quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quo Vadis Vaticano?



A renuncia do Papa Bento XVI fez-me lembrar as renuncias de dirigente políticos em países onde a cultura democrática é madura e a sociedade é devidamente esclarecida e activa. Na política elas costumam ser resultado de pressões cujos motivos são de conhecimento público, no caso do Papa parece-me que os verdadeiros motivos não são divulgados, não acredito que sejam apenas motivos de saúde que originaram a sua saída. Na sua última missa, nesta quarta-feira, lançou algumas indirectas e directas, por exemplo, ele denunciou a "hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as atitudes que procuram os aplausos e a aprovação" e apelou ao fim das rivalidades na Igreja Católica. Bento XVI desmascara  parcialmente a sua Igreja na hora do adeus. Agora vamos todos especular o que está por detrás destas palavras.


O pecado debaixo da batina
O seu papado está profundamente manchado, a pedofilia no seio da igreja católica é maior mancha. Bento VXI pecou por, pelo menos aos olhos do mundo, por encobrir até ao último minuto os abusos sexuais dentro da própria casa de Deus. Atitude que só aumentou a revolta dos ofendidos e daqueles que fazem o sinal da cruz quando o assunto é a igreja católica. Na verdade este comportamento colide com as palavras proferidas na sua última missa... A aparência continuam a ser a capa que esconde os "podres" pedófilos, e outras podres da igreja.

Luxos pagos pelos contribuintes revoltados
Em época de crise financeira na Europa os luxos do Papa e da igreja católica ganharam mais brilho aos olhos dos contribuintes agora mais empobrecidos. Quando visitou a Espanha em 2010 o governo, supostamente laico, gastou com ele e sua comitiva quase 5 milhões de euros dos contribuintes que não foram consultados. Para além de que vários deles nem são católicos, e portanto não tem "obrigações" para com ele. É caso para dizer que também há uma violação gritante dos direitos democráticos no velho continente... Mais sobre esta visita para ler em: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1704351&seccao=Europa  


Descamisar os africanos
Bento VXI minou os esforços de governos, ONGs, associações no combate ao HIV-SIDA ao condenar o uso de preservativos. Com isso também fez correr pelo ralo milhões de euros gastos na luta contra a doença. É inacreditável que na sua primeira visita ao continente africano, o mais afectado pela doença, diga que a camisinha agrava o combate a doença. Chega a ser desumano. Mas em parte devo reconhecer que ele pode estar certo, afinal ao incentivar-se o uso do preservativo banaliza-se também o sexo. É preciso resgatar ou incutir as boas práticas, também em nome da saúde, mas quando a situação é crítica, como é o caso do SIDA em África, o seu uso tem de ser reconsiderado. E neste ponto ele meteu os pés pelas mãos. Leia sobre a sua visita a África em: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1171809

O desenquadramento social da Igreja Católica
Dada a repercussão das suas palavras Bento XVI veio dar o dito pelo não dito, pondo de certa forma em causa os dogmas da igreja. Esta é apenas mais uma prova de que a igreja católica, tal como as outras religiões universais, não são maleaveis as dinâmicas sociais. E por isso a ocorrência de novos fenómenos sociais se revela uma desafio para elas, que muitas vezes ou fazem ouvidos de mercador, ou então usam argumentos desajustados desencadeiando um sentimento de repulsa contra ela. Terá sido este um dos pontos que também originou as denuncia de "hipocrisia religiosa" no seu último discurso? Será que foi este um dos momentos em que atirou a saia ao chão contra a "hipocrisia" que num primeiro momento foi "obrigado" a vestir? Ler mais em: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/papa-aceita-uso-de-preservativos-em-alguns-casos-diz-livro

Faz o que eu digo e não que faço
No último natal o Papa condenou o capitalismo financeiro não regulado e a desigualdade entre ricos e pobres. Não deixa de ser irónico o seu discurso, vemo-lo na televisão a levantar uma taça cravada de pedras preciosas, usa sapatos que custam não só os olhos mas a cara toda, gasta balúrdios com as suas viagens, entre outras centenas de luxo. Com certeza ele nunca ouviu falar da "vida franciscana"... São esses desajustes entre discurso e acções que causam uma revolta e consequente afastamento dos crentes, ou se quisermos os frequentadores de igreja.


Suástica de Ratzinger é diferenciada das outras
O facto de Bento XVI ter pertencido ao juventude hitleriana e até servido a infantaria causa repulsa a muitos, mesmo que ele tenha sido obrigado a pertencer a ela contra a sua vontade como diz. Mesmo que não queira carrega a pior mancha da Alemanha, o nazismo. E para limpar a sua imagem jornalistas alemães deram um contributo através de entrevistas, biografias, etc...


Vaticano colocado a prova
Enfim, esses devem ter sido apenas alguns dos factores que originaram a sua decisão de renuncia. Mas também me pergunto se ele não terá sido apenas vítima do destino, ou se quisermos, da dinâmica mundial. Acho que a sua saída pode simbolizar um descalabro da igreja católica como estrutura que ainda tinha uma palavra a dar nos vários aspectos da vida humana, e não extamente um fracasso do Papa. Se a igreja não for restruturada o próximo Papa, se tiver caracter, pode também resignar, porque a sociedade vai a um ritmo que não se coaduna com prescrições. 

Ou então não. Este pode ser o momento poderá representar o marco da viragem na igreja católica, uma espécie de reforma. Se Bento XVI chutou o balde na sua última missa, pode entao ser considerado um revolucionário...



2 comentários:

  1. Muito bem Nadia, identifico-me em absoluto com os teus pontos de vista.

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  2. Muito obrigada :-)E muitos aspetos se podem ainda levantar sobre o Papa e o Vaticano. Mas uma coisa é certa: o próximo Papa receberá uma batata quente...

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