terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As eleições autárquicas da "viragem"

Em vez de começarmos pelos problemas o melhor é citarmos as suas soluções. Pelo menos eu prefiro avaliar as eleições autárquicas de 20 de Novembro desta forma, porque percebi que foi com base nesta atitude que muitos moçambicanos preferiram participar no escrutínio. Vigiaram o seu futuro, o seu compromisso com o seu candidato, acima de tudo vigiaram o seu direito. Para que falar novamente em fraude, falta de transparência, violência policial, irregularidades, viciação de resultados, enchimento de urnas, corrupção, etc? Se a restituição da legalidade nunca foi feita através dos órgãos de direito, então a democracia popular na sua forma mais rudimentar funcionou. A vigilância popular mostrou-se eficaz e representa um atestado de incompetência da justiça ou que esta está comprometida com o partido no poder.

Manuel de Araújo, presidente do município de Quelimane
Foto: Luís Nhachote

Zambezianos na linha da frente

O nível de instrução dos zambezianos e o seu alto nível de consciência são uma das razões da vitória do MDM na cidade de Quelimane. Este povo fez com que este escrutínio fosse o mais brilhante e bem sucedidas da história das eleições moçambicanas. E porque o partido no poder tem consciência da consciência do direito e dever dos zambezianos a repressão policial foi das mais duras aqui. A "vigilância" popular, que acontece pela segunda vez aqui, custou repressão, mas resultou. Será que o resto dos moçambicanos já estão em condições de se deixarem contagiar pela "onda vigilante"?
Já um professor zambeziano dizia-me a brincar que a Zambézia queria a sua independência do resto de Moçambique. Hoje eu entendo-o melhor do que nunca.


Manifestação em Quelimane
Foto: Luís Nhachote

Beira, a confusão "positiva"

Exatamente neste município, onde a FRELIMO não tinha espaço de manobra, tal como em Quelimane, a polícia foi bárbara. Entrar num campo onde decorria um comício eleitoral e disparar contra os presentes dá-me o direito de questionar a quem serve a polícia: ao Estado ou ao Governo? Se em Moçambique a justiça funciona a polícia deve ser processada e penalizada. Mas como dizem que os beirenses são confusos fizeram justiça com as próprias mãos, destruindo bens do partido FRELIMO. Violência não se resolve com violência, mas se a polícia demonstra não estar a seu serviço, a quem recorrer? Será a "confusão" dos beirenses apenas uma resposta acutilante as fragilidades e abusos dos seus direitos? 

Nampula, mais uma zona libertada

As armas da FRELIMO são agora apropriadas pelo "inimigo". A vitória do MDM em Nampula é assim vista, como zona libertada. Quando a FRELIMO ocupava regiões sob dominio português na luta contra o colonialismo português assim as chamava, "zonas libertadas". Hoje a população coloca este partido no lugar do opressor, do que deve ser banido.

Edson Macuaua, porta-voz da presidência moçambicana
Foto: Joca Estevão

Como se invalidam dívidas "eternas"?

Durante a campanha eleitoral em Maputo o secretário-geral da FRELIMO, Filipe Paúnde disse a um vendedor do mercado Janete, em Maputo, que ele só estava ali a vender graças ao seu partido, porque se fosse em 1972 não estava lá. O vender respondeu que se não fosse a FRELIMO teria sido um outro partido e ele estaria ali a vender sim. E disse também que não gostava de algumas figura no partido de Paunde.
Saber que um vendedor de mercado recusou ser manipulado pelo candidato da FRELIMO foi um dos primeiros sinais de que o povo já sabe que não é o eterno devedor pela independência colonial.
Também dizer frontalmente uma verdade a um dos mais altos dirigentes da FRELIMO foi a inesperada chapada para o dirigente. Isso revela que há gente neste partido que vive numa redoma de vidro certo que o povo continua de joelhos, pois se Paúnde estivesse próximo das massas teria usado outro argumento menos imbecil para angariar votos e menos arrogante.
Fugir dos candidatos da FRELIMO e rejeitar o seu programa eleitoral foi outra estratégia mais "delicada". Também esta ação foi protagonizada pela população mais simples. Houve que recolhesse as suas bancas e zarpasse para dentro das suas casas e se trancasse justificando que já tinham sabiam bem quem era o seu candidato. Digno de uma comédia, mas inesperado para o partido, e para mim...
Os moçambicanos estão a mudar e por isso que acompanhe este processo de forma bem atenta quem os quer governar.

Presidente da FRELIMO e de Moçambique
Foto: Ismael Miquidade


Um rascunho das eleições gerais

Este foi com certeza um balão de ensaio para as próximas eleições gerais, o que significa que os pontos positivos e negativos destas eleições podem atingir grandes proporções, afinal as ambições são maiores...






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