quinta-feira, 31 de março de 2011

Manuela Soeiro



Nádia Issufo: Como é trabalhar com alemães?
Manuela Soeiro: No início a gente pensa que é difícil trabalhar por causa da língua, é um povo do norte, podem ser muito frios, mas a verdade é que casamos muito bem com eles, porque ao fim ao cabo o teatro fala uma só língua. E de facto nós iniciamos com uma peça trazida pelo Jorge Vaz e Adelino Branquinho porque a Edith, a directora do Tribhune, quiz fazer uma peça para resgatar a morte daquele moçambicanoimorto pelos "skinheads", o Hnning Mankel escreveu e tinha de haver dois actores moçambicanos, e a partir dai não parámos mais. Não só com o Tribune, o Gripps, grupo para crianças e jovens, também trabalhamos com o ICMA em Moçambique. E também participei em Berlim num encontro de 35 directores de teatros independentes da Ásia, América Latina e Asia onde colhemos experiências e tivemos também alguma oficinas. Viemos a este festival e estamos a pensar numa continuidade para não morrermos por aqui.

NI: Qual é a grande marca do teatro alemão que se diferencia do teatro moçambicano e que vos serve de aprendizado?
MS: Não há duvida que eles tem uma técnica avançada, e o teatro alemão é uma referência no mundo. Nós vimos um teatro com uma dimensão muito profunda e aquilo que precisamos de ir buscar para não banalizar o nosso teatro, porque a Alemanha já tem uma tradição. Sem vir cá fizemos peças de teatro de escritores alemães e o nosso grupo está virado ao mundo, e não se cinge só a Moçambique, também procuramos e precisamos de desafios, e esta ligação é muito importante, para nós como para qualquer grupo.

NI: Sei que estão a trabalhar numa peça, podes me falar sobre o conteúdo?
MS: O Menning trouxe uma peça de Strindberg "Menina Júlia" e ele adaptou  em Moçambique, nós estamos no início da nossa carreira teatrarl, mas muitas vezes as histórias são o reflexo da sociedade. Então esta peça reflete a vida, como a burguesia vive e a sua relação com o povo e a peça foi escrrita para Suécia e foi adaptada para Moçambique

NI: 22 anos de existência do Mutumbela Gogo, o que há de marcante para lembrar neste momento?
MS: Podemos dizer que os actores já atingiram uma qualidade.

terça-feira, 29 de março de 2011

Muitas mãos sujas: que resultados?

Muammar Kadhafi não é exactamente um democrata; está a mais de 40 anos no poder, limita as liberdades dos seus compatriotas, supostamente acumulou muita riqueza de proveniência duvidosa, e agora com esta crise política na Líbia terá ordenado matanças contra civis, etc, etc. Tentar encontrar feitos deste homem é tarefa delicada, mas por exemplo não há relatos de pobreza no seu país, ajudou muitos países africanos, que hoje alguns deles tem os seus dirigentes no silêncio... poucos ousam criticar a actuação do presidente líbio. E em alguns países como a Guiné-Bissau a população mantém o seu apoio a Kadhafi com os mais diversos argumentos. Sobre o lado lunático deste homem só vou apontar duas coisas relevantes: o sonho de criar os Estados Unidos de África e o facto de se intitular o rei do reis no seu continente. Neste campo só o admiro por uma coisa: pela coragem de o revelar publicamente...

Ban Ki Moon legitima o desconhecido...
A agudização dos confrontos entre rebeldes e o exército governamental preocuparam a comunidade internacional. A organização mãe, a ONU, era a última possibilidade de solução, ou a que iria legitimar uma intervenção militar externa, talvez há muito desejada. O seu Conselho de Segurança demorou a parir uma resolução porque faltou o consenso, a China, Rússia, Brasil, índia e (surpreendentemente ou não...) a Alemanha se abstiveram. Portugal foi preponderante para a aprovação da resolução que o secretário geral da ONU assinou por baixo com as seguintes palavras: "façam o que for necessário." Algumas potências mundiais que tanto esperaram por esse momento trataram logo de montarem-se nos seus brinquedos e irem brincar aos polícias e ladrões, ou bandidos, em casa do "parceiro" Kadhafi. São eles a França, Grã-Bretanha e EUA. Foi no minimo surpreendente o protagonismo de Nicolas Sarkozy no caso, e os EUA aparentemente deram passos nesse sentido com alguma cautela, afinal carregam nas costas assaltos mal sucedidos ao Iraque e ao Afeganistão. Para além da oposição interna a intervenção na Líbia.

Amigo
Os que chamam Kadhafi de ditador e outras coisas são os mesmos que venderam armas para o seu regime, e que por isso também tem uma certa noção da "capacidade" do actual inimigo, como é o caso da França. E se se confirmar que realmente Nicolas Sarkozy recorreu ao dinheiro do ditador para se eleger, então...
Já a Itália parece vestir apenas uma única camisa, embora não me esqueça de que o governo de Berlusconi conseguiu com o presidente líbio um acordo para impedir a entrada de pretos na Itália, ou melhor, no velho continente... Muammar Kadhafi ai não pensou duas vezes antes de maltratar os seus irmãos africanos em nome de milhares de Euros...
E Silvio Berlusconi, coitado, quase não teve apoio dos seus pares da União Europeia, que também não querem emigrantes africanos. Desencadeia até hoje uma luta titánica... e como será agora?
Com o despoletar da crise na Líbia é quando vem ao de cima as sugeiras, ou pelo menos são amplamente divulgadas, por exemplo as grandes participações da Líbia ou do clã Kadhafi em sectores chaves da economia italiana. Em suma: são tão indecentes quanto o seu alvo e acima de tudo parceiros, só que com uma diferença, um usa disfarces e outro não. A maquiagem sempre faz a diferença...

Afinal é contra Kadhafi ou não?
Parace que a coligação internacional é a banda dos independentes, cada um toca para o seu lado. Ainda esta semana o presidente da França dizia que os ataques não pretendiam derrubar o presidente Muammar Kadhafi. Hillary Clinton disse que a intenção desta intervenção é fazer com que o regime de Kadhafi se submeta as exigências da ONU. Mas no final todos assumem que querem mesmo o derrube do presidente.

Ouro negro...
No último final de semana os rebeldes anunciaram que iriam retomar a exportação de petróleo e iriam também aumenta-la. Os opositores de Kadhafi informaram ainda que assinaram um acordo com o Qatar, delegando no Emirado a comercialização do petróleo. Sabemos que eles precisam de recursos para tentarem derrubar o presidente líbio do poder, mas que autoridade e legitimidade tem eles para isso? E claro que alguém, que defende a legitimidade, vai comprar esse petróleo...

Serviços não declarados...
Os aliados estão claramente a abrir caminhos para a oposição ocupar as cidades estratégicas através de ataques aéreos, uma ajudazinha apenas... Será este um dos pontos da resolução aprovada pela ONU contra a Líbia?
Supostamente a coligação está a contrariar o seu objectivo principal: proteger os civis.
De acordo com a LUSA, que cita uma entrevista à agência de informação de missionários católicos Fides, um bispo católico em Tripoli afirmou que "ataques aéreos alegadamente humanitários fizeram dezenas de vítimas civis em vários bairros da capital líbia." Também as autoridades líbias já tinham afirmado o mesmo na última semana. A NATO disse hoje que vai investigar esses casos e os EUA rejeitaram categoricamamente estarem a matar civis, o secretário da Defesa do país acusa o exército líbio de colocar corpos de civis nas zonas bombardeadas pelas forças da coligação internacional, mas Robert Gates garante que as forças da coligação têm sido "extremamente cuidadosas neste esforço militar". As toneladas de mortos que os EUA e os seus aliados levam nas costas principalmente no Afeganistão, fez as grandes potências pensarem com ponderação antes desta intervenção na Líbia. Sem nos esquecermos que o momento é de crise, e os gastos destas potências com ocupações e guerras são astronómicos. Internamente as contestações contra os gastos do sector da defesa são grandes...

Continuar a armar os rebeldes?
Falta consenso quanto a atribuição ou não de armas aos rebeldes líbios, a França, EUA e a Grã-Bretanha não excluem a possibilidade de munir ainda mais os opositores de Kadhafi. Já o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, manifestou-se hoje contra a ideia, tal como a Noruega. Não será isto uma promoção de chacinas?

Deutschland ist schlau...
Política de cima do muro, é o que faz sempre a Alemanha. Se abstem de votar pela resolução do Conselho de Segurança da ONU, mas defende que a Líbia deve ser um país democrático e garante que quer ser amigo deste país nos planos de desenvolvimento, etc. Neste caso acho que a Alemanha se saiu muito bem, não foi por mais lenha na fogueira. Também não podemos nos esquecer que este país foi "especialista" em matanças, a seu "herança" neste campo o garante para esta vida e a próxima encarnação... É preciso limpar o nome... e não é com sangue!

(não acabei...)

Os pilares da casa

No último final de semana aconteceram eleições regionais em dois Estados alemães: Baden Württemberg e Renânia Palatinado. Algumas coisas inéditas marcaram o escrutínio, a CDU, União Democrata Cristã, perdeu pela primeira vez no primeiro Estado, e os Verdes tiveram os melhores resultados de sempre em eleições regionais nos dois Estados.
Está claro para todos que a luta contra as centrais nucleares na Alemanha garantiu a vitória do Verdes. De recordar que os acidentes nas centrais nucleares japonesas, na sequência dos terramotos e maremotos, reacenderam na Alemanha um assunto já polémico. Boa parte dos alemães exige que o governo encerre as suas centrais, mas o governo tenta embrulhar o seu eleitorado, com prazos de encerramento muito grandes, entretanto sem sucesso. Isso porque o povo, que é na sua maioria consciente por causa do elevado nível de instrução e formação, reage imediatamente ao que é pouco normal, uma prática que no país tem cabelos brancos, ser proactivo e activo. Por isso é que na Alemanha a democracia é uma palavra cheia. Uma casa sólida e resistente tem sempre bases sólidas...
Democracia pressupõe também consciência e maturidade, ou prática.
Outra coisa não menos importante que alavancou a vitória dos verdes em Baden Württemberg foi o Stuttgart 21. A autoridade local quer(ia) construir uma nova estação central de comboios, facto entretanto rejeitado pelos Verdes e por grande parte das pessoas dessa região por várias questões, entre elas, e a mais forte, a ambiental. As fortes manifestações dos Verdes e/ou amigos do ambiente foram a primeira previsão, até certo ponto, esta derrocada do CDU, União Democrata Cristã, há 58 anos no poder. Apesar das contra-manifestações...
Quando tudo funciona, até se podem dispensar as sondagens eleitorais...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Golpe final feminino...

Neste momento de várias crises políticas no mundo, os "maus da fita", os políticos, no auge dos seus actos considerados bárbaros são desqualificados pelas mulheres que convivem comigo pelo lado menos esperado: o estético!
Embora elas tenham argumentos plausiveis e justos para os detestarem, a machadada final, quando o cenário se torna feio, vem do lado estranho: algumas dizem que não gostam do presidente da Líbia, Muammar Kadhafi, porque ele faz operações plásticas e põe botox, outras não gostavam do Hosni Mubarak, ex-presidente do Egipto, porque pinta o cabelo, ou do Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália, porque também pinta o cabelo e faz operações plásticas. Outra disse-me que não gosta do ex-ministro da defesa da Alemanha, Karl Teodor Zu Guttenberg porque usa gel no cabelo... E a pior sacanagem feminina em relacao ao presidente líbio surgiu depois de uns minutos de observacao e reflexao e foi a seguinte: "parece que eu conheco o Kadhafi de algum lugar... ele é feio!"
E media não se difere muito do universo feminino, a revista Focus no momento do queda de Guttemberg recuperou nos seus arquivos as fotografias de "gel" do ex-ministro alemão... Segundo uma colega minha ele apostava no marketing de forma bem séria (percebi na revista Focus), também para alimentar a imprensa cor de rosa, que alimenta as fantasias femininas e como se pode perceber também é pelo mesma via que os políticos se coroam fatalmente...
Mulher é mesmo um ser fantástico! Ela pode enterrar um gajo pelas merdas de uma vida toda, usando as justificações mais insignificantes e adoráveis...

quinta-feira, 17 de março de 2011

O meu Deus branco...

É humilhante em muitos casos o processo de aquisição de vistos para países do primeiro mundo. É humilhante também viver nesse "céu" e querer convidar parentes ou amigos para uma visita, eles pedem atestado de residência, contrato de arrendamento de casa para comprovar, entre outras coisas, que tens espaço suficente para receber as tuas visitas, contrato de trabalho, comprovativos de três últimos meses de salário, extrato bancário, e "o diabo a quatro" como diz uma grande amiga minha. Garanto-vos que é um teste a paciência, não só de um santo...
As vezes acho que todas estas exigências são para nos fazer desistir de vir viver no "paraiso", como se os "terrenos" todos tivessem esse sonho...
Na verdade compreendo que o primeiro mundo não queira imigrantes, ainda por cima de conduta duvidosa, querem garantir o melhor para a sua população.
Mas e quando "Deus" desce a terra? Sabemos que embora o movimento nesse sentido não esteja previsto, ele acontece com muita frequência... Que "terreno" pede mundos e fundos ao "Nosso Senhor" para aterrar?
É em momentos como esses que acho que todos africanos deviam ser angolanos... estes sabem dar respostas a altura em situações de crise. E mesmo sem haver crises! Quantos não passam as passas do Algarve para viajar para o "El-dorado" africano? Não exigem mundos e fundos, mas põem "Deus" a dançar o semba...
Como no caso do encerramento das contas bancárias da embaixada angolana nos EUA, não questiono os motivos, mas o governo de José Eduardo dos Santos jogou com as mesmas armas, no estilo: "com isso os americanos não vem para Angola, e como eles tem interesses aqui..."

"Fat Man" numa versão light?

66 anos separam o bombardeamento nuclear de Hiroshima e Nagasaki do acidente na central nuclear de Fukushima no Japão. Acontecimentos com natureza e origem muito diferentes, mas com efeitos até certo ponto semelhantes, a radiação. Claro que não se pode comparar, e espero que tal nunca aconteça, mas me pergunto: porque o destino decidiu fazer "bis" a este povo?
Já ontem um jornalista da RTP, acho que Carlos Daniel, que está em Tóquio por causa dos acidentes dizia que os japoneses estão habituados a usar máscaras, se não por causa das gripes é por causa, neste caso, da radiação. E me lembrei que durante as visitas do "Fat Man" e do "Little Boy" também se usaram máscaras no Japão... Uma amaldicoada tradição?

quarta-feira, 16 de março de 2011

(In)consciência da nulidade...

O tsunami e terremoto que atingiram o Japão na última sexta-feira lembraram ao mundo que o ser humano é nada... O resultado da inteligência, competência, organização, e talvez da vaidade, edificado em muito tempo, foi devastado pela força da natureza, uma potência que nenhuma potência humana pode vencer. A actual situação da central nuclear de Fukushima deixa o país e o mundo na incerteza quanto ao futuro. Os japoneses tentam a todo custo arrefecer os reactores nucleares.
O comissário europeu para a energia qualificou os esfoços nipónicos de "pouco profissionais". Segundo a LUSA, Gunther Oettinger disse: "e os meios improvisados com que trabalham os japoneses implicaram que corrigisse a grande opinião que tinha até ao momento sobre a competência dos engenheiros, da competência da técnica, da competência industrial, da perfeição e precisão dos nipónicos"
Este momento é para manifestação de solidariedade e apoio, penso eu. A catástrofe ainda está em pleno, não é altura para criticas, pelo menos deste tipo, que a meu ver são destrutivas. Como diz um colega meu: "onde estão as organizações alemãs que para lá tinham ido ajudar?", segundo o meu colega voltaram alegando que nada há para fazer por lá...
É preciso estar em aflição para não se ser egoista e prepotente.

Sábia prevenção, mas até onde?
Na Alemanha a situação está tensa por causa das centrais nucleares. A população e os partidos de oposição exigem a antecipação do fim das suas centrais. A decisão neste sentido já tinha sido tomada pelo governo, mas numa perspectiva de logo prazo até que tenham em pleno outras fontes de energia.
A actual situação de Fukushima voltou a despoletar a exigência, num momento delicado. Acontecem eleições regionais em breve e o governo de Angela Merkel tem de manter nas palminhas o seu eleitorado.
A manifestação da consciência é dos grandes trunfos conquistados pelos alemães, que são caracterizados como disciplinados, organizados, e acho eu antecipados...
Apesar de todas estas qualidades, terão eles a capacidade de se precaverem contra o imprevisivel desconhecido?

domingo, 13 de março de 2011

Mulher e as suas conquistas...


Foto: Ismael Miquidade

Cada vez que viajo para a minha terra oiço das minhas compatriotas os mais diversos truques para fazer um homem trepar as paredes de desejo. Geralmente isso acontece em conversas de grupo, onde cada uma dá a sua dica, é a escola da vida na sua forma mais descontraida e natural... sem receio e de mulher para mulher. Como sempre, não posso deixar de comparar essa partilha de conhecimentos com a ausência da mesma no mundo ocidental onde actualmente resido.
Aqui onde muitos acham que tem a liberdade para falar e fazer quase tudo, em nome do engrandecimento do Homem, ensinar truques parece tabu...
Quando costumo contar as coisas que aprendo as mulheres aqui, elas recebem-nas muito bem, mas contar os seus, isso já não...

Queimem o soutien, mas o mundo ainda é dos homens
Conversando com uma mulher casada, percebi que quanto mais conquistas alcancamos, mais responsabilidades temos as costas. Por isso as vezes me pergunto: até que ponto vale a pena?
Essa mulher, que muito aprecio, investe tudo para manter a chama do amor acessa, e ela disse-me: "quem é casada é assim mesmo, tem de procurar a novidade para não cair na rotina". Essa frase não constitui novidade para ninguém, o facto interessante é o esforço nesse sentido ser da responsabilidade da mulher, quase sempre. E eles, o que fazem?
Entrei hoje numa loja com algumas amigas, e paramos numa prateleira com jogos eróticos. Ai pegamos num dado do Kamasutra com várias posições sexuais e tal. Numa das faces do dado a mulher fazia sexo oral ao homem, não sei se isso se diz... procurei o exercício contrário, do homem a fazer sexo oral a mulher e nada! Peguei no segundo dado e nada, o terceiro e nada...
Possa pá! As vezes entendo porque as mulheres esperneiam muito. Não interessa o lugar onde estás, a posição da mulher ainda é de provedora, provedora e provedora!
Ela vai dizer que agora é igual ao homem, e não é bem assim... ao querer se igualar só se lixa porque aumentam os seus encargos: já trás o pão para casa como o seu marido, usa calças como ele, vai ao bar como ele, faz política como ele, etc... mas estas são tarefas que se vem juntar a outras que já tem, como cuidar da casa, dos filhos, do marido e ainda investir para garantir a sua satisfação sexual e principalmente a dele! E se viver nalgumas sociedades africanas ainda corre o risco de ser acusada pela própria família de ser a culpada pelo divórcio, porque não foi mulher o suficiente para o seu homem!
Não valia a pena ficar apenas em casa a cuidar com amor dos seus filhos, da casa, do marido e aprender truques sexuais com amigas em conversas de casamentos, missas e falecimentos? E eles poderiam continuar a matar-se lá fora para trazer o pão para a casa... Se ainda funcionassemos na lógica da complementaridade talvez fosse melhor para a mulher... afinal eles continuam lá, quase sem acréscimos de tarefas... e acho que não são menos felizes por isso...
(que nenhuma mulher leia isto...)

segunda-feira, 7 de março de 2011

A inocência também é atrevida


Foto: Ismael Miquidade

Discutiamos há semanas o Acordo ortográfico da língua portuguesa, eramos falantes de várias partes do mundo, aproximadamente seis pessoas, e os falantes que terão de mudar a forma como escrevem há dezenas de anos enfurecidos contestavam o Acordo apresentando inúmeros argumentos compreensiveis, obvio. Como sempre este assunto que supostamente só diz respeito a grafia desembocou na fala, e por esta via todos se recusam a mudar aquilo que são desde que nasceram. O único brasileiro do encontro, que nesta guerra de muitas batalhas tem pouco a mudar, ou seja, não será agredido na sua existência, durante a discussão não entendia a razão da revolta, claro, e disse-me depois numa conversa a dois: "mas vocês não terão que mudar nada, os vossos filhos sim..."

Poder e a Língua
Noutra discussão alguém disse algo como: "não sei como Portugal aceitou esse Acordo, a língua até nasceu lá..." Pois é... e eu, Nádia Issufo, como fico nessa história? O Português foi para a minha terra de barco e caiu aos poucos no mar, como se diz lá na minha terra em jeito de gozo, mas mesmo assim é a minha língua materna, ela é o que eu sou. Sou por isso menos falante dessa língua do zarolho do que os outros? e portanto com menos direitos?
Sinto que estou no meio de uma luta entre portugueses e brasileiros, não, minto, estou no meio de uma rebelião dos portugueses contra os brasileiros, e estes últimos por sua vez seguem tranquilos, afinal não foram afectados.
Só que estes, neste contexto da guerra, não percebem que eu existo, porque na verdade eu não existo...
E fico triste que uns se sintam no direito de se rotularem os donos da língua e de outros seguirem de nariz em pé.
A minha única alegria é de saber que embora a vontade política predomine no final, lá onde eu existo, as pessoas com sensibilidade tem opiniões plausiveis e tem consciência, só que isso infelizmente ainda não produz o poder que movimenta os cifrões do mundo.

Uma ajudinha na imposição
Há canais estrangeiros que dizem que trabalham para os países africanos de língua portuguesa e que decidiram adoptar já o Acordo ortográfico. Uma das justificações é de que um único padrão facilita o trabalho , a semelhança do que os políticos fazem. Vai ser mais fácil nos grandes encontros internacionais (que algumas vezes trazem pouco sumo) ter um padrão único, etc. Vamos lá fazer de contas que entendo esses pseudo-argumentos.
Agora entender que órgãos de comunicação dêm uma "super ajuda" ao Acordo que não foi ratificado pela maioria do seu grupo alvo, isso já é pedir demais...

O "Alaaf" que falta um pouco durante o ano


Foto: Ismael Miquidade

360 dias de alegria e simpatia são condensados e transferidos para o período do carnaval na Alemanha, que dura basicamente cinco dias. Sou extremista como dizem os meus amigos, sendo assim descontem ai alguma coisa...
No Estado da Renania do Norte-Westfália, onde esta festa é mais intensa, tudo muda, estou a falar de uma viragem de 360º...


Foto: Ismael Miquidade

Os conceitos de disciplina e organização que caracterizam o povo alemão caem por terra, o caos se instala e deixa qualquer pessoa que divide a alegria de forma equilibrada durante o ano com os cabelos em pé!
Garrafas de cerveja partidas e espalhadas pelas ruas e nos transportes públicos, não se respeitam regras, o transporte público fica apinhado de tal forma que nem uma agulha cabe lá, para além de porem a polícia a trablhar em nome da loucura colectiva que se instala, mas a trabalhar mesmo!
E o "Alaaf", a saudação de carnaval, impera!


Foto: Ismael Miquidade

O Palhaço da interrogação
Este é um dos elementos mais destacados neste carnaval, é comum este símbolo ser motivo de decoração de restaurantes, festas, lojas, etc.
Só que eu não entendo muito bem porque... não me interrogo sobre as outras fantasias, mas a do palhaço me deixa com muitos pontos de interrogação...

Moçambique conduzido pelo chapa?


Autor: Ismael Miquidade

No país já se fala num possível aumento do preço do chapa, a FEMATRO diz que o preço justo a ser cobrado é 18 meticais, veja mais em: http://www.opais.co.mz/index.php/sociedade/45-sociedade/12669-chapeiros-sufocados.html
A esta altura o governo moçambicano deve estar em parampas por causa disso, resta agora ver até onde vai a capacidade de negociação do executivo para travar estas ambições, justas para os transportadores semi-colectivos. Só não sei o que o governo vai oferecer como contra-partida... Mais subsídios esá visto que seria insuportável, para não dizer impensável e "infalável" se considerarmos os parcos recursos do governo.
Manifestações como as de Setembro último, Deus me livre! Deve estar a dizer o governo e um contágio das menifestações magrebinas, pior ainda!
O despoletar de uma crise sócio-política pode estar em eminência e os chapeiros são o elemento catalizador, embora não a razão, que devem ser amaciados por um governo de bolsos vazios...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lavando a roupa suja no carnaval


Foto: Glória de Sousa

Também vamos a vida!
Roupas brancas de algodão, muitas dela que parecem peças íntimas que se usavam antigamente, penduradas em fios pelas ruas da cidade de Bonn-Beuel, caracterizam um carnaval único na Alemanha, o Weiberfastnacht. Há mais de 175 anos as lavadeiras desta região se revoltaram contra o facto de apenas os homens festejarem o carnaval, e atiraram a roupa e o sabão ao chão exigindo direitos iguais. Assim começou o Weiberfastnacht, que também marca o inicio do carnaval de rua em Bonn.


Foto: Ismael Miquidade

Só por um dia...
Este carnaval, que simboliza essencialmente a afirmação feminina numa sociedade machista, termina, oficialmente, a sua celebração com as mulheres a "tomarem" o munícipio. Elas dirigem-se ao munícipio onde o "burgermeister", o presidente do munícipio, lentrega as chaves, apenas por um dia, as mulheres. Na Alemanha é tradição em muitas cidades o burgermeister entregar as chaves do munícipio aos foliões, mas a única cidade onde as mulheres são as previlegiadas, é Bonn-Beuel, até onde estou informada.


Foto: Glória de Sousa

Camelles
Mas até que estas cheguem a "Rathaus", o munícipio, muitos grupos de foliões desfilam pela cidade, distribuindo ou atirando essencialmente doces e chocolates para os espectadores. Mas os brindes variam um pouco, passando por sacolas de publicidades, a peluches até a guardanapos de papel. Os espectadores viram "caçadores" de brindes, o que é muito bonito! Todos tornam-se crianças felizes por terem conseguido coisas, uns caçam com chapéus, outros com bandeiras, mãos estranhas se apalpam no chão na divertida luta para mais um chocolate, enfim, voltamos para casa docemente carregados!
Na verdade convém ir protegido com um capecete para o carnaval... se não há um risco de parar ao hospital para uma pequena cirurgia, isto se antes não ficar sem um olho!


Foto: Glória de Sousa

A família real
Quem mora nas ruas por onde o desfile decorre é rei! Fica no seu camarote, na verdade no seu "Balkon", varanda, a assistir tudo como um rei. E coincidentemente os que se encontram nessas varandas, algumas vezes, vestem-se e comportam-se como tal, acenando com altivez e sorrindo sem parar para os grupos de foliões e para a "plebe" que se amalfanha em baixo pelos doces... (sacanagem da minha parte...)

terça-feira, 1 de março de 2011

Guttenberg: Preso por ter cão, preso por não ter...

Hoje o ministro da defesa da Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg, pediu demissão por alegadamente ter plagiado a sua tese de doutoramento. Este assunto agita a Alemanha já há duas semanas; a oposição fez pressão para que ele se demitisse e a media não deu trégua. Quando pensamos que tudo vai voltar a normalidade, a imprnsa ainda tem por questionar, por exemplo, o jornal semanal alemão "Die Zeit" diz que o ex-ministro brincou com os valores da honestidade, independência e bons costumes desejados pelos eleitores alemães. O mesmo jornal considera ainda que a sua saída não foi correcta e nem honesta, porque ele não admitiu o plágio e deixa projectos inacabados, como por exemplo a reforma do exercíto alemão, a Bundeswehr.
Concordo com tudo que a oposição fez e com o questionamento da media, mas me pergunto: afinal o que querem eles? isto no caso da demissão, que ele continuasse lá ou que se demitisse?

Moçambique: Liberdade de expressão a caminho das grades?


Foto: Ismael Miquidade

A TIM, Televisão Independente do Moçambique, foi recentemente comprada pelo grupo Insitec. Este grupo que está em larga expansão em Moçambique, tem participações em grandes empresas, como por exemplo o corredor de desenvolvimento de Nacala, o BCI, etc. Diz-se a boca pequena que o presidente do país, Armando Guebuza, tem participações no grupo, mas na escritura da Insitec, até onde estou informada, não consta o nome do presidente, ou seja, oficialmente Armando Guebuza não é um dos donos do grupo Insitec.
A STV, Soico Televisão, tem donos que até onde nos é mostrado, até pelos seus slogans, não vestem nenhuma camisa partidária, mas pelos comentários que oiço é que a televeisão tem sido tendênciosa nos últimos tempos.
A TVM, Televisão Pública de Moçambique, é aquela que tem o seu presidente do conselho de administração nomeado pelo governo, e todos os moçambicanos que tem olhos de ver sabem que camisa este canal tem de vestir.
o jornal "Diário de Moçambique" também foi recentemente comprado, a boca pequena também se diz que foi comprado por pessoas próximas ao partido no poder, a Frelimo.
Bem, estou a navegar nas turbulentas águas das especulações, mas isso não me imede de aventar possibilidades... E se?

Era uma vez a liberdade de imprensa...
Se tudo isso que se diz a boca pequena for verdade, o que restará de realmente imparcial? Onde vai parar a liberdade de expressão ainda tão incipiente? A ser verdade isto, que futuro para a imprensa moçambicana?