quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Cesár o que é de Cesár

Na exposição de artes do povo Dogon, do Mali, que acontece no Kunstmuseum de Bona na Alemanha, vem-se objectos que representam a vida de várias etnias da região. Eles datam do período que vai do século XII até ao século... mas não pertecem aos seus legítimos proprietários, a gente de Dogon. Eles são propridade de famosos museus do velho continente, como o musee d´orsay em Paris, ou de pessoas individuais. Um absurdo, não é?

É verdade que o conhecimento e a arte devem ser pertença global, devem girar o mundo para que todos possam apreciar e aprender, mas como se diz "a Cesár o que é de Cesár", ou melhor "aos Dogon o que é dos Dogon." O que é legitimamente dos ocidentais que é pertença de algum país ou museu africano?
Já com os achados do Egipto antigo acontece a mesma coisa, grande parte deles são propriedade de museus europeus, e os arqueólogos egipcíos tentam, em vão, mover céus e terras para os ter de volta. Agora com a destruição de obras de arte no contexto das manifestações, alguns já vão ter argumentos para legitimar o seu açambarcamento...

E porque a exposição não era só de artefactos ou arte do povo Dogon, estava lá o GIZ, a cooperação técnica alemã, com direito ao seu espaço, a explicar que até 2010 gastou mais de 100 milhões de euros para a boa governação no Mali, para agricultura e outras coisas. Enfim, continua-se com a atitude paternalista e uma espécie de competição entre os "velhos" europeus sobre quem "dá" mais aos africanos...
Numa tentativa de denúncia, e talvez de afastamento, em relação aos seus antepassados, contam e mostram, com imagens nas paredes do museu, que na França, no tempo colonial, (não sei bem que critérios se usam para delimitar esse período...) existiam zoológicos humanos, onde colocavam africanos no seu habitat, entre eles os do Mali, para que os europeus os apreciassem.
Qual é a diferença entre a criação de um zoo humano de pretos e a apropriação da ancestralidade e história de um povo? Continua no fundo a ser uma colonização, só que muito sofisticada e dissimulada e sem definição de espaço, ou melhor, que agora ultrapassa o espaço geográfico e dá um grande pulo para uma espécie de apropriação de "genes". Com a globalização, ou colonização, depende de como se vê a coisa, só já não é preciso sair de casa, ser "antropologo"...

Mas será que alguém já pensou que se se fomentasse a criação de museus, por exemplo no Mali, aumentaria o turismo nesses lugares e com isso vinham as receitas para os cofres de Estado e assim também diminuiria o nível de pobreza no continente? Se bem que o conceito de pobreza também é relativo...
Da mesma maneira que "exportam" a democracia para África poderiam também exportar esses bons exemplos de venda de turismo, de que eles são campeões.
Assim os países desenvolvidos deixavam de dar "ajuda" aos subdesenvolvidos... Mas será que aos "ajudadores" interessa cortar este ciclo de dependência que fossiliza a cada dia?

Mais sobre este povo e sobre a exposição para ler e ouvir em:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6637724,00.html

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