quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A caravana pára para ouvir o cão

 Foto: Ismael Miquidade

"Cão que ladra não morde", diz-se. Os moçambicanos cansaram-se de usar esta frase para empacotar as ameaças que o líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, fez nos últimos 19 anos. O partido no poder, a Frelimo, fez o pior, seguiu sempre segura e única no comando do país, também empacotando a Renamo com outra frase dita: "Os cães ladram e a caravana passa."
Repentinamente todas estas partes deixaram de ignorar completamente as repetitivas ameaças de Dhlakama, a começar pelo presidente da República, Armando Guebuza, que quase nunca desce do seu palácio quando o país está em crise. A razão dessa viragem, tem a ver com duas ameaças feitas pelo líder da Renamo: primeiro, as acções militares dos seus homens no contro do país, onde a Frelimo definitivamente não manda, e consequentemente a ameaça de criação de quarteis pelo país. A segunda ameaça, na verdade a intensificação da primeira, foi a quando das celebrações dos Acordos de paz, no dia 4 de Outubro. Dhlakama fixou prazos, por sinal muito curtos, pretende expulsar a Frelimo até Dezembro próximo, se esta não mudar a sua governação. Mais uma piada, não? Rimo-nos e com muitos motivos: a Renamo de oposição nada tem, morreu, a nível internacional não existe interesse em que o país volte a guerra, quem iria armar a Renamo? Apesar de tudo isso o presidente do país oferece-se, surpreendentemente, para dialogar.

Porque será?
Não acredito que seja por receio a um retorno a guerra, mas sim por receio de que estas ameaças venham a fazer explodir o barril de polvora que é o país neste momento. Os moçambicanos estão mergulhados numa latente crise social, e perderam o resto de confiança na Frelimo, ou seja, não a respeitam mais.
As últimas manifestações do país foram o melhor recado que o povo passou ao governo de Guebuza. O efeito contágio das constantes manifestações que estão a revolucionar o mundo árabe, e também a África negra, deixam o governo moçambicano temeroso. Não nos esquecamos que Angola é próximo de Moçambique em todos os sentidos. E Afonso Dhlakama não é burro de todo, a palavra "revolução" está a ser usada no momento mais delicado do país. E como Armando Guebuza não deve quer nenhuma "prenda de natal", vai passar mel no Dhlakama. Não nos esqueçamos também que Dezembro é a altura em que os já empobrecidos moçambicanos, que esperam fazer a sua única festa do ano, se vem a nora, porque tudo se torna insuportavelmente mais caro. Enfim, é tudo um jogo e cada partido tira partido da ocasião...

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