segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O lado da capulana que muitos não vem


Foto: Ismael Miquidade
Titulo: Pano para toda obra

É esse que vos trago hoje. Não o lado do avesso não, é o lado certo que nos cobre todos os dias, mas que ninguém quer ver ou se lembrar, trago principalmente aqui o lado da dor e negro, embrulhado por este indispensável pano.

A última acompanhante
"Quando eu morrer quero que usem estas capulanas aqui para me enterrar. Vão continuar guardadas aqui na mala." Quantas moçambicanas já ouviram este recado dos seus parentes amados mais velhos? Quantos não são obrigados a engolir as palavras de recusa da morte dos seus amados enquanto estes últimos escolhem tranquilos as capulanas que marcaram momentos das suas vidas? Aqueles momentos que muito gostamos de lembrar e escrever, como o casamento, o xiguiane, em que a noiva recebe como presente especial a capulana, ou então quando se vai embora para a casa do marido as mulheres da sua família e amigas cantam de alegria embrulhadas em lindas capulanas? Portanto, existe o fim da linha que é embrulhado com a capulana do percurso

Viúva negra
Três vezes, pelo luto que tem de usar pela morte do esposo, pela cor da pele (na maior parte dos casos negra), e pelas capulanas que os seus usam para as cobrir. Tão mortas quanto o seu luto e o seu homem, tão sem vida, tão pesadas. Essas são as capulanas da viúva, aquela que olhamos a primeira e sabemos quem é, pelo que traja, mas nunca ousamos comentar. Essa é a capulana que quase leva a mulher para junto do seu marido.
E ainda me resta a possibilidade de fazer uma analogia a viúva negra, a aranha que depois da cópula costuma comer o macho. A viúva da região sul de Moçambique, algumas ainda, tem, por tradição, em sociedades patrilineares, manter relações sexuais com o irmão do seu falecido marido, o Kutxinga. Ou seja, ela é "comida", mas não tem poder para "comer" o cunhado.

As cores que (não) enfeitiçam os machos
O que faz uma mulher do norte ser uma "muthiana horera" (mulher bonita)?, deve haver muitas coisas, muitos segredos valiosos que desconheço, mas as suas capulanas garridas deixam-nas, com certeza, mais bonitas. Sabemos imediatamente distunguir as capulanas usadas pelas mulheres do norte, muita cor, alegria, tudo que atrai olhares de apreciação. E como são as capulanas do sul? São também lindas, com padrões bem definidos, fortes nas suas cores geralmente com tendência para o escuro, não são arrojadas, petulantes, não afrontam...
Quem vive em Moçambique sabe bem do que falo, e quem também já leu "Niketche" de Paulina Chiziane sabe do que falo... "ninguém domina tão bem os homens como estas sereias de cores garridas"

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Crises árabes e depois guerras africanas?

O custo de vida já está insuportável em muitos países pobres, isso ainda na ressaca na crise financeira e económica. Em Moçambique as manifestações de Setembro último foram a mostra do quão está insuportável sobreviver no país. Em São Tomé e Príncipe este ano já houve tensão por causa do encarecimento do transporte, que automaticamente torna tudo o resto mais caro. Os sindicatos ainda tentaram negociar com o governo.
E agora com as crises socio-políticas nos países exportadores de petróleo que cenários se desenham? As previsões são de aumento galopante do custo do crude. Uma guerra civil é próximo passo para os da cauda do mundo?

A tradição de Bona saiu a rua hoje


Foto: Bettina Riffel

Botas pretas eram um espelho de tão bem polidas que estavam, a farda azul bem limpinha e passadinha que até suspeito que mesmo sem um corpo dentro ela pode ficar suspensa no ar..., mil e uma medalhas penduradas, até de joaninhas há, na Alemanha este animalzinho significa sorte. Provavelmente com significados, mas eu desconheço.
calças branquinhas, chapéus quase majestosos, tudo com algum doirado. Esses são os soldados de Bona, ou em alemão, "Bonner Stadtsoldaten-Corps". Neste domingo eles realizaram o "Kinderkostümfest", onde as suas "miniaturas" desfilaram em iguais trajes, todos bem organizados e bonitinhos. Garanto que havia muito empenho em tudo que faziam!
E juro, eles pareciam gente mesmo importante (tristemente muitos ainda avaliam as pessoas pelo que vestem...), e eu acredito que eles se sentem importantes de verdade, pela maneira recta e orgulhosa que se exibem. Ou então eu tenho complexos de inferioridade, mas que só me desafiam quando encontro esses soldados.


Foto: Bettina Riffel

E é interessante o comportamento ou orgulho destes soldados nas suas festas tradicionais, porque no dia a dia, não ha o "afrontamento" estético. Como costumo dizer, e dificil aqui, principalmente quando se chega de um pais subdesenvolvido, distinguir a classe social dos individuos pelo que vestem, ou seja, a olho nú somos todos iguais. Mas sempre há um contexto em que esse "lado" tem espaço para ser evidenciado, e são nas festas importantes deles.
No próximo dia 3 de Março começa o carnaval, uma das festas mais importantes do Estado da Renânia do Norte-Westfália, na Alemanha. Estes soldados deram ínicio a festa ontem, com a sua "11º Bonner Karnevalsfestival". Pelo panfleto que tenho em mãos o corpo de soldados existe desde 1872. Mais sobre estes soldados sem armas não sei, mas prometo investigar e trazer mais...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mentes viciadas e pouca generosidade

Hoje numa aula de língua o meu professor fez o habitual exercício de antónimos, perguntava ele: o contrário de feio? e nós: bonito! E lá continuou até que nos perguntou: o contrário de preto? E a resposta foi: branco! e ele perguntou o contrário de amarelo e a resposta foi a gargalhada geral! Grande ratoeira do professor... Porque será que a turma acha que o oposto de preto é branco?
Ainda este semana conversava com uma amiga que está em Mocambique, e ela reclmava do calor intenso e eu reclamava do frio intenso no lugar onde vivo, entao ela sugeriu temperarmos! Eu adorei a sugestao impossível e comecei a imaginar temperar o bom e o mau, o feio e o bonito e ai ela interrompeu-me logo e disse:"Nádia, isso ninguém vai aceitar!" Muita ingenuidade da minha parte supor que o Homem é tao nobre de aceitar temperar o mundo em nome do equilibrio, nao? Sempre é falacioso falar de amor ao próximo?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Governo de Moçambique: Jogada e Intimidação?

Era suposto ter acontecido uma manifestação dos antigos combatentes em Maputo hoje, reivindicando melhores pensões e regalias, numa luta, entre os desmobilizados e o governo, que dura já há algum tempo. Repentinamente os desmobilizados conseguiram que as suas reivindicações sejam levadas a próxima sessão do Parlamento que inicia no dia 9 de Março.
O que o contexto regional não pode ditar não é? Será que o governo local está com medo de mais uma violenta manifestação como a que o Magrebe vive? Ou tem medo de uma repetição das manifestações de Setembro último?
A polícia moçambicana garante que não há indícios disso, e alguns residentes de Maputo também desvalorizam a possibilidade de uma eventual manifestação no país.
A quantidade de polícias que esteve nas ruas de Maputo, foi só para evitar actos oportunistas na sequência da adiada manifestação dos desmobilizados de guerra, disse a polícia. Pode até ser verdade, mas esta justificação é que é no minímo hilariante, eles alegam que o forte dispositivo policial era para garantir que o bom nome dos desmobilizados não fosse sujado. A polícia moçambicana ganhou mais uma tarefa...
Mais sobre o acordo alcançado entre os desmobilizados e o governo para ler em:
http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/1181842

Em nome das vendas...

Vi hoje a foto de um livro cujo o titulo e "A cidade do Sol" e em cima do titulo vinha o nome do autor, mas o que achei estranho foi logo de seguida vir o seguinte: autor de O caçador de pipas.
Nunca vi se fazer publicidade de outras obras na capa, na contra-capa, e noutras partes sim, mas na capa? e com letras garrafais??
Sei que o momento pede um marketing agressivo em nome de grandes vendas, mas de forma tão descarada assim?
Para mim esta modalidade traz mais coisas negativas do que boas, por exemplo, os pais quando tem um novo filho dão-lhe um nome mas não dizem aos seus conhecidos que o novo membro da familia é irmão de X e depois o seu nome. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Até porque se eu não gostar de um sujeito posso estar, de forma inconsciente ou consciente, bloqueada, de forma natural, para conhecer outros parente próximos (embora o correcto seja não julgar as pessoas pelo que os seus parentes são...). E tambem se não gostar de abordagens agressivas e indiscretas posso não me interessar pela obra, pode até criar repulsa.
Vou fazer uma comparação arrogante, mas não deixa de ser o que penso... Este tipo de marketing iguala-se ao dos filmes "comerciais"...
Até que ponto esta necessidade de vender vulgariza e desvaloriza uma obra e o seu autor?
Pode ser até resitência a coisas novas, mas será que não se pode manter a classe?


Foto: Bettina Riffel

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Contradições

Em 2009 os 100 maiores fabricantes de armas no mundo venderam armas por um montante superior a 300 mil milhões de euros, ou seja, um aumento de 8%, afirma o relatorio d SIPRI, Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, sediada em Estocolomo na Suécia. A maioria dos 100 maiores fabricantes de armamento está localizada nos EUA enquanto 33 empresas de armamento estão sediadas em nove países da Europa, entre eles a Alemanha. As suas vendas situaram-se em 120 mil milhões de dólares, ou seja, um total de 30% do armamento vendido.
O grande paradoxo neste negócio é que os maiores produtores de armas vivem em paz, as guerras que viverarm não passam hoje de factos que só tem lugar nas páginas dos livros de História. Para quem vendem então eles as armas?

Faca de dois gumes?
Para os países que eles chamam de pobres, na sua maioria. Para aqueles a quem querem ensinar a democracia e o respeito pelos direitos humanos. Enquanto isso algumas organizações, verdadeiramente, bem intencionadas tentam alcançar acordos que limitam a produção e o comércio de armas, mas em vão. Mais sobre os esforços delas para ler em: http://pressenza.com/npermalink/semana-global-de-acao-contra-violencia-armada-pede-tratado-internacional-contra-comercio-de-armas

Dividir culpas pelo extremínio na Líbia
O presidente da Líbia está a dizimar os seus compatriotas e pode até tornar aquele país desabitado se quiser, isso graças ao seu arsenal, os maiores produtores de armas que o digam, eles melhor do que ninguém estão capazes de saber o que lá pode acontecer. E no momento dos negócios de armas ninguém se lembrou que Muammar Kadafi era ditador ou louco, como muitos o consideram, e que por isso, num momento como este, embora imprevisivel, esse armamento teria real uso, afinal ele tem uma função. Conheça alguns dos países que conhecem o dinheiro proveninete da Líbia:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2007/08/070803_libiafranca_ac.shtml
É essa responsabilidade que nunca será cobrada aos governos que nada fazem para por fim, ou então, sendo mais realista, limitar o comércio de armas.
Mas ainda há países que mostram uma única cara, feia ou não, mas única. A Russia é uma delas, fechou um negócio de venda de armas a Líbia avaliada em cerca de dois biliões de dólares, e hoje está do lado da Líbia: http://www.panapress.com/Russia-contra-ingerencia-em-assuntos-internos-da-Libia--3-760983-47-lang4-index.html
Tal como a Itália de Berlusconi o faz, ainda existe a honra. Em nome de cifrões, mas existe... Afinal Kadafi é ou foi quase o "salvador da pátria" italiana. A Fiat já foi salva pelo presidente líbio, os grandes bancos e outras empresas tem dinheiro de Kadafi e por ai a fora...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Faz o que eu digo e não o que eu faço

É assim que os Estados Unidos da América de comportam. No caso das redes sociais este país se mostra uma autêntica vergonha. No momento há um mandato judicial a exigir que o Twitter faculte informações sobre as contas de uma deputada parlamentar islandesa, Birgitta Jonsdottir, e de um investigador norte-americano, Jacob Appelbaum e de Rop Gonggrijp, um colaborador holandês do WikiLeaks. Os advogados destes pediram a anulação do pedido, um deles disse que autorizar o governo a aceder a informações das redes sociais constitui "uma grande novidade que vai permitir ao governo saber muito mais sobre nós do que até aqui". Por seu lado o advogado que representa o governo justifica o pedido de informações dizendo que é "uma medida de investigação clássica utilizada diariamente em todo o país".
Ainda no mesmo dia, falando sobre a liberdade na internet a secretária de Estado norte-americana disse que governos que bloqueiam e restringem o uso da Internet não conseguirão reprimir para sempre as aspirações democráticas nem evitar os protestos. Hillary Clinton acrescentou que o uso da rede tanto pelos cidadãos como pelas autoridades reflecte o poder que a interligação tecnológica tem como ferramenta para acelerar a mudança política, social e económica, mas também como meio para reprimir ou sufocar essa mudança.
Ora bem! Não poderia este país fazer uma pausa entre um pronunciamento e outro? No primeiro caso ultrapassa as as suas medidas e limita as liberdades alheias, e no segundo caso já considera as redes sociais como uma ferramenta de conquista de liberdade!
Fazem de nós estupidos isso sim...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Aumento de crimes em Huambo

Aumentam os casos criminais no Humabo e Bié em Angola. As rixas políticas entre partidos podem estar por detrás da situação, entretanto existem suspeitas de que a justiça local não esteja a ser imparcial na condução dos casos. A DW entrevistou Lisa Rimli da Human Rights Watch, que pede acções preventivas com vista as eleições de 2012. Ela comenta mais sobre a situação, começando por falar sobre a detenção do membro da UNITA, o maior partido da oposição, no Huambo...


Nádia Issufo: Este gesto extremo de Kamalata serve para evidenciar alguma coisa?
Lisa Rimli: A Human Rights Watch não tem acompanhado este caso em particular em que um militante da UNITA numa comuna de Bailundo, no Huambo, foi alegadamente detido arbitrariamente por ter erguido uma bandeira da UNITA, portanto não conhecemos os factos deste caso em particular, mas podemos dizer que temos tido muita informação sobre casos semelhantes, sobretudo no interior do Huambo, de Bié e Benguela. Estes problemas acontecem esporádicamente nas zonas rurais que foram afectadas pela guerra civil entre a UNITA e o MPLA, é lá nas aldeias, zonas pobres, desprovidas de serviços, onde há um baixo nível de ecolaridade, onde persistem traumas de guerra civil, é onde esporádicamente se tem registado rixas violentas entre mililantes dos dois partidos, em que no fim da guerra militantes locais do partido no poder, o MPLA, tem procurado impedir que a UNITA exerça as suas actividades partidárias, impedindo que ergam bandeiras partidárias nas aldeias e que se façam comícios e ai as autoridades tradicionais muitas vezes aparecem como agentes partidários procurando excluir e intimidar militantes da UNITA e de outros partidos políticos da oposição embora os outros partidos mais pequenos muito raramente chegam a ter uma presença nas aldeias. As autoridades locais e policiais sempre negam que casos de descriminação, violência, tenham contornos políticos, como a UNITA alega, e remetem sempre os casos a investigação criminal.

NI: Para a HRW que esses crimes são apenas de natureza criminal ou há mesmo rixas políticas?
LR: Bom, o problema é exactamente esse, enquanto não se estabelecem os factos não podemos afirmar nem uma coisa nem outra. É um dever da polícia estabelecer os factos que deviam investigar de uma maneira imparcial e celere e levar os autores dos crimes ao tribunal, no entanto temos recebido muitas queixas de que a polícia não presta a devida atenção nos casos em que as vítimas suspeitam que a justiça não esteja agir com a devida imparcialidade. É verdade que os responsáveis pelo incitamento aos actos de violência deviam ser chamados a justiça seja de que partido forem, o MPLA como partido no poder tem responsabilidade pelo comportamento dos seus representantes locais, é um dever do governo fazer respeitar os direitos fundamentais consagrados na Constituição incluindo a liberdade de expressão e a liberdade de reunião. O governo não se devia escudar, como as vezes faz, escudando-se atrás de desculpas de que nada pode fazer contra ressentimentos de uma parte da população contra a UNITA devido aos traumas da guerra civil. A última guerra acabou há nove anos agora o governo tem o dever de fazer respeitar a lei.

NI: Pode se dizer que depois da guerra houve reconciliação?

LR: Houve reconciliação provavelmente nas zonas urbanas, mas como disse casos de conflito acontecem mais nas zonas rurais onde há muita pobreza, e naturalmente há uma série de conflitos de terras que as vezes se misturam, por isso dizia que nunca se pode afirmar categoricamente que este ou outro caso tem contornos políticos a partida, o importante é estabelecer os factos e para isso a polícia devia agir tal como os partidos políticos envolvidos ao responsabilizar os seus militantes. A igreja católica antes das últimas eleições em 2008 tem feito congressos pró-paz, de reconciliação, onde delegações da justiça e paz se deslocavam para as zonas mais afectadas pela guerra civil, não sabemos se ela continua a exercer a sua actividade. Mas pensamos que só pelo facto de não ter havido graves incidentes durante a campanha eleitoral, não podemos dizer se estes problemas estão resolvidos e como temos eleições a vista para 2012 seria importante continuar essas actividades pela sociedade civil. Infelizmente, como temos ouvido, muitos doadores internacionais já não apoiam este tipo de actividades pela percepção de que já não é necessário, mas acreditamos que é necessário sobretudo com vista as próximas eleições.

der Ausländer

Onde vivo tenho de mostrar o bilhete de autocarro ao motorista depois das vinte e uma horas, isso significa que só posso entrar pela porta de frente. Hoje as vinte horas e cinquenta minutos ia eu entrar pela porta de trás, mas só o pude fazer pela porta de frente, estranhei mas não me encomodei. Na paragem a seguir entraram dois jovens estrangeiros que cumprimentaram efusivamente o motorista numa língua que não era a local e com aperto de mão, esse era o bilhete de autocarro, pois o convencional bilhete não foi exibido. E quando os jovens, supostamente, estrangeiros chegaram ao seu destino sairam do autocarro pela porta de trás e voltaram a entrar pela de frente para se despedirem do motorista carinhosamente com dois beijinhos.
Se fosse na minha terra natal nunca merecereia uma observação da minha parte e muito menos um post... saberia entender, porque é assim que funciona no meu mundo, não delimiatção de fronteiras ao extermo
Mas não deixo de imaginar o que pensam os nativos do lugar onde vivo sobre este tipo de comportamento...

Cupido capitalista

"Momento de consolidar laços de amor" é o titulo de um artigo publicado num jornal on-line moçambicano a propósito do dia dos namorados. Pode até ser isso, mas existe o outro lado... No meu país é o dia em que os casais que não andam de mãos dadas com frequência o fazem, que não trocam flores o fazem, e por ai a fora. Por isso esse São Valentim deveria visitar-nos pelo menos uma vez em cada três meses...
Também é, para alguns, o momento que tem para mostrar que não ficaram de fora da comemoração... por isso tem de exibir o companheiro, a rosa vermelha, comprar o perfume e fazer o restaurante faturar a sério nesse dia, é principalmente o negócio do coração vermelho, é o dia em que o cupido capitalista fura, ou metralha, com as suas potentes flechas as bolsas de qualquer um...
Agora, se esperamos apenas por este dia para renovar os laços de amor, como dá a entender o tal artigo, ou para acender, re-acender ou incendiar o amor, então não há namoro que dure...Até que São Valentim nos visite de novo está tudo em cinzas...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Naguib inova no meio artístico moçambicano


Marcha mundial pela paz em 2009 trouxe Naguib a terras germánicas no final de Novembro de 2008. Em Munique, o conceituado artista plástico moçambicano discutiu aspectos ligados a sua exposição no âmbito do evento, organizado pelo movimento humanista mundial. Mas ele fez outras paragens no velho continente. Naguib em conversa com a DW falou ainda sobre a sua carreira e sobre valores inexistentes em Moçambique, como a cultura democrática aliada a votação. Recordo esta conversa…



Foto: Ismael Miquidade

Naguib: Vou daqui para Lisboa e depois para Luxemburgo e de seguida vou para Munique onde tenho um encontro com uma organização para fazer uma exposição a qual fui convidado porque vai acontecer a marcha mundial para a paz. E tenho um compromisso de fazer parte da marcha para a paz. Vou para Zurique participar

Nádia Issufo: Fez uma exposição de depois de oito anos de jejum...
Em Moçambique dediquei-me muito ao espaço artístico que era uma espécie de espaço artístico para além disso, tinha a componente de dança, literatura mas infelizmente viveu só dois anos e acabou por morrer. Mas a idéia é transformar esse espaço em arte moderna. O que limitou as exposições dentro de Moçambique, mas criei uma escola de pintura. Criei um grupo de 16 jovens que após a sua formação comigo estamos a fazer murais na cidade de Maputo. E estamos a fyer

NI: Já via que a cidade está muito bonita.Como murais como foi fayer os murais c esses jovens?
N: Foi bom porque foi feito com azulejo, mosaicos, pedras ornamentais e mármore. O sucesso foi tanto que vamos fazer o mesmo trabalho nas províncias, para além dos murais vamos fazer praças dos heróis, estamos a trabalhar num projecto chamado “Água com Dignidade” e queremos transformar esses projectos em obras de arte... forrada com azulejos onde vai jorrar água dos lados.. porque é nas fontenárias que se discutem os problemas, o ponto de captação de água é sempre o ponto de convivência. É muito trabalho que temos pra fazer, os aeroportos de Moçambique convidaram-nos para fazer murais, existe a componente  artísticas dentro dos aeroportos de Maputo, Vilankulo e Pemba, temos trabalho para um dois anos.

A queda cosmetica de Hosni Mubarak

O discurso do presidente do Egipto na sexta-feira era de um homem forte e seguro, ele recordou as suas conquistas e culpou agentes externos pela actual situação do pais. A principio nao podia imaginar que ele fosse renunciar ao cargo, disse ao meus colegas "este homem nao vai sair!"
E momentos antes do pronunciamento de Mubarak, o presidente dos EUA declarou que estava do lado dos jovens egípcios, estas declarações também foram um pouco estranhas afinal a crise era já aguda há muito tempo, faltou nas declarações o carácter contundente e ameaçador, álias faltou as grandes potencias esta sua grande caracterísitica aplicada em momentos de crise.
Vinte e quatro horas depois entra a minha colega pela minha sala a dentro com a boa nova tanto esperada: "Mubarak caiu!". Inacreditavel...  agora o país está a ser governado por um governo de transição militar nomeado pelo "caido" presidente e apoiado pelos EUA. Completa fantochada... parece-me uma artimanha usada para enganar crianças ou adultos emocionados... como quem diz: o vosso problema é Mubarak? Então vamos tira-lo de lá, como se a estes faltasse a consciência do que realmente se passa no país e como funciona o poder. A isto se chama "operação de cosmética" como se diz lá na minha terra, maquilhagem enganadora.
E este governo militar garante agora que vai manter os compromissos assumidos antes pelo prestigiado militar Hosni Mubarak. O Egipto e a Jordania são dos poucos na região que mantem relações de paz com o Israel, Mubarak e o líder muçulmano moderado grande pareceiro do Ocidente. Que grande potência não reconhece o papel de Mubarak na mediação das crises do Médio Oriente? Por isso não são estranhas as palavras da secretária de Estado norte-americana há uns tempos quando disse a imprensa algo como "Mubarak e como parte da minha família..." ou ministro das relações exteriores da Alemanha que há uns tempos se quedou em elogios a Mubarak, o homem que não conhecia a frase "alternância de poder", em suma, não conhecia a democracia. Tal como não é tão estranho hoje essas mesmas potências terem dificuldade em apontar o dedo indicador a Mubarak.
Agora, o terreno naquela região e perigoso. Não estão interessadas as grandes pot~encias em abrir campo para que os grupos extremistas assumam o comando de nada, embora provavelmente seja a chance para o ocidente fazer infiltrar a sua escola de democracia. Estou a espera para ver agora até onde vai o jogo de cintura de quem tem o poder...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Alemanha está sempre em cima do muro?

 Foto: Ismael Miquidade

A chanceler alemã Angela Merkel rejeitou a possibilidade de ter cometido erros há 17 meses atrás quando cerca de 100 pessoas foram mortas, entre civis e Talebans, num ataque aereo das Forças Internacionais de Assistência a Segurança, ISAF, que visava os Talibans no Afeganistão. O ataque, ordenado pelos alemães, e efectuado com aviões norte-americanos, provocou fortes recriminações a Alemanha que trouxeram a tona as acções militares do país durante a segunda guerra mundial.
Este inquérito a Merkel mostra o quanto os alemães são conscientes e intolerantes a irregularidades, e quem precisa de colectar votos para se manter no poder tem de ser correcto e dar satisfações a quem o elege.
Entretanto, este ataque de 4 de Setembro de 2009 deixou bem evidente o calcanhar de Aquiles do país, logo depois do ataque o governo convocou a realização de uma cimeira internacional para debater o assunto e a exigência da Alemanha era: reconstrução! Uma forma de corrigir o seu erro?
Depois disso o ministro da defesa foi forçado a demitir-se pela oposição. O democrata-cristão, Franz-Josef Jung, foi acusado de ter demorado a admitir a existência de vítimas civis. Ele ainda resistiu, mas por pouco tempo. Na Alemanha há dificuldade de se assumir posturas políticas ao nível externo, os governantes estão sempre em cima do muro e quando saltam para um dos lados é sempre com subtileza e muito jogo de cintura. Quando se trata de enviar soldados para o Afeganistão, por exemplo, as ofertas da Alemanha chegam com muita dificuldade, embora sejam apologistas do combate ao terrorismo. 

Quando o assunto é dinheiro tudo muda de figura...
O único momento em que a Alemanha consegue vincar posições é a nível económico e financeiro. Agora com a crise económica e financeira este país se recusou claramente a dar dinheiro a alguns países aflitos da União Europeia. Quando os Estados Unidos da América pressionaram os grandes exportadores mundiais, a Alemanha e a China, a "reduzirem" as suas exportações, o governo de Merkel esteve do lado de "lá" com a China e bateu com o punho na mesa. Uma posição que foi muito aplaudida pela mídia germánica.

Malawi: peidos, gays e moda

Daqui a pouco poderá ser probido ser-se natural no Malawi. Provavelmente peidar em público venha a dar direito a punição por lei. Maldita democracia! Ela é a grande culpada pelo mau cheiro que encomoda a gente de bem no país. Segundo o ministro da Justiça e Assuntos Constitucionais, George Chaponda, "Este hábito não existia nos tempos da ditadura porque os cidadãos temiam as consequências, mas desde que o país abraçou a democracia multipartidária há 16 anos as pessoas começaram a sentir que podem libertar gases em qualquer
lado." Já sabe, se pensar em ir ao Malawi, prepare já o seu stock de rolhas! O governo devia mais é eliminar o feijão da sua dieta alimentar, assim deixam de produzir bom feijão, mas sempre pode substitui-lo pela canabis, que dá mais dinheiro...
Também já ouvi dizer várias vezes que neste país as mulheres não podem se armar em machos e usar calças, e nem em putas e usar mini-saias! E os homens não se podem armar em maricas e deixar crescer o cabelo...
Um homem no Malawi está proibido de ter um coração maior que o normal, onde caibam também homens para além das previstas mulheres. E depois aparece o presidente do país, Bingo Wa Mutharica, armado em Deus a perdoar um casal homossexual, depois de muita pressão internacional. Ler mais em: http://www.publico.pt/Mundo/casal-gay-detido-no-malawi-recebe-perdao-do-presidente_1439614
Este país só não se lembra que é contra-natura abusar dos vizinhos diplomáticos... Como disse um colega: onde já se viu inaugurar um caminho para chegar a estrada principal que passa pela casa do vizinho mas sem  autorização?

Descoberta agradável em momento inoportuno

Cruzamo-nos num momento de algumas aspas na vida, eu e a escrita de Amin Nordine. Conheci a sua Rosa de Xicuachula no dia do seu casamento com a fotografia do Miquidade, aquele casamento perfeito que caiu do plano do ideal para o real, porque os dois são execelentes nas suas artes. Uma pena que o pai da noiva não tenha vivido para assistir a este momento. E fiquei  também com pena que o "operário da poesia" tenha nascido em mim num momento em que fisicamente ele morria, dupla surpresa...

Rosa Xicuachula


Rosa bebeu um nipónico paleio

Aquela amorosa flor de puta

Que era de toda banga maior disputa

Calcinho e meia calcinha em rodeio


Mamava-lhe uma sede abrupta

Quando vinha gingar um passeio

Chulava despida sem receio

Logo entesava nocturna labuta


por Amin Nordine,
“Duas Quadras para Rosa Xicuachula”
Beira/ Setembro/1997

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E foi derramado o copo de água nas Televisões privadas de Moçambique...

Até bem pouco tempo os programas da Igreja Universal do Reino de Deus eram um exclusivo da Televisão Miramar em Moçambique. Eram produtos que serviam de chacota para quem não acreditava nos sermões do bispo Edir Macedo e muito menos respondiam aos pedidos de dizímos dessa igreja. Também as outras televisões privadas não desejavam, de forma nenhuma, "sujar-se" ou "contaminar-se" com tal produto, afinal era a credibilidade dos canais que estaria em causa.
Para o meu espanto esses mesmos canais que faziam de conta que a Igreja Universal do Reino de Deus não existia, transmitem hoje os programas "do copo de água na mão", e em horário quase nobre!  Já vi durante uma manhã vários canais passarem em simultaneo os cultos desta igreja.
Não há alternativa, quer você queira, quer não, tem de "estar com o copo de água na mão" de manhã  (a minha esteticista disse que não há nada mais saudável do que dois copos de água logo de manhã, portanto que dupliquem os programas de Edir Macedo em nome da sáude, pelo menos). Mas não está mau de todo, sempre resta a TVM, a Televisão Pública de Moçambique, que ainda resiste graças aos contribuintes!
Nisto tudo há ainda outro fenómeno interessante, é que a Miramar, segundo alguns moçambicanos, se está a profissonalizar. E parece também que se está a "limpar" "sujando" a concorrência com os programas que lhe deram a péssima fama.
Caso para lembrar aquela velha pergunta: o que o dinheiro não faz, não é?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A (in)dependência no Sudão

Quase todos os sudaneses votaram pela autodeterminação do sul do Sudão. O sul, que é rico em recursos naturais, tem motivos para festejar pela vitória. Entretanto, as infraestruturas de que depende para que os benefícios dos seus recursos sejam sentidos nas suas vidas estão no norte. O mais novo país do mundo já sabe com quem quer fazer parcerias nesse sentido, com o Quénia. Quais serão os custos de ir para tão longe? Porque deixa de fazer uma pareceria "consigo" mesmo para fazer com o seu irmão? É bom ter irmãos, mas primeiro temos que nos tolerar dentro da nossa casa, ou com os nossos "ex-eus". De onde começa a boa vizinha? Na tolerancia... Será este um bom começo de relações ou apenas a continuidade da crise?

Corredores complexos ou labirintos?

Que cenários a Africa Austral, e Moçambique em particular, pode assistir por causa dos corredores ferroviários da Beira e de Nacala? Sob o ponto de vista diplomático já há alguma tensão entre vizinhos, sob o ponto de vista económico também já há um braço de ferro que pode comprometer grandes projectos. O economista moçambicano Luís Magaço fala sobre as dinámicas destes importantes meios de escoamento de mercadoria a Deutsche Welle, numa conversa com Nádia Issufo.


Foto: Ismael Miquidade



Nádia Issufo: O Malawi depende dos corredores moçambicanos de Nacala e a linha de Sena, que não estão ainda a operar, para escoar os seus produtos.  Sendo assim, acha legítima esta vontade do Malawi de usar o rio Chire para escoar e receber as suas mercadorias ?
Luís Magaço: Eu acho que não, o rio Chire que depois atravessa Moçambique através do rio Zambeze, é um rio que está sob a soberania do governo moçambicano, portanto o Malawi não tem a legitimidade para usar a rota até ao Índico sem ter  por nuencia do governo moçambicano o troço que envolve a República de Moçambique.

NI: Economicamente o que significaria para Moçambique perder o Malawi como utilizador dos seus portos?
LM: Qualquer comercial que deixar de usar os nossos portos, assim como vê o caso do Zimbabwe cuja a situação económica condiciona imenso a utilização e a viabilização do porto da Beira, qualquer parceiro que deixe de usar os nossos portos tem um impacto económico e financeiro sobretudo signficativo, não há dúvidas. Agora, não se faz uma parceria comercial a qualquer preço, o governo moçambicano está a condicionar a viabilização do projecto a partir de um estudo ambiental, penso que há razões mais do que suficientes para que o governo do Malawi aguarde  pelos resultados do estudo por forma a tomar as decisões de utilização do rio.

NI: Então não se pode dizer que Moçambique está a "encurralar" o Malawi?
LM: Eu não diria isso, eu diria que houve da parte do Malawi um pouco a ingenuidade ou a arrogância  de tentar abusar do teritório da República de Moçambique e o governo moçambicano está a mostrar o que realmente pode, impedindo que o rio seja utilizado como via de escoamento do produto malawiano. Claro que isto é uma moeda com duas faces, em relação ao rio nós podemos inviabilizar o projecto malawiano, mas o Malawi  também pode inviabilizar o projecto de escoamento de  carvão através de Nacala, e pelo que oiço o Malawi não está  a facilitar a viazbilização da construção de uma linha ferrea através do seu território. É verdade que ainda é possível para Moçambique encontrar uma via alternativa, a via Dona Ana-Sena, e depois subir entre lagos, mas é uma via mais longa e mais dispendiosa.

NI: Moçambique poderá ceder face a essa posição do Malawi?
LM:  Em democracia há de facto um jogo de oportunidades, um jogo temporal. A seu tempo eu penso que os dois se vão entender e que o governo moçambicano vai viabilizar o escoamento do comércio externo do Malawi e este por sua vez vizbilizar a construção da linha ferrea para Nacala através do seu teritório. Eu penso que a seu tempo isso irá acontecer porque o braço de ferro não favorece as duas partes.

NI: A pressão que os CFM está a fazer a empresa indiana responsável pela linha de Sena e também a abertura da ponte Samora Machel em Tete será uma tentativa do governo de Moçambique de aliviar o Malawi que está com dificuldades de escoar e receber as suas mercadorias e ao mesmo tempo dar uma maior abertura para uma maior negociação no caso do corredor de Nacala?
LM: Nós vamos assistir nos próximos tempos a várias dinámicas económicas na região centro e em particular naquele eixo entre Tete, Nacala e o Oceano Índico, vamos ouvir falar de uma forte dinámica de interesses. Agora estamos a ouvir falar de empresas canadianas a anunciarem a descoberta de vários minérios na região de Tete, o interesse da Zâmbia pela utilização do porto da Beira, essa quase obsessão do Malawi pelo escoamento da sua produção. Cada uma das partes vai querer tirar o seu próprio proveito. Neste momento o braço de ferro entre Moçambique e o Malawi não favorece aos dois, porque nós perdemos com a não construção da linha ferrea e o Malawi perde com a não utilização do rio Zambeze.
Há uma parte signficativa do comércio externo do Malawi que é feita via Tanzânia e oMalawi durante muitos anos optou pelo porto de Durban ao invés de utilizar o porto da Beira. Entpa, em determinados momentos os países da região, neste caso o Malawi, tem adoptado estratégias diferenciadas para contornar algumas dificuldades. É uma grande verdade que o normal funcionamneto da ponte Samora Machel vai aliviar imenso o sufoco do Malawi no escoamento da sua produção. Quanto a empresa indiana, toda a gente estava impaciente porque nunca mais eles conluem o projecto para Moatize e isso pode comprometer os planos de exportação da Vale  e da Riversdale.

NI: Este consórcio indiano, para além do atraso na conclusão da linha de Sena mantém uma relação difícil com a Vale que quer escoar o seu carvão. Agora a emprsa brasileira vai acções no Corredor do Nacala por onde deverá escoar também o seu carvão. Quais são as implicações disto tudo?
LM: Para já pelo que me consta os indianos são uma carta fora do baralho, os CFM vão assumir a responsabilidade pela construção da linha, eu julgo que vão contratar outra empresa. O corredor da Beira continua a ser o troço mais curto a partir de Tete, a dificuldade tem a ver com o porto da Beira, mas penso que isso está equacionado, a Emodraga tem contratado dragas japonesas para fazer o assoreamento. Mesmo que a Vale conclua a linha de Nacala  vai continuar a exportar de forma mais barata a partir da Beira.

NI: Mas há vantagens para o país se a Vale tem comparticipação numa empresa que escoa o seu próprio produto?
LM: A Vale tem a sua própria rede  ferroviária, eu acho que o país tem a vantagem neste emprendimento se conseguir assegurar do consórcio que constrói a linha ferrea que Moçambique continuará a usar a mesma linha ferrea para o transporte de passageiros e de outras mercadorias para outros destinos, ou seja, desde que não seja privado.

NI: O que se pode esperar com estas dinámicas todas nos corredores de Nacala e da Beira?
LM: Primeiro que deixemos das guerras psicológicas, verbais e retaliações  através da imprensa e passemos a acção e coloquemos  as linhas ferreas a funcionarem para o desenvolvimento dos corredores, que estes sejam mais de desenvolvimento do que de transporte. Que ao longo das linhas ferreas se desenvolvam outros empreendimentos que favoreçam o país, e também neste caso o Malawi, e com isso se gere emprego.

NI: O porto de Nacala está muito bem localizado, existem naquela região empresas a fazerem prospecção de hidrocarbonetos, o projecto de areias pesadas também está próximo, prevê-se ainda a construção de um porto petrolífero, a região de Nacala também é industrial, para além de constituir um porto para o Interland, para o carvão de Tete e muitas outras coisas. Como enquadra este porto tomando em conta todos estes factores para o desenvolvimento de Moçambique?
LM: Ainda bem que temos um projecto ancôra para redinamizar o porto de Nacala. Ainda bem que temos um gigante mundial interessado em explorar uma linha ferrea que liga este porto, ouvi dizer que irão passar por dia, de Moatize para Nacala, 17 comboios e 118 carruagens por dia, isto é muito. Vai significar uma total mudança em toda a perspectiva de vida daquela zona, penso que tudo isto vai empregar uma novo valor ao porto de Nacala e atribuir-lhe a capacidade e a robustez necessária de um porto a altura do seu potencial. E isso será, para mim, um grande ganho numa altura em que se está já a transformar o aeroporto militar de Nacala num aeroporto internacional e civil. Isso significa que Nacala vai se tornar um entreposto importantíssimo da região centro e norte de Moçambique.  

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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Magrebe: quedas (anti)democráticas?

Está todo mundo a espera que o presidente Hosni Mubarak saia do poder, ou caia, como muitos dizem. Só me custa a entender como se usa a justificativa da democracia (principalmente a comunidade internacional) para que o homem "caia", se ele foi eleito democraticamente... pela lógica não se está a respeitar a democracia, o homem termina o seu mandato já em Agosto. Entretanto, a democracia popular exige que o Mubarak caia. Tudo isto é um paradoxo, que democracia é a legitima? É a prescrição ou a vontade?
Outra coisa, ouvi uma pessoa desconfiar que ele "caia" a francesa. Como que queria que ele saisse? Como um fugitivo?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O crude causa cegueira?

O presidente da Guiné Equatorial é agora o presidente da União Africana, uma designação que é legitimada pelas regras da organização. Entretanto, a comunidade internacional está num zun-zun-zun, com a designação porque Teodoro Obiang não dá oportunidade aos direitos humanos no seu país, para além de que está no poder há bastante tempo, desde 1979 através de um golpe de Estado, e segundo as regras democráticas, não há alternância de poder. Mas o país de Obiang é o terceiro maior produtor de crude de África, e os principais compradores do produto, principais apologistas do respeito de direitos humanos e democracia, parece que foram cegados pelo expesso preto do crude e a sua voz só tem expressão na boca de outros, no caso através de ONGs. Por sua vez, estas ONGs que tem consciência desta cegueira e mudez, já reagiram, de acordo com a  Human Rights Watch  "Os principais países africanos produtores de petróleo escapam às críticas da comunidade internacional, apesar das suas práticas repressivas e de corrupção generalizada", esta é uma  conclusão da organização apresentada no seu relatório anual publicado no último dia 24. Ainda de acordo com o relatório "Washington, cujas empresas dominam o sector petrolífero, limitou-se a "tomar algumas medidas" contra o regime do Presidente Teodoro Obiang Nguema, enquanto a antiga potência colonial espanhola "recusou aplicar qualquer sanção" contra o país."
A Alemanha, outro país defensor das liberdades, tem também uma postura dúbia neste ponto, pois quando empresários seus vão a Guiné Equatorial procurar oportunidades de negócios, tem a imprensa alemã que é o seu cartão de visitas a acompanhar essas viagens.
E se por um acaso acontecer um golpe de Estado na Guiné Equatorial, estes mesmos pareceiros comerciais cegos, ganham magicamente a capacidade de visão e soltam a língua, calculo eu. Vão se lembrar de todas as irregularidades subjacentes a produção de petróleo, menos a sua comparticipação nelas, claro! Vão içar a suas bandeiras de democracia e direitos humanos por cima do defunto presidente...