quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ramos-Horta traz luz ao tunel da Guiné-Bissau

A indicação de José Ramos-Horta para o cargo de representante da ONU na Guiné-Bissau está a ser visto como o sinal de esperança para os problemas do país. As tensões entre organizações africanas na resolução da crise guineense, resultante do golpe de Estado de Abril passado, também podem estar a chegar ao fim, como disse o diplomata e analista da Academia de Ciências e Humanidades de Cabo Verde, Corsino Tolentino, em entrevista a DW África conduzida por mim. A CEDEAO deverá ceder e passar para o lado da CPLP, UA, UE  e ONU. Lembramos que até agora esta organização apoiou o governo de transição guineese, considerado ilegal.


Nádia Issufo: O que se pode esperar com a nomeação do novo representante da ONU na Guiné-Bissau?

Cursino Tolentino: É legitimo esperarmos várias coisa; em primeiro lugar uma comunicação mais eficaz e credível com os diversos actores no país sem exclusão. Ele tem grande experiência, trabalhou num contexto difícil para colocar o seu país no estágio em que se encontra. Tem experiência reconhecida através do Prémio Nobel. Penso que reúne experiência e conhecimento em matéria de relações internacionais. E com  isso ele reúne condições para que a sua experiência seja um bom augúrio para a Guiné-Bissau e para todos os que desejam o melhor para o país. Penso que o Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, deu um bom sinal ao anunciar que vai criar condições para a realização de eleições. O ano de 2013 provavelmente está a começar bem para o país.

NI: A CPLP e a CEDEAO mantém relações difíceis no que diz respeito a crise guineense. O facto de Ramos Horta pertencer a um país da CPLP pode agudizar as tensões entre eles em prejuízo da Guiné-Bissau?

CT: Creio que esta tensão está a entrar numa fase nova. Não nos esqueçamos da recente missão das cinco organizações que esteve em Bissau, nomeadamente a CPLP, CEDEAO, UA, UE e ONU, de 16 a 21 de Dezembro. Obviamente que ela vai apresentar um quadro actual e também um conjunto de propostas devidamente fundamentadas. Por outro lado, esta tensão pode acabar por conduzir a uma saída diplomática construtiva, e ai é que Ramos-Horta vai ter de mostrar a sua capacidade diplomática para resolver o conflito, e fazer com que todas as organizações internacionais que estão envolvidas no processo, e outras que venham a envolver-se, pugnem por uma solução razoável que tem de ser inclusiva e democrática. É preciso não nos esquecermos que a CEDEAO agiu contra os seus próprios princípios.

NI: Mas o próprio Governo de transição já mostrou a sua simpatia em relação a CEDEAO...

CT: Sim, mas não nos esqueçamos que se trata de um governo resultante de um golpe de Estado, e isso como forma de chegar e manter o poder é condenado em toda a parte do mundo. A própria CEDEAO sabe que acabou por agir contra a sua própria carta de boa governação e democracia, e contra a própria decisão da CEDEAO em relação a Guiné-Bissau que é de tolerância zero, relativamente ao golpe de Estado. Portanto, acabou por apoiar uma solução saída do golpe, e por conseguinte suponho que a CEDEAO está sedenta de sair airosa de uma situação que ela própria condena. O desempenho de Ramos-Horta aqui pode ser fundamental. Isso depende do sucesso da missão, e por conseguinte o relançamento do país no caminho da defesa dos direitos humanos, da democracia e do progresso.

NI: Nesta tensão entre a CEDEAO e a CPLP a nomeação de Ramos-Horta pode ser entendida como uma demonstração de força da comunidade internacional contra a CEDEAO?

CT: Não é contra a CEDEAO, é a favor dos princípios consagradas na ética e no direito internacional, isto é, da promoção da democracia, do voto como forma de resolver os problemas políticos. E por isso acho que a ONU está a agir bem, e a própria CEDEAO vai acabar por encontrar uma saída condigna que não vai perenizar as consequências do golpe de Estado, mas vai reduzir os danos provocados pelo golpe de Estado e tomar as medidas para evitar que tal venha a acontecer no futuro na Guiné-Bissau ou num outro país.


Acompanhe mais sobre o assunto em:
http://www.dw.de/ramos-horta-representa-a-onu-na-guiné-bissau/a-16492352



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