quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Portugueses em Moçambique, uma praga?



Se os moçambicanos não o dizem com palavras, então referem-se a eles como se o fossem. É comum ouvir-se frases do género: "Esses tugas estão em todo o sitio!", "Vai ao restaurante piri-piri e vais encontrar tugas sentados lá o dia todo a beber café", "Veio ao meu serviço a procura de emprego e sem marcação pediu para falar com a minha boss que é portuguesa". E assim segue. A expressão facial dos moçambicanos é mais reveladora do que as palavras que proferem.

A crise económica que atinge Portugal e a recente descoberta de recursos minerais em Moçambique, alvo de grandes investimentos, está a atrair portugueses para o país. A esperança de uma oportunidade de emprego ou de negócios é o que muitos trazem na mala. Alguns levam de volta na bagagem decepções, afinal Moçambique não é exactamente o que estavam a espera.

A grande preocupação é avaliar as consequências da entrada massiva de portugueses, e saber se o governo está a tomar medidas preventivas para que os moçambicanos não se sintam prejudicados com este imigração. Não tenho nada contra a imigração, pelo contrário, mas sim sou contra lesar os nacionais ao se favorecer estrangeiros.

Moçambicanos em primeiro lugar
E muitos exemplos e situações podem ser listadas, por exemplo, o português obtém o visto de entrada nos aeroportos do Moçambique, enquanto que o moçambicano para entrar em Portugal tem de passar por um processo burocrático tão longo como se quisesse ir a lua. Quando o governo moçambicano vai acabar com esta desigualdade? Quem verifica se os portugueses tem condições financeiras para estarem no país? Se tem acomodação? Se passagem tem dois "vês"? Como se vai sustentar? Quem o convidou? etc

Em termos de absorção de mão de obra, a lógica deveria ser privilegiar os nacionais. Já sei que existe uma lei sobre isso, mas consegue-se fazer valer na prática? Absorver o que não temos, é justo, mas que não se adquira o que a casa já tem.

"Pés de fada" sobre escadas moçambicanas
Antigamente, há sensivelmente 15 anos, não era comum ver se portugueses a conviverem com os moçambicanos. Havia uma espécie de "Apartheid". Hoje isso mudou. É verdade que a mentalidade de muitos portugueses e moçambicanos mudou, é gente jovem e esclarecida. Em Maputo vê-se alguns portugueses em grandes conversas com os nacionais em cafés, ao que tudo indica o tema é negócios. Sabe-se que para que um estrangeiro se dê bem a esse nível tem de se associar a um nacional. Isso leva-me a duvidar que essas situações sejam movidas ou ditadas por algum esclarecimento sobre igualdade, humanidade, ou fraternidade entre povos... Os moçambicanos podem estar "a servir de escadas" para os portugueses, como diz um amigo meu. Só que escadas que não são pisadas descaradamente como antigamente...





terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sarkozy fora, Costa do Marfim regressa as tensões

A saída de Nicolas Sarkozy da presidência francesa já está a influenciar a situação política da Costa do Marfim, por via da (in)stabilidade. Os ataques ao exército costa-marfinense e ao quartel no incio deste mês são o primeiro sinal de um despertar já previsto dos apoiantes de Laurent Gbagbo, o ex-presidente do país. E a resposta aos ataques chegou alguns dias depois, uma delegação do partido de Gbagbo foi atacada quando decorria uma reunião. 

Conduzido pelo ex-presidente francês, e com o suporte das tropas da ONU no terreno, Alassane Ouattará conseguiu subir ao poder, tirando Laurent Gbagbo de lá. Neste processo quase reacendeu a guerra civil que resultou na morte de mais de 3000 pessoas. O atual presidente, que gozava de simpatias junto de Sarkozy, tinha praticamente o poder em mãos. Um facto que muda agora com a nova política de François Hollande que disse em Paris que quer estabelecer uma nova política com as suas ex-colónias. O seu discurso parece menos ditador e extremista, como era o seu antecessor. Finalmente a França dá sinais de esperança para uma relação de menos imposição a outros fancofonos concedendo-lhes realmente alguma independência. Mesmo que isto custe antes alguns litros de sangue, como pode vir a acontecer na Costa do Marfim...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

UNITA organiza manifestações contra irregularidades eleitorais

Em Angola a UNITA convocou uma manifestação para sábado passado, contra supostas irregularidades da CNE no processo eleitoral. O maior partido da oposição chamou, por isso, todos os cidadãos para exigirem um processo transparente e justo, mas de forma pacífica. Entrevistei para a DW o porta-voz do partido, Alcides Sakala, na véspera.

Nádia Issufo: O que leva a UNITA a realizar a manifestação?
Alcides Sakala: A manifestação é pela paz, democracia e sobretudo pelos respeito a lei. Queremos que se introduza em Angola a cultura de respeito a lei. Isto por causa da forma como a CNE está a conduzir o processo eleitoral. Nós verificamos nos últimos dias um conjunto de situações irregulares que violam a lei. São questões importantes para a credibilização do processo que vão desde problemas das actas simples, a questão das listas, a auditoria e outras questões que não tem sido salvaguardadas. Porque parece não haver vontade da CNE que sofre uma grande influência do executivo angolano. Por isso achamos que deviamos organizar esta manifestação para a defesa da legalidade e da paz.

NI: Qual foi a reação da CNE face as vossa queixas?
AS: Apresentamos um memorando a CNE na última sexta-feira. Também entregamos o documento a comunidade diplomática acreditada em Angola e a missão de observação da SADC. Em resposta a CNE criou uma Comissão que vai, segundo dizem, analisar o nosso memorando e eventualmente produzir algumas recomedações.

NI: Caso não sejam resolvidas as irregularidades constatadas o que pretendem fazer?
AS: Queremos manter um discurso positivo. Penso que os homens de bem, com sentido de história de Estado tem de se pautar por um diálogo estruturante. Vamos dar inicio a um processo que tem de conduzir necessariamente a institucionalização dos processos eleitorais. Imagina que sempre que tivermos eleições se estabeleça este braço de força entre a sociedade civil, partidos e a CNE. Isso não seria bom para credibilizar processos que serão recorrentes no nosso país.


Mais sobre o tema para ouvir e ler em:

http://www.dw.de/dw/article/0,,16189464,00.html

domingo, 26 de agosto de 2012

A segregacao veio a tona com os raptos em Mocambique

Nao sei se fico mais chocada com os mocambicanos ou com o seu governo no caso da uniao das comunidades muculmana, hindu e ismaelita contra o governo.  Por causa da indiferenca das autoridades mocambicanas nos raptos de dezenas de empresários mocambicanos de origem asiática e consequente exigencia de pagamento de resgates, essas comunidades pretendem dar a devida resposta para os chamar a razao.

Vejo agora gente supostamente esclarecida a demonstrar atitudes segregacionistas assentes em sentimentos de superioridade com discursos do tipo: "como o governo pode ficar refem de algumas comunidades?". Os membros dessas comunidades sao tao mocambicanos com os outros, por conseguinte tem os mesmos direitos e obrigacoes. Na ausencia de respeito que se faca a justica. Nao olhemos para essas comunidades como os "outros", ou "aqueles", somos nós. Na hora dos raptos a maioria, que nao pertence a essas comunidades e que se consideram os "legítimos" mocambicanos, nem reagiram, afinal nao era nada com os mocambicanos.

A reacao de alguns mocambicanos mostra que muitos estao subjogados pelo conformismo e o "deixa andar", que aliás é uma mal que o governo quer combater. Estao habituados a falar mal em espacos como facebook e cafés da cidade, mas na hora da verdade nem um pio. Deceriam aprender os bons exemplos como os dessas comunidades, e de certeza que Mocambique seria um pouco melhor.

A única forma de lidar com um governo que nao cumpre com as suas obrigacoes e atingi-lo pelo lado mais doloroso, o voto e o bolso. Já que os apelos dos líderes religiosos muculmanos para a resolucao dos casos foram ignorados, e a decadente polícia mocambicana estava de bracos cruzados num primeiro momento.
Sendo estas comunidades atingidas por terem importantes empresários, entao que seja também por ai que se atinje o governo. Páram o comércio e lesam a economia do país, já que eles só sao mocambicanos nesse sentido, e para pagar impostos.

Isso é democracia sim, o governo esta no poder para defender os interesses do povo, de todo o povo, diga-se. Se nao for assim, entao que nao conte com o apoio dos lesados. Isso sim, e liberdade, democracia e igualdade. Princípios que deveriam ser válidos para todos. Portanto, mocambicanos pseudo-instruídos, nao se deixem cegar por sentimentos desumanos, que ao que tudo indica a Universidade nao vos conseguiu apagar e muito menos a família. Justica e solidariedade devem se sobrepor a mesquinhez que insiste em vos envergonhar.

E esta agora sr. Guebuza?

Se a Frelimo, partido no poder em Mocambique, nunca quis assumir as suas divergencias internas, agora nao tem como. Se nao o fizer com palavras, entao fará com decisoes. A VII sessao do comité central do partido que governa Mocambique esta a deixar bem claro as posicoes que serao assumidas no X Congresso do partido, a ter lugar em Setembro, quanto a conducao do partido e do país.

A lei mocambicana só pemite dois mandatos presidenciais, o que Armando Guebuza está prestes a concluir. O presidente da Frelimo, é também presidente do país. Entretanto, pelos comportamentos de uma ala do partido está evidente que se quer fazer a "viragem" dentro do próprio partido ao manter Guebuza como seu presidente, embora tenha de abandonar a presidencia do país em 2014.

Isto porque ao nível da Constituicao a Frelimo nao teve coragem para aumentar o número de mandatos. Recorde-se que a Frelimo até testou a oposicao, sociedade civil e populacao ao anunciar que iria rever a Lei mae, sem entretanto anunciar os pontos. A reacao "vem quente que estamos a ferver" cortou a segunda perna da Frelimo. Porque o facto de o governo da Frelimo ser ainda dependente da comunidade internacional já o tinha deixado meio deficiente há muito tempo.

Para que Guebuza continue a mandar em Mocambique nao lhe resta outra saída se nao lutar pela presidencia do partido, e através dela manipular a marionete que possivelmente seria o futuro presidente. Só que "os mais velhos" da Frelimo, já se mostram contra este aparente manobra. Mais sobre o assunto para ler em: http://www.opais.co.mz/index.php/politica/63-politica/21796-historicos-da-frelimo-nao-concordam-com-proposta-de-paunde-de-dois-centros-de-poder.html

O crescente domínio de Armando Guebuza na área empresarial mocambicana tem sido alvo de criticas ao nível local, afinal resta pouco para outros jovens empresários, a populacao que qestiona para além da sociedade civil e oposicao. A nível internacional a imprensa tem "denunciado" os seus interesses comerciais com artigos sem fim.

A médio prazo Mocambique será sem dúvida uma das grandes reservas de matérias primas de África. Muitos mocambicanos vem na descoberta de hidrocarbonetos uma oportunidade de enriquecerem, e estrangeiros também. A sua exploracao, entretanto, ainda nao é para já, altura em que por coincidencia termina o mandato do presidente do país e também um dos maiores empresários de Mocambique.

A pergunta que coloco agora é: esta suposta contestacao no seio da Frelimo é para parar a suposta sede de Guebuza pelos negócios ou terao os contestários também os seus interesses nesse momento que se avizinha? Também se diz a boca pequena que a Frelimo reivindica maior participacao nos importantes negócios como forma de poder financiar mais folgadamente as suas actividades políticas, e o domínio de Armando Guebuza nao estaria a facilitar isso.

O que escrevo nao é uma revelacao para muitos mocambicanos, mas nao podia deixar de apresentar uma das partes sordidas de uma luta pelo poder em nome de riquezas que devem beneficiar os mocambicanos em primeiro lugar. Todo o futuro de Mocambique está já a ser engendrado na certeza de que o país continuará nas maos da Frelimo.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A nacionalidade de Deus

filho: mama, porque eu não sou Deus?
mae: porque queres ser Deus meu filho?
filho: para ter muitos poderes.
mae: o mais poderoso do mundo é só Deus.
filho: mãe, Deus na Alemanha é alemão ou português?
mae: Deus não tem nacionalidade.
(e eu penso: se Deus fosse português Alemanha seria a casa de uma Maria e não de Angela...)
filho: mãe, em Moçambique Deus é português?
mae: porque em Moçambique Deus seria português??
(e eu penso: já foi um dia e tenta agora de novo. Espero que os moçambicanos não deixem)
filho: Esta bem mãe, em Moçambique Deus é moçambicano.
mae: ahhh...
(e eu penso: sim, em Moçambique Deus tem direito a ter nacionalidade, pelo menos uma vez na vida. Mas alguns moçambicanos já ocuparam o cargo)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Frelimo baixa o veu do voto

Uma ameaça da comunidade muçulmana fez o governo moçambicano recuar imediatamente e autorizar as muçulmanas a usarem o véu nas escolas. É uma falsa desculpa dizer que Moçambique é um Estado laico para legitimar a proibição do véu. Afinal ele sempre o foi, e por isso as freiras andaram sempre cobertas por véus, hindus a sua maneira e por ai a fora, e ninguém disse nada e a paz reinava no país. Veio alguém para levantar o véu e os muçulmanos levantaram a laia...

Parece que houve um efeito contágio. Na Europa a tendência para proibições cresce, a França ultrapassou-se na minha óptica. O governo mocambicano talvez num laivo "ocidental"  tenha tomado a decisão. Mas a  relação de Moçambique com os Islão não é igual a relação do Islão com os outros países. A luta da França prende-se com questões de poder.  Um patamar do qual Moçambique não faz parte. O Islão em Moçambique faz parte do gene de uma parte da sua história, e isso não se apaga levantado o véu. Eles representam cerca de 30% da populacao.

Tal como o partido no poder nao pode, de forma alguma, apagar os muculmanos nas eleicoes e na angariacao de fundos para a caca ao voto. Tudo tem um preco, e cada um deve saber se esta em condicoes de arcar com as consequencias. Caso contrário, é o que se ve.

Para mim a posicao da comunidade muculmana mostra por um lado que há no país a nocao do voto consciente. Afinal vota-se também em quem salvaguarda os nossos interesses. Se eles sao bons ou nao isso e outro assunto. É o preco da democracia. Por outro lado mostra que o governo mocambicano nao tem maturidade e seguranca e por isso é frágil. Por isso ele está sujeito a ficar refém de qualquer um.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

CIP critica tratamento que lei anti-corrupção está a ter no Parmalento moçambicano

Em Moçambique a Assembleia da República realizou na última semana uma consulta pública sobre a revisão do Código Penal, no âmbito do pacote legislativo anti-corrupção. Este processo, entretanto, é contestado pelo CIP, Centro de Integridade Pública, que o considera uma duplicação de tarefas, pois o mesmo já foi levado a cabo pela UTREL, Unidade Técnica de Reforma Legal e sociedade civil. O CIP considera ainda que as leis anti-corrupção tem de ser imediatamente aprovadas independendemente da revisão ou produção dum novo Código Penal, caso contrário as instituições anti-corrupção continuarão de mãos atadas. Entrevistoi Baltazar Fael do CIP, para a DW, a quem começou por perguntar se a nova consulta é um plano para atrasar a implementação da lei:

Baltazar Fael: Não queremos dizer que há um propósito de atrasar a aprovação do pacote anti-corrupção. O que queremos dizer é que há um exercício que neste momento não é necessário, de voltar a debater a parte de crime de corrupção e conexos que foi integrada dentro do código penal. Isto porque já houve um debate que produziu a anti-proposta de lei que foi submetida ao parlamento. Agora cabe a Assembleia da República fazer a análise das várias contribuições colhidas pelo país e harmoniza-las de modo a produzir um documento.

Nádia Issufo: Porque terá o Parlamento ignorado esses contributos da sociedade civil e da UTREL?
BF:  No que vão dar esses debates de 1 e 3 de Agosto, pensamos que não deverá ser diferente das consultas já realizadas em 2010. Elas foram bastante amplas, em que não se escolhia quem devia estar lá e nem o número de pessoas. Mas agora limitaram o número de participante no debate para 100. E perguntamos quem são essas pessoas? E porque não podem participar outras que podem dar contributos valiosos? Portanto, há aqui um processo que não está muito bem explicado, o que nos levar a dizer que a nossa Assembleia da República ou não está bem preparada para produzir documentos da complexidade de um código penal, ou está interessada em atender outro tipo de agendas que desconhecemos. Mas que há um atraso, e que algumas leis que já foram aprovadas neste código penal não poderão ser aplicadas sem a aprovação do código penal. É preciso correr contra o tempo na aprovação deste instrumento  


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O estilo austral na União Africa

A União Africana ganhou nova roupagem com a eleição nova presidente da Comissão da organização. Apoiada pela SADC, a sul-africana Nkosazana Dlamini Zuma poderá transmitir a União Africana os valores que caracterizam a SADC tais como união, credibilidade e força. Mas existem outros pontos ainda que jogam a seu favor de acordo com António Gaspar. Entrevistei o analista político moçambicano para a Deutsche Welle sobre o tema, acompanhe:


António Gaspar: Eu acho que sim, primeiro ela é uma mulher, em 49 anos da organização nunca houve uma mulher a frente. Portanto, isso aumenta valor e acrescenta expectativa. Segundo, é a primeira representante da SADC, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. Esses dois aspectos permitem-nos visualizar que sim. A liderança da Comissão pela senhora Dlamini-Zuma vai trazer valor acrescentado. E alguns aspectos fundamentais penso que serão mudados sem perder a perspectiva de que está a dirigir uma organização continental e não uma regional, apesar de ter sido apoiada pela SADC. Outros aspecto importante é que ela terá de fazer um esforço adicional para trazer para a gestão dos assuntos da União Africana mesmo daqueles que votaram contra ela. A perspectiva tem de ser supra regional de modo a preservar os interesses dos povos africanos.

NI: A SADC apresenta uma imagem de união e credibilidade, o que lhe confere respeito internacional. Acha que esta organzação, através de Dlamini Zuma vai transferir as suas qualidades a União Africana?

AG: Na região o sentimento que existe é que temos, através da senhora Zuma, de fortaçecer e consolidar a unidade no seio da União Africana. E levar a experiências e o calor, o sentimento de coesão e acção que existe na SADC para a União Africama.

NI: Então isso vai permitir a União Africana estar ao mesmo nível que outras organizações internacionais e discutir a mesmo nível?

AG: Acho que sim, porque a União Africana nos últimos anos perdeu credibilidade. Repare o caso da Líbia, ele foi muito mal resolvido, e isso faz com que qualquer cidadão faça críticas fortes a União Africana. Esta organização está num nível muito baixo do ponto de vista de percepção dos países, e mesmo dos cidadãos. Eu penso que com a sua experiência e com o apoio que receberá, não só da SADC, acredito que ela fará algo para modar a imagem negativa da orgzanização.

NI: Falou agora da crise líbia, ela evidenciou a divisão no seio da União Africana, com a SADC a opôr-se uma intervenção estrangeira. Isso terá servido de incentivo para que a SADC se candidatasse a presidência da Comissão?

AG: As motivações para a candidatura da SADC são fundamentalmente tentar criar uma nova dinámica a organização, e também chegou a vez da SADC ocupar um lugar de destaque na UA. Também serviu para acabar com o mito de que os cinco grandes países em termos de cota para o funcionamento da organização não deveriam concorrer as eleiçõeS.

Leia mais e escute sobre o tema em:
http://www.dw.de/dw/article/0,,16168610,00.html

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O olhar de Mia Couto sobre Moçambique




Os livros do escritor moçambicano Mia Couto retratam a realidade moçambicana, embora de forma ficcionada. Mas quisemos ouvir do escritor a sua opinião sobre Moçambique nas diversas esferas, deixando de lado a ficcão.



Nádia Issufo: O que pensa da desigualdade em Moçambique e a forma como são tratados os megaprojetos no país?

Mia Couto (MC): Defendo que é preciso repensar a relação com os grandes projetos. É obvio que na altura em que o governo começou a atrair os grandes projetos tinha de criar condições muito especiais. Moçambique tinha acabado de sair da guerra e estava num contexto regional instável. Portanto, era importante que os investidores tivessem confiança. Mas alguns já estão cá há vários anos e da riqueza que exploram fica muito pouco para o país, e alguns desses recursos são findáveis.

Além de que é injusto que haja facilidades para estes, enquanto os pequenos e médios empresários não têm. Estes últimos têm de pagar taxas, enquanto os outros estão isentos. E economistas já nos mostraram que bastava que eles pagassem as contribuições fiscais para que Moçambique estivesse noutra situação.
Desigualdade é consequência do modelo que criamos, isso não é particular de Moçambique. Se formos aos países emergentes veremos que há profundas desigualdades. O mundo que visito, com a exceção de alguns países do norte da Europa, são realidades muito chocantes. O retrato que eles criaram de si próprios, como se todos vivessem como uma elite, não é verdade.


NI: As manifestações de setembro de 2010 foram as mais violentas desde a independência de Moçambique. Acha que este acontecimento provocou alguma mudança na relação entre o governo e a população?

MC: O susto devia ter sido mais forte. A elite moçambicana não reagiu da mesma maneira, houve uma parte dela que pensou. Eu vejo dirigentes a viajar em primeira classe, provocando gastos supérfluos e pedindo aos outros que façam sacrifícios quando eles não fazem nenhum.

E quando houve uma primeira reação a manifestação ela foi negativa, foi de recusa da realidade. E no segundo momento, em que o governo aceita, ele inclui algumas propostas que para mim foi um sinal de que houve uma revisão dessa atitude no que se refere aos gastos supérfluos da coisa pública.

Mas acho que isso foi sol de pouca dura, a tentação dos políticos é ver nos cargos que ocupam uma espécie de oportunidade de enriquecerem rápido. Era preciso uma pressão contínua dos partidos políticos, da sociedade civil, da opinião pública.

No fundo esta elite não é diferente das outras, elas em todo o mundo tem os mesmo tiques, defeitos e gostam dos mesmos luxos. Nos outros países existe provavelmente controle social, o peso da opinião pública, o peso da dinâmica política. Aqui isso ainda não é forte e por isso esta elite se sente a vontade para fazer o que quiser.



NI: A pressão dos doadores internacionais e da sociedade civil para maior transparência, boa governação e democracia aumenta. Já há efeitos dessa pressão em Moçambique?

MC: A pressão dos doadores é quase sempre ditada quase sempre por razões que são quase sempre de interesses próprios. Não estão a defender grandes valores morais. Pressionaram muito Angola e o país transformou-se numa nação poderosa com grandes capacidades de exportação de petróleo e os doadores já não pressiona muito.
A Guiné Equatorial era um exemplo típico de uma ditadura inaceitável. Os chamados doadores, eu não gosto desta expressão, porque ninguém dá nada a ninguém, mas chamemos assim, tinham uma campanha sistemática de pressionar para que a ditadura no país que fosse resolvida. Depois encontrou-se petróleo no país e ninguém mais incomoda o presidente.



NI: Falou da Guiné Equatorial, este país pretende entrar para a CPLP. Qual é a sua opinião sobre isso?

MC: Sou contra. Acho que a CPLP, Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, podia ser a força que tinha, em termos de capacidade moral. Ela perde isso quando autoriza a si próprio a ter na família alguém que manche a sua idoneidade.

Porque hoje é assim, só se pode fazer política quando se tiver moral. Se a CPLP quer em nome de uma maior expressão numérica trocar isso por uma ausência de princípios morais, eu que não sou adepto de uma coisa que nem sei exatamente o que é, acabarei por me afastar cada vez mais.

DW África: Como moçambicano o que gostaria de ver mudado no seu país?

MC: Gostaria que a capacidade de crítica fosse mais visível, principalmente dos jovens urbanos, que eles fossem capazes de criar soluções de alternativas.
Acho que não sou ingênuo de pensar que a democracia é uma espécie de panaceia que resolve tudo, mas o jogo democrático, o confronto de idéias é uma coisa que falta muito em Moçambique.

Qualquer força política ou outra voz que surja com idéias novas que ponham em causa este status quo é fortemente atacada. E de repente já se estão a discutir pessoas e não idéias, portanto, há uma pobreza do ponto de vista das alternativas que estão a ser apresentadas.

E isso preocupa-me bastante porque há uma certa riqueza do ponto de vista da democracia, as pessoas podem falar, mas aceita-se que as pessoas digam coisas até realmente dizerem qualquer coisa. Quando se disser essa qualquer coisa, então ai há pouca tolerância e aceitação para perceber que ai é que está a nossa grande riqueza.

NI: O Mia já foi jornalista, qual é a sua opinião sobre a imprensa moçambicana?
MC: De uma maneira geral depois da morte de Carlos Cardoso o jornalismo de investigação quase sempre se confunde com o jornalismo que toca nos grandes escândalos, mas não é isso. Não vejo um jornalismo de pesquisa aqui.

O jornalismo de independência que se faz é de preguiça, que vive muito da opinião de fulano que acha que sabe, mas ninguém percebe porque ele tem de achar alguma coisa. Muitas vezes os artigos podiam ser feitos por leitores, por um tipo que por acaso trabalha num jornal. Também não há um ambiente que favoreça, não estou a pensar que os jornalistas são preguiçosos, não é isso.

NI: O Brasil é obviamente a potência da CPLP. Até que ponto há o risco de outros países obedecerem a batuta deste país?

MC: Estes países não podem arvorar-se apenas como vítimas. Nós não temos que chorar, mas sim ter a nossa agenda bem clara, a defesa dos interesses nacionais bem definida. E se assim for, não temo de ter uma posição muito ambígua.

Por exemplo, em relação à CPLP, a posição de Moçambique é muito ambígua. Em relação ao Acordo Ortográfico, achamos que tem a ver com os outros. Sobretudo quando se trata da língua portuguesa, nem damos importância. Por um lado somos de língua portuguesa, por outro lado, quando nos convém já não somos. Quando é para buscar dinheiro já somos da primeira linha. O facto de haver uma potência como o Brasil não pode ser vista a partida como algo negativo, pode ser positivo. Podemos até ter partido disso ao nível internacional.

NI: O Mia é também biólogo. Vamos também falar um pouco sobre o meio ambiente. O Homem tem sido responsabilizado pelas mudanças climáticas. Serão as mudanças apenas alvo de ações humanas, ou farão parte também de um processo normal? Por exemplo, o desaparecimento de espécies e o surgimento de outras...

MC: Acho que estamos num processo de fabricação do medo quando se fala no clima. É sempre por via da ameaça e isso impede que tenhamos uma visão serena e tranquila sobre o assunto.

A comunidade científica está profundamente dividida sobre o assunto e nós não estamos dispostos a ouvir outras opiniões. E o jornalismo também tem uma parcela de culpa nisso: simplifica os assuntos, só interessa o que vende.

Há um bombardeamento sistemático do que é negativo, que reduz a esperança. Somos uma espécie de soldados que não pensa, que aceita, que faz rentabilizar o medo porque o medo acaba por ser muito conveniente para manter o sistema.




terça-feira, 14 de agosto de 2012

A cor das ovelhas

"Ovelha negra". Usamos esta frase sem perceber a carga racista que tem. Não a rejeitamos, mesmo que não sejamos racistas, tal como o fiz no texto anterior... Só que foi nesse momento que percebi isso, e porque também não fazia muito sentido usa-la, afinal não conseguiria fazer a distinção que pretendia. A ovelha negra Malawi é negra como todos os outros países da SADC.
Tal como se coloca na "lista negra" os maus comportados, como as companhias aéreas africanas que não podem voar para a Europa, e em contrapartida as companhias europeias ganham licenças para voarem para África, é uma lista mesmo para negros... Dai algumas amigas usarem agora a expressão "lista branca" para dizer o mesmo que "lista negra". Pergunto-me se este tipo de frases exitem nas línguas africanas... E depois acham mau que se legitime o racismo defensivo...

Malawi, o menino mau da SADC

A intensa vasculha do hidrocarbonetos está a criar grandes tensões entre o Malawi e a Tanzânia. Esta sede pelos recursos naturais pode desencadear situações mais graves, mas não a guerra, considera Patricio José. Entrevistei o reitor do Instituto de Relações Exteriores de Moçambique para a Deutsche Welle, que entre outras coisas vê o Malawi como uma espécie de "ovelha negra" da SADC.

Nádia Issufo: A corrida pelos hidrocarbonetos pode desencadear alguma guerra entre vizinhos?
Patrício José: Eu pessoalmente não quero acreditar numa guerra, mas que vai criar instabilidade na relação entre os dois países isso é verdade. Ou então pode vir a reactivar problemas latentes que as diferentes conjunturas  pelas quais passamos ainda não tinham colocado os problemas a mesa. Naturalmente que quando começa a haver descoberta de recursos pode acordar problemas aparentemente resolvidos. Não haverá guerra porque isso não interessa a nenhuma das partes e a SADC não tem interesse em resolver mais um conflito

NI: A SADC conseguirá resolver esse problema, considerando que o posicionamento de Dar-es-salam é duro?
PJ: Acredito que sim, aliás estamos a investir muita energia nisso. E acredito que a cimeira de Maputo vai debater isso por forma a ultrapassar o assunto.

NI: Como ja referimos a Tanzania tem sido muito dura com o Malawi neste caso. O Malawi merece essa dureza?
PJ: Não sei se o Malawi merece ou se o país tem tido dificuldades em  manter uma política regional credível. Já há pouco tempo houve o problema com a navegabilidade do Chire, em vez de negociar com Moçambique colocou barcaças no rio sem autorização. Há o problema das fronteiras coloniais, mas o principio da União Africana foi bastante intangível, e agora o Malawi começa a pesquisar hidrocarbonetos sozinho. Eu acho que o Malawi tem de amadurecer politicamente para que possa conviver com os seus vizinhos porque isso também é do seu interesse.

NI: E até agora como se pode carecterizar a relação do Malawi com os seus vizinhos?
PJ: O país sempre teve dificuldades em lidar com os seus vizinhos, particularmnete com Moçambique. Acho que deve haver interesses que são estranhos até ao povo malawiano. Deve querer ter protagonismo por esta via, o que não acho correcto. Já nos tempos do presidente Banda houve dificuldades em lidar com os vizinhos nos processos de libertação, vieram os seus sucessores que também tiveram problemas em lidar com os vizinhos em matérias de integração regional. O Malawi tem de encontrar outra forma de estar primeiro para com o seu povo e depois para com os povos da região

NI: A nomeação da nova presidente do Malawi foi vista como uma porta nova para a melhoria das relações entre o Malawi e Moçambique. De facto houve uma viragem neste relacionamento?
PJ: Há uma melhoria significante. Pelo menos acredito que há uma plataforma de diálogo, se as duas partes apostarem nisso vamos ultrapassar muitos pendentes e criar um reatamento das relações entre os povos que sempre foi pacífica.

NI: Até que ponto esta busca sedenta de hidrocarbonetos pode criar tensão na SADC e em África no geral?
PJ: A descoberta dos recursos energéticos representa um desafio enorme para cada país em termos de política extena. Mas acho que a região tem de ver nisso um potencial para o desenvolvimento de cada país e da região. Não interessa a região ver algum membro pobre, porque isso acabará por criar instabilidade social nos vizinhos. Está ai o exemplo da África do Sul, há tanta emigração ilegal para lá porque o país tem um nível de desenvolvimento grande na região e por isso todos pensam que ir para lá é a solução, o que não é verdade. Parte da solução é alastrar o raio do desenvolvimento para todos os países da região. Com a potencialidade que cada um dos estados pode ter acredito que a complementaridade pode ser possível.

NI: O lago Niassa é partilhado entre o Malawi, Tanzania e Moçambique. Qual pode ser o papel de Moçambique neste conflito entre a Tanzania e o Malawi?
PJ: É de chamar a consciência para a necessidade do respeito pelos princípios adotados pela Unidade Africana (actualmente União Africana) porque os argumentos do Malawi não fazem sentido. Se não Moçambique também teria algo a dizer para rever os acordos, e isso não pacifica a região. Moçambique pode apelar as partes a negociarem.

Pode ler mais ou ouvir sobre o tema em: http://www.dw.de/dw/article/0,,16167385,00.html

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Já conhece os egícios?

Que injusto é este (des)acordo ortográfico! Sem acordo nenhum, pelo menos da minha parte, sou obrigada a escrever Egito, mas não sou obrigada a escrever egício. Onde está a lógica pá? Os gajos que nos impõem essas coisas não sabem que a língua é também uma coisa lógica??
Que ousadia mudar um nome! Afinal os nomes não escaparam a "internacionalização da língua portuguesa" a custa de uma uniformização forçada?

Zoo, uma contradição do Ocidente



O zoológico da cidade de Colónia na Alemanha é praticamente uma cópia da selva africana, tirando os ursos e mais alguns bichos. Como se adaptam eles ao clima gelado da Alemanha? Claro, que tão desenvolvido é este povo que deve ter criado algum sistema do tipo "estufa" para que eles "se sintam em casa..." Só não encontrou solução para o espaço de circulação dos animais habituados a terem a infinita selva para dar gosto ao pé. Eles estão quase enclausurados. Se existe psiquiatra para animais, então de certeza conlcuirão que todos já enlouqueceram...

Com isso conclui que o zoológico é contra os direitos dos animais (já que está na moda falar em direitos humanos...). Mas os europeus que muito lutam pela preservação da fauna e bravia e pela liberdade quase se esquecem deste caso. Devem estar a dar um desconto a esta velha mania europeia pelo "exótico" africano...

Acho que os europeus deveriam sim, continuar a pagar passagens de avião para visitar o Kruger Park, ou o Parque Nacional da Gorongoza se querem continuar a delirar com os exotismos da natureza africana. Ai sim, estariam a contribuir para o desenvolvimento do países africanos. E também para os seus, afinal algumas companhias africanas estão proibidas de voar para a Europa...



E isso me fez lembrar a conversa que tive com um austriaco, ele se revolta contra a morte dos animais em África. Isso porque nunca lhe faltou comida por causa de um elefante. Também porque nunca chegou a uma situação "ou eu ou tu". Quantos vezes em Moçambique a população tem de matar os animais para se defender ou proteger as suas machambas da gulosisse deles? É preciso separar o trigo do joio, há casos e há casos.

Esse mesmo austriaco é contra o ar-condicionado porque é mau para o ambiente, e tem razão. Mas ele que vá viver sob um calor de 40 graus que nem terá condições para pensar em questões ambientais de forma mais alargada, e pensará apenas no seu ambiente... Além de que ele não sobrevive sem aquecimento no inverno europeu, e isso não é menos nocivo para o ambiente do que o AC.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

União Africana: Os ventos da mudança vem do sul?

A SADC conseguiu,  Nkosazana Dlamini Zuma lidera a Comissão da União Africana (UA) depois de uma batalha campal contra o antecessor Jean Ping. Afinal a SADC não precisou de usar o "As" de ouro que tinha na manga... Será que esta organização conseguirá transmitir um pouco da credibilidade que a caracteriza a tão necessitada União Africana? A crise líbia foi o mais gritante exemplo da inoperância da UA, e também serviu para mostrar a desunião do grupo, com a SADC mais pró-Kadhafi, embora no último momento o presidente sul-africano tenha virado o jogo. Na última semana a primeira mulher a liderar a Comissão da União Africana, voltou a vincar que é contra a detenção do presidente sudanês, Omar al-Bashir. Aliás, um dos poucos temas em que a direção anterior e a actual não divergem...