terça-feira, 14 de agosto de 2012

Malawi, o menino mau da SADC

A intensa vasculha do hidrocarbonetos está a criar grandes tensões entre o Malawi e a Tanzânia. Esta sede pelos recursos naturais pode desencadear situações mais graves, mas não a guerra, considera Patricio José. Entrevistei o reitor do Instituto de Relações Exteriores de Moçambique para a Deutsche Welle, que entre outras coisas vê o Malawi como uma espécie de "ovelha negra" da SADC.

Nádia Issufo: A corrida pelos hidrocarbonetos pode desencadear alguma guerra entre vizinhos?
Patrício José: Eu pessoalmente não quero acreditar numa guerra, mas que vai criar instabilidade na relação entre os dois países isso é verdade. Ou então pode vir a reactivar problemas latentes que as diferentes conjunturas  pelas quais passamos ainda não tinham colocado os problemas a mesa. Naturalmente que quando começa a haver descoberta de recursos pode acordar problemas aparentemente resolvidos. Não haverá guerra porque isso não interessa a nenhuma das partes e a SADC não tem interesse em resolver mais um conflito

NI: A SADC conseguirá resolver esse problema, considerando que o posicionamento de Dar-es-salam é duro?
PJ: Acredito que sim, aliás estamos a investir muita energia nisso. E acredito que a cimeira de Maputo vai debater isso por forma a ultrapassar o assunto.

NI: Como ja referimos a Tanzania tem sido muito dura com o Malawi neste caso. O Malawi merece essa dureza?
PJ: Não sei se o Malawi merece ou se o país tem tido dificuldades em  manter uma política regional credível. Já há pouco tempo houve o problema com a navegabilidade do Chire, em vez de negociar com Moçambique colocou barcaças no rio sem autorização. Há o problema das fronteiras coloniais, mas o principio da União Africana foi bastante intangível, e agora o Malawi começa a pesquisar hidrocarbonetos sozinho. Eu acho que o Malawi tem de amadurecer politicamente para que possa conviver com os seus vizinhos porque isso também é do seu interesse.

NI: E até agora como se pode carecterizar a relação do Malawi com os seus vizinhos?
PJ: O país sempre teve dificuldades em lidar com os seus vizinhos, particularmnete com Moçambique. Acho que deve haver interesses que são estranhos até ao povo malawiano. Deve querer ter protagonismo por esta via, o que não acho correcto. Já nos tempos do presidente Banda houve dificuldades em lidar com os vizinhos nos processos de libertação, vieram os seus sucessores que também tiveram problemas em lidar com os vizinhos em matérias de integração regional. O Malawi tem de encontrar outra forma de estar primeiro para com o seu povo e depois para com os povos da região

NI: A nomeação da nova presidente do Malawi foi vista como uma porta nova para a melhoria das relações entre o Malawi e Moçambique. De facto houve uma viragem neste relacionamento?
PJ: Há uma melhoria significante. Pelo menos acredito que há uma plataforma de diálogo, se as duas partes apostarem nisso vamos ultrapassar muitos pendentes e criar um reatamento das relações entre os povos que sempre foi pacífica.

NI: Até que ponto esta busca sedenta de hidrocarbonetos pode criar tensão na SADC e em África no geral?
PJ: A descoberta dos recursos energéticos representa um desafio enorme para cada país em termos de política extena. Mas acho que a região tem de ver nisso um potencial para o desenvolvimento de cada país e da região. Não interessa a região ver algum membro pobre, porque isso acabará por criar instabilidade social nos vizinhos. Está ai o exemplo da África do Sul, há tanta emigração ilegal para lá porque o país tem um nível de desenvolvimento grande na região e por isso todos pensam que ir para lá é a solução, o que não é verdade. Parte da solução é alastrar o raio do desenvolvimento para todos os países da região. Com a potencialidade que cada um dos estados pode ter acredito que a complementaridade pode ser possível.

NI: O lago Niassa é partilhado entre o Malawi, Tanzania e Moçambique. Qual pode ser o papel de Moçambique neste conflito entre a Tanzania e o Malawi?
PJ: É de chamar a consciência para a necessidade do respeito pelos princípios adotados pela Unidade Africana (actualmente União Africana) porque os argumentos do Malawi não fazem sentido. Se não Moçambique também teria algo a dizer para rever os acordos, e isso não pacifica a região. Moçambique pode apelar as partes a negociarem.

Pode ler mais ou ouvir sobre o tema em: http://www.dw.de/dw/article/0,,16167385,00.html

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com o entrevistado. Acho que o Malawi tem orgulhosamente enfrentado dificuldades de conversar com os vizinhos mesmo depois de passadas geracoes de governantes. Nos Mocambicanos de facto se for o caso de negociar sobre acordos colonias seriamos os primeiros a fazelo- Nao passa e nem passara na cabeca da geracao de varios Mocambicanos como ate agora as Ilhas de Likoma enconstadas nas aguas de Mocambique ainda justifica isto devido as tais chamados acordos colonias. Acho que e tempo de, Mocambique fortificar a sua posicao de facilitador neste processo. Acharia correcto se Malawi tivesse de partilhar a sua visao sobre os efeitos da tal procura desenfreada de recursos como petroleo, gas etc sem que no entanto no espirito da SADC tivessem que ser aproximados tanzania e Alias nos Mocambicanos temos muito de ensinar os Malawianos a viverem bem, para nao se recordar das palavras do saudoso Machel, sobre as brincadeiras de criancisse do Malawi para com os vizinhos. Acho que os Malawianos mais uma vez precisam de conviver com os vizinhos num espirito de boa vizinhanca porque nos ate no passado monstramos a eles e o regimen do Apartheid que temos um coracao do bem. Que nos deixem tambem dizer algo. Lago Niassa como carinhosamente chamamos nos Mocambicanos do Rvuma ao Maputo e em particular da minha terra Niassa, tambem e bem NOSSO e tudo faremos para ser sempre NOSSO recordando a nossa bela, grande e rica provincia de NIASSA.

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    1. A necessidade de por termo a pobreza a custa de matérias primas é muito perigoso. África tem de começar a pensar em transformar, mas insiste em manter a mesma atitude do tempo colonial. É triste que continuemos a ser apenas a fonte de matéria prima.

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