terça-feira, 28 de maio de 2013

Porque o MPLA continua na internacional socialista?


Alguns partidos africanos que pertencem a internacional socialista, como o SPD alemão, sofrem uma metamorfose, perdendo algumas caracteristicas de esquerda. Tal é o caso do MPLA, o partido no poder em Angola. Mesmo assim estes partidos continuam filiados a ela.  Entrevistei para a DW  o analista e ex-vice ministro angolano das finanças, Fernando Heitor, sobre o assunto.

Nádia Issufo: Por que motivo o MPLA continua na Internacional Socialista?

Fernando Heitor (FH): E eu pergunto-me porque é que a Internacional Socialista, uma organização de grande prestígio, que se pauta por princípios democráticos, pelo respeito pelos direitos humanos, etc., aceita no seu seio partido políticos cuja prática diária não se compagina com estes princípios? Todos nós em Angola, e não só, sabemos que o próprio MPLA não tem democracia interna. Os órgãos diretivos do MPLA não são eleitos de acordo com os princípios que as democracias determinam. Não sei como é que as inscrições para essa organização internacional são feitas, não sei quais são os critérios e os requisitos.

NI: Acha que isso se deve à força que o MPLA tem a nível económico e também a nível político?

FH: O MPLA está no poder há quase meio século. Se é isto que faz com que uma instituição seja integrada numa organização como a Internacional Socialista, então estamos entendidos. Eu acho que não são tais requisitos, económicos, financeiros ou de poder político – conseguido por fórmulas que nós todos sabemos ou desconfiamos – que se integram nessas instituições. Acho que se for assim, qualquer instituição, até mafiosa, contrabandista ou o que quer que seja, desde que tenha poder financeiro, e há muitas que têm, então integram-se nessas instituições.
Parece-me que enquanto organizações do tipo da Internacional Socialista são demasiado exigentes relativamente a partido políticos de países europeus, americanos, etc., deixam de exigir o mesmo grau de requisitos, deixam de ser tão exigentes, quando se trata de países africanos, desde que estejam no poder, desde que consigam pagar as suas cotas são, enfim, admitidos com palmadinhas nas costas. Há mais tolerância. Acho que em determinadas em matérias, como os direitos humanos e a democracia, não devia haver qualquer tipo de dúvida. Devia haver exigências iguais para todos.


NI: Em Angola, a quem atribuiria agora as caraterísticas de esquerda, porque supostamente o MPLA agora não as tem?

FH: Não sei. É uma pergunta difícil. Vou ter que investigar. Mas devo dizer—lhe que a maior parte dos dirigentes dos partidos políticos nem sabe qual é a corrente que tem. Não sabe o que é esquerda, o que é centro. A partir das lideranças dos partidos políticos cuja maioria esmagadora nem sabe qual é o posicionamento, qual é o ideário político de um partido de esquerda, de um partido de centro, veja o que acontece no seio dos militantes.


NI: E os jovens manifestantes?

FH: Não há não disso. Não é só em Angola, é em quase todo os países africanos.

NI: Acha que faz sentido que organizações de base socialista, de esquerda, como a Friedrich Ebert Stiftung (FES), continuem a trabalhar com Governos que sofreram metamorfoses?




FH: Eu conheço bem a Friedrich Ebert Stiftung. Trabalhei na FES como consultor e como formador durante muitos anos cá em Angola e devo dizer que instituições dessas fazem falta, independentemente do posicionamento ideológico ou da prática governativa do partido que estiver no poder. Essas instituições trazem sempre luzes, fazem formação, trabalham com os partido políticos, com a rede das mulheres. Fazem um trabalho muito importante. Lamento muito que a FES tenha sido encerrada cá em Angola. Estava, de facto, a desenvolver um trabalho muito importante quer com os partidos políticos quer com a sociedade civil em termos genéricos.

 Escute a entrevista em: http://www.dw.de/porque-continua-o-mpla-na-internacional-socialista/a-16842205

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