantes de Português e das suas riquezas, pode ganhar outra cor, para o azar de muitos portugueses. Mas resta-lhes o contentamento por terem levado o catolicismo para o Brasil.