quinta-feira, 12 de abril de 2012

Guiné-Bissau não contraria expectativas, e vive mais um golpe

Mais um golpe de Estado teve lugar na última noite na Guiné-Bissau. Era previsivel, e os factos comprovam isso: o descontentamento dos militares, e possivelmente outras forças políticas do país, face a presença da Missang, a missão militar angola de apoio a reforma do sector de defesa no país, e em resultado disso a manifestação clara desse desagrado por parte de António Indjai, chefe das forças armadas nos últimos dias. E ainda nesta cadeia, o anúncio da retirada da Missang esta semana. Qualquer um que acompanhe as notícias esperava por isso, e os guineenses mais ainda, tanto é que se manifestaram solicitando a permanência da "Semsangue" em seu território.

Cadogo, não se joga dos dois lados
Como se diz, Cadogo tem o rabo preso com os militares. Até porque não se explica como depois deste ter sido preso por António Indjai em 2010, e ter expulso o ex-chefe das forças armadas Zamora Induta, Indjai, para a surpresa geral, ter sido nomeado para liderar o exército. Lembrem-se, isto custou a Guiné-Bissau fortes repressões e quase "sanções" internacionais.
Por outro lado esse homem com rabo preso mostra que quer "limpar" a casa, e talvez aproveitando a boa imagem do falecido presidente Malam Bacai Sanhá quase conseguiu, pelo menos aos olhos de quem não o conhece... Carlos Gomes Júnior jogou a sua grande cartada quando conseguiu o apoio de Angola. Ele tinha  de jogar o jogo de Luanda, ou seja ficar com rabo preso tambem. Também um golpe militar falhou graças a intervenção da "Semsangue", Carlos Gomes Júnior não se transformou num cuador de sangue dessa vez por causa de Luanda. Pode um único rabo estar em duas mãos?

Os louros de Angola no meio da confusão
A comunidade internacional, em particular a ONU, nunca colocou ordem na Guiné-Bissau, embora constantes arbitraridedades tenham lugar naquele país. Angola aparece como o salvador da pátria com a sua "Semsangue", embora talvez movido por interesses "maiores", tais como um domínio no continente africano em termos diplomáticos e claro, interesses económicos. Esquecendo as ambições "expansionistas" de Luanda, deve-se reconhecer que enquanto a sua missão esteve em Bissau pelo menos a população, uma vez em muitos anos, se sentiu segura. Mas que mensagem quiz passar o governo angolano com a retirada dos seus homens? Não acredito que tenha sido só o descontentamento dos militares que ditou a sua retirada. Mas seja qual for o motivo, Luanda mostrou que é possível manter minimamente bem a Guiné-Bissau dentro dos carris.


Acabar com o pão dos militares?
Se por um lado algumas correntes preferem apontar o sentimento de inferioridade por parte dos militares guineenses como principal motivo para querer a "Semsangue" fora do país, eu quero acreditar que os militares "graudos" não querem que acabem com o seu pão. Quem compactua e ganha com o narcotráfico na Guiné? Todos sabem que são principalmente os militares que não estão na mão do governo. Alguns políticos no governo já tem o seu nome associado a esse negócio também. A Guiné-Bissau é dominada por uma máfia. Tentar entender os meandros do crime em que se assenta esse país é uma ginástica escabrosa. Mas de uma coisa estou certa: esses militares não tem amor a sua vida, e portanto a vida da população não lhes diz nada.


Kumba Ialá pega em armas?
Notei uma clara tendência de alguns jornais associarem implicitamente o golpe militar com a figura de Kumba Ialá, um dos prováveis vencedores das presidenciais. A ser verdade esta suposição, pode-se perpetuar a sujidade nesse quintal do narcotráfico, com alianças questionáveis. A história da Guiné-Bissau mostra que não se pode subestimar este candidato, visto por muitos como louco. Já foi presidente graças também ao voto étnico que tem peso no país. Portanto, só esses dois factores já lhe podem garantir o lugar nos comandos do país. E depois fala-se em democracia, quando o que dita a vitória são outras coisas...

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