sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Me espreitando de fora...

Durante a minha infância brinquei muito nos parques infantis da cidade de Maputo. Aos domingos se não era matiné, então era parque. Durante a minha adolescência vi esses locais a degradarem-se e abandonados praticamente. Na minha fase adulta vejo esses parques serem entregues a privados, ou vejo darem autorização a privados para que instalem lá os seu negócios, desde restaurantes a escolas privadas (desconheço os moldes de concessão). Os lugares hoje estão mesmo muito bonitos, com relva bem cuidada, plantas, bancos, etc. A primeira é de congratular o responsável por tal mudança. E eu faço parte do grupo de pessoas que frequenta(va) com gosto esses lugares com familiares e amigos. Só que descobri que estar dentro de um sistema não nos permite algumas vezes ver com claridade as suas partes boas e más. Se todo o mundo sabe disso, e eu também, porque algum estudioso já disse, surpreendente mesmo é ver essa teoria se materializar no nosso mundo. E ai o choque é brutal...
Hoje me pergunto, onde brincaram as crianças de Maputo quando eu era adolescente, e onde brincam as crianças de agora?
As de classe média e alta eu sei que vão ao jardim dos namorados, talvez ao jardim Dona Berta, mas e as "desclassificadas"? Certamente alguém me dirá que não existe uma probição ao uso dos parques. Mas eu me perguntaria até que ponto estes sofisticados restaurantes não constituem um factor "inibidor" ou uma "limitante"?
Que tipo de "Apartheid" se está a criar no seio dos moçambicanos, e principalmente, o que se está a semear em Moçambique com todas esta gestão de parques "frutifera"?
Esta situação faz-me lembrar relatos da História de Moçambique que não vivi, mas que oiço contar até hoje, que durante o tempo colonial os moçambicanos negros não podiam ir a restaurante e outros lugares frequentado por brancos. Na altura era a côr de pele, principalmente? (discutível...), o factor "limitador" . E hoje qual é o factor "separador"?
Chama-se dinheiro?
Tanto se enche a boca em Moçambique para falar da conquista da independência, há trinta e cinco anos, mas com esta situação só posso pensar que a mesma foi apenas para uma meia duzia de nacionais.
E posso pensar que a luta pela independência deve ser continuada porque a discriminação continua a ser alimentada. Só que desta vez é por moçambicanos mesmo, não há mais colonialistas (teoricamente) para assumirem as culpas.
Devo dizer que hoje sinto-me constrangida por frequentar esses parques...
E a senhora consciência só bateu a minha porta no dia 1 de Junho de 2008, o dia internacional da criança, quando fui brincar com os meus sobrinhos (esses de classe média) no jardim dos namorados e reparei no "tipo" de crianças que lá estavam.
E alguém me pode dizer como nascem os bandidos armados???

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