terça-feira, 30 de março de 2010

Filhos: da machamba ao dinheiro dos contribuintes

A minha amiga X que vive na Alemanha e o seu irmão visitaram um casal alemão com dois filhos e um terceiro a caminho. Ela já bem gravidíssima, como me contou a X, preparou um lanche para as suas visitas, mas faltou leite e o marido refasteladissímo informou a mulher que faltava a coisa da vaca na mesa. A gravidissima lá se arrastou mais o seu ingénuo acompanhante para a cozinha. Enquanto isso os outros dois ingénuos pulavam e tomavam conta da casa sem que um general pusesse ordem, estava descartada a possibilidade da "generala" fazer muito. Mas esta ainda conseguia cumprir ordens do seu "general" que a mandou buscar a coisa da vaca... (Depois o mundo lembra-se sempre dos africanos quando se ouvem estas histórias...)
O general, ora sim, ora não, falava com os seus convidados sobre as banalidades da vida e segundo X pretende viver uns tempos sem trabalhar (não interessa porque) mas vai receber, de certeza, dinheiro suficiente do Estado alemão para viver a custa de uma tropa que esta a trazer ao mundo, e que não comanda, com a ajuda de uma "generala" actualmente na "reserva". Na reserva não, na verdade no activo! Porra pá!! Em que situação cada um é general ou não é? "Você Decide" como faz a Globo!!!
Continuando, fonte de rendimentos desta família está garantida. Os putos são a garantia de sobrivência dos pais, na verdade eles podiam ser os "generais"... Com uma organização para nenhum "alemão" tirar defeito o Estado alemão, e outros desenvolvidos, tem tudo em ordem para proporcionar este tipo de situação aos seus. O dinheiro vem dos que pagam altas taxas de impostos. E ainda por cima incentivam a natalidade com a atribuição de subsídios.
E em África, serão as coisas diferentes? Sim, muito! Mas só numa única coisa é igual: os filhos ainda são tidos, em muitos casos, como fontes de rendimentos. Umas vezes como mão de obra barata nas machambas, outras como vendedores de rua, ou através de lobolos, etc. Só diferem nos modelos organizativos, nos sistemas, etc... No resto é bem igual!
É engraçado como cada um materializa a celebre frase "os filhos são uma riqueza", frase, álias, que se encontra na Biblia num lugar que ainda não localizei. Consoante a situação de cada família eles podem ser mesmo uma "riqueza".
Aquele que não é burro mesmo sabe bem disso, deixa para segundo plano, se é que deixa para algum plano, a interpretação espiritual...
(Está meio maltratado o assunto, mas já estou cansada.... cuido dele melhor depois!)

Passando a batata quente para outras mãos...

Depois de algumas grandes potencias terem tentado tomar conta da "situação" no Afeganistão chegou a hora de devolver o brinquedo aos donos. Ele não é de fácil manuseamento. Os chefes da diplomacia do G-8, que estiveram em Otava, no Canada,  a preparar a cimeira de chefes de Estado do grupo que acontece em Muskoka, Ontário, a 25 e 26 de Junho próximo, exigiram ao Presidente afegão, Hamid Karzai, mais empenho na luta contra o tráfico de drogas e a corrupção. E lista de exigências de algumas dssas potências, que foram para o Afeganistão combater a fonte do terrorismo, engorda a cada dia. A Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e a Rússia, solicitaram uma estratégia urgente para que as forças policiais e o exército afegãos assumam a segurança do país.
Já nos últimos tempos esses grandes países tem mostrado uma falta de vontade de enviar homens para o terreno dos Talibãs, e da Al-Qaeda. Entre os grandes há divergências, enquanto os EUA continuam a liderar a turma vestindo uma camisa que já é um farrapo, os seus apoiantes, quase agem como desertores. Motivos domésticos em alguns casos, noutros, outros... Será que há um assumir "implicito" de uma derrota nesta guerra? Ou mudança de estratégia?
No caso da Alemanha, país que considero fazer a política de "cima do muro", uns podem diplomaticamente chamar de cauteloso ou ponderado, acho mesmo que se comporta como um...
Nos finais do ano passado os seus rapazes bombarderam civis no Afeganistão. Sob o ponto de vista doméstico foi mau, porque o seu povo, na maioria, é contra actos desta natureza. Logo, é mau para o actual governo, que corre o risco de se ferrar em próximas corridas, e depois sofre forte pressão da oposição que não se limita a fazer acusações mas também a prova-las. Sendo assim, o país e os seus parceiros apressaram-se a marcar uma cimeira extra-ordinária para discutir a situação do Afeganistão em Janeiro último. E os alemães para tentarem tapar o "buraco" que fizeram impuseram a "reconstrução" do Afeganistão como um dos temas centrais do grande encontro. É a lavagem da consciência própria que já carrega um peso que tempo nenhum conseguira descarregar.
É preciso tapar o buraco, se não com vidas humanas, pode ser com dinheiro mesmo...
E não pude de deixar de ligar este assunto a frase do livro "Descascando a cebola" do escritor polaco/alemão Günter Grass: "Uma palavra puxa a outra, Schulden e Schuld, dívidas e culpas. Duas palavras tão próximas  uma da outra, tão firmemente enraizadas no solo fértil da língua alemã, apesar de se conseguir resolver a primeira, atenuando-a, através de pagamento..."  pp.33
Um tema que merece certamente ser visto através de outras "objectivas" mas...


Para ouvir uma peça sobre o encontro em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html  selecione a emissão da noite do dia 30 de Março

A flor amarela



O Carlos disse-me que sempre sabe quando a Primavera anuncia a sua chegada, é com o despontar de umas determinadas pequenas flores amarelas. Mas antes a Bettina me tinha dito que sabia que ela estava a porta porque já ouvia o cantar dos pássaros. Mas esta "despassarada" não tinha visto e nem escutado nada... Não que estivesse a espera que a sociedade onde vive desse as boas vindas a essa tal "Prima" com a mudança de horário no dia 20 de Março. Coisa que não acontece na minha terra, ninguém muda a natureza, desculpem-me, queria dizer a hora... E também não há data que marque a mudança de estação, só vamos sentido as mudanças e pronto! Por exemplo, no fim do verão costuma fazer um intenso calor e as pessoas dizem "o verão está a acabar..." E no inverno a mesma coisa. Pelo menos durante uma vida, ouvi coisas  semelhantes a estas, outros indicadores! Acredito que existam outros sinais, mas não me marcaram.
Ainda "briolava" feio e os meus amigos dos trópicos que vivem no Hemisferio Norte já se imaginavam no verão e planeavam as suas vidas. Foi uma choradeira diária por causa do frio (com motivos)... Acho que por isso estas pessoas, tem os "sensores" a funcionarem de outra forma, mais plenamente...
Os meus sensores fucionam mais para o "tato", ou primeiro ai...  sentir que o sol me visita com mais frequência, com uma duração mais longa, com efeito real... Ou quando já não sou obrigada a sentir-me demasiado gorda por causa do excesso de roupas...
Depois, os restantes sentidos despertam...
A sobrevivência, a adaptação...
E viva a "Primavera boreal"

Ladrão rouba alguns polícias...


Em Nampula, Moçambique, ladrão roubou carro da polícia e alguns homens da "lei e ordem" que estavam guardados no seu interior... Não é mentira, dia 1 de Abril é só na quinta-feira! Nem é ensaio, tomara que fosse... Cenas dignas de um filme de Hollywood... Se os grandes realizadores tivessem conhecimento dessas cenas, excusavam-se de "se bater as cabeças" para inventar histórias que não chegam aos calcanhares de algumas reais... Eu até me voluntario para vender este potencial moçambicano... Numa altura em que o empreendedorismo é assunto muito em voga em Moçambique, até posso candidatar-me a um desses concursos promovidas no âmbito das "responsabilidades sociais" que também entraram para o país.
Não falta muito para que roubem Moçambique do mapa mundo, já que o país em si está a ser subtraido, a começar por quem supostamente nos deveria defender dos ladrões...


Veja a notícia em: http://www.verdade.co.mz/destaques/nacional/roubaram-carro-da-policia-com-agentes-armados-no-interior.html

domingo, 28 de março de 2010

As duas, ou três, gotas no Oceano que fizeram a diferença

23:09, entro no machimbombo já com o cartão na mão, como faço automaticamente todos os dias depois das 21 horas. Já estou a espera que o motorista quase nem se digne a olhar para o meu cartão, quanto mais para a minha cara. Mas eu sempre olho para o motorista, que quase sempre nessa altura está atarefado a mudar ou mexer alguma coisa, ou a fingir que o faz... Talvez para não olhar para mais uma cara desta vida e ser obrigado a sorrir...  Mas desta vez enganei-me! Tenho um agradável surpresa: é o motorista indiano!!! E oiço-o dizer "Aufwiedersehen", até imagino a cara dos que saem pela segunda porta, devem estar com os marfins de fora. Afinal já não os posso ver... E sou de seguida simpaticamente saudada com um "Guten Abend" e eu já estou de antemão, ou melhor, de "antelábios" (desculpe, sim?) com um sorriso a espera de algo agradável.
E o machimbombo segue viagem.  "Nächste Haltestelle" e encontramos um casal de jovens sentados a espera de um machimbombo que não era o 605. O indiano mete conversa com ela, convida-a para entrar no seu "antro" de simpatia e continua o bla bla numa língua que não domino, mas pelo sorriso deles vejo que a conversa está divertida. O que percebi do final do diálogo foi o indiano perguntar. "Heute nicht?" e ela: "Nein..." e continuamos a tachar estrada. Eu sempre bem disposta e sabia que, tal como eu, os outros dois únicos passageiros estavam a gostar das saídas daquele indiano e se riam.  Eu já tinha ganho o dia por ser "guiada" por aquela simpatia.
"Nächste Haltestelle": desta vez o casal de jovens que lá estava entra sem nenhum apelo mais carinhoso do indiano.  Como sempre, ele mete conversa. E eu, bisbilhoteira, estou com as antenas prontas para ouvir tudo... Só que sou um desastre nesta língua, e em  todas outras, que só captei uma parte... Merda! E eles conversam e riem-se e eu também, pelo menos eu posso fazer isso... E a única coisa que percebi foi a resposta final dela: "emancipation!". Neste lugar depois das 21 horas um passageiro com "jobticket" pode levar um acompanhante sem que este pague, é mahala, só tem de mostrar o dito "jobticket" ao motorista e falar ou então gesticular... E a senhorita tinha como acompanhante um "senhorito", portanto, eu já imaginei o contúdo da conversa...
E fomos parando em mais "Haltestelles" e tristemente chegou a minha vez de sair daquele "antro"... Oiço aquela máquina falante dizer: "Nonnstrasse". Deketo o botão, levanto-me do banco e aproximo-me da porta cheia de confiança: ele vai me dizer qualquer coisa!!! E tchan! Ele fala ao microfone (o único que sabe fazer uso deste especial instrumento nos machimbombos deste lugar...), diz: "Guten Abend Schone Frauen, Aufwiedersehen". Eu alargo o meu sorriso e sem falsas modestias sinto-me realmente linda, só por causa daquela doçura de motorista. Caminho para o meu gelado apartamento sentido-me extraordinariamente bem. E eu sei que a outra passageira também sentiu o mesmo porque quando saimos daquele "antro" trocamos olhares cumplices...
Era a segunda vez, ou terceira, que aquela benção da terra de Ghandi (talvez até nem é, mas foi o que me interessou assumir...) me calhava neste terra. E lembrei-me da frase "uma gota no Ocenao faz a diferença" ou algo igual. E valorizei-a.
Obrigada Meu Deus.

sexta-feira, 19 de março de 2010

As soluções drásticas de Muammar Kadafi para a Nigéria...

O presidente da Libia propos uma divisão da Nigéria em duas partes, devido os confrontos étnicos e religiosos que se vivem no país. Os muçulmanos do norte e os cristão do sul tem tratado de se "acabar" em Jos no Estado do Plateau. Quem não gostou nada da ideia  foi o governo nigeriano que mandou chamar o embaixador libio para consultas sobre o discurso de Kadafi. As autoridade da Nigéria consideraram de irresponsável o discurso do presidente libio. O representante do governo libio foi expulso da Nigéria.
Agora também me pergunto: que consequências uma afirmação deste tipo pode causar? Já sem discursos desses, proferido pela boca de um lider que tem os seus seguidores, há banhos de sangue, com isto o que se pode esperar? Há quem possa encontrar legitimidade nessas palavras e actuar, entre população ignorante  e oportunistas. E quem sabe não causará o chamado efeito dominó na região que vive graves problemas étnicos?
Não pode um discurso deste acender o rastilho de polvora? Na verdade não, porque já esta acesso... Mas poderá equiparar-se a uma bomba qualquer...
Acredito que não se pode pedir responsabilidade no modo de pensar, mas na materialização do pensamento pode haver mais cuidado, ponderação, responsabilidade, por mais justa que seja a causa...
E diz meio mundo, incluindo eu, que Kadafi é louco... algumas vezes sim, mas noutras transcende os limites da loucura....

quinta-feira, 18 de março de 2010

Lucrecia Paco: Há uma banalização do sexo nas campanhas contra o Sida em Moçambique

Para além dos habituais técnicos de saúde, dirigentes políticos e ONGs, participam no III Congresso sobre o SIDA da CPLP, que decorre em Lisboa desde a última quarta-feira, artistas dos países lusofonos, numa iniciativa pouco comum. Mas qual o contributo que as vedetas da CPLP podem dar no combate a doença? Nádia Issufo conversou com Lucrécia Paco e Stewart Sukuma de Moçambique para saber o que levam para o encontro.

Nádia Issufo: O que levas para a III Congresso da CPLP sobre o SIDA?
Lucrecia Paco: Eu levo como proposta uma maior participação do governo na definição de políticas, estratégias de comunicação e divulgação sobre HIV-SIDA e que haja um maior controlo sobre a publicidade e marketing que se tem feito em volta disso. Tem havido uma violação dos direitos humanos sobre a pertença cultural. Por exemplo, é comum vermos uma discriminação de grupos sociais. Vou apontar o caso do mineiro, é verdade que o mineiro pertence a um grupo alvo, mas a partir do momento em que há esta relação directa mineiro e sida numa publicidade está a haver uma discriminação, isto falando da discriminação. No caso do marketing prende -se a caso de preservativos de distribuição grátis, é o caso jeito, então ai banaliza-se a sexualidade, é como se bastasse ter preservativo para ter uma relação, não há um cuidado, não há valorização do corpo da mulher. Então, a relação saudável entre homem e mulher vai ficando para trás, não há mensagem do amor, de valorização do corpo por parte da mulher e do próprio homem. Falo que faço, não dizemos não usa o preservativo, mas sim usa o preservativos mas aconselhamos também a um dialogo. Num casal, tu sabes que a mulher é acusada de ser frigida, não existe um dialogo, o homem parte e vai para fora.

NI: Tu como actriz como achas que é abordado o SIDA no mundo das artes em Moçambique?
LP: Há uma banalização do sexo. Eu como artista vou propor outra abordagem.
Nós temos praticas tradicionais que defendem o encesto, o kutxinga, hábitos culturais que logo a partida tem implicações e consequências graves na propagação do vírus. Abordamos o SIDA buscando aspectos positivos e negativos da cultura. Não nos restringimos a dizer “use o preservativo”, não olhamos para o assunto como SIDA igual à morte. Tem de haver mais intervenção, mais controle mais censura nos trabalhos que são feitos.

Pode ouvir uma peça sobre o assunto em: 
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html

quarta-feira, 17 de março de 2010

Stewart Sukuma: Em Moçambique demorou a surgir estratégia eficaz de combate ao SIDA


Stewart Sukuma é outra vedeta moçambicana que leva o seu contributo para a terceira Conferência do Sida da CPLP. O músico em conversa com a Deutsche Welle, a Rádio Internacional da Alemanha, destacou o estatuto de celebridade como arma de campanha para enfrentar a doença que afecta cerca de 16% da populção do seu país. Mas Sukuma também reconheceu a existência de controversia nalguns campos de combate ao SIDA...

Nádia Issufo: O que levas para a III Congresso da CPLP sobre o SIDA?
Stewart Sukuma: A minha apresentação vai ser baseada nas minhas experiências em Moçambique na luta contra o HIV-SIDA e as minhas experiências tem sido em escolas e em comunidades a fazer workshops e trabalho essencialmente com crianças e adolescente no sentido de sensibilizar. Os artistas têm neste contexto um papel crucial e nós podemos contribuir emprestando a nossa imagem, a nossa voz, a nossa arte para a sensibilização como forma de melhorarem a vida. O estatuto de celebridade que temos dá-nos um notável poder de influenciar os adolescentes como modelos para que eles adoptem comportamentos sociais saudáveis. Então, este sentido de sensibilização que os artistas tem é uma arma muito forte, acho que como comunicadores natos temos essa responsabilidade.

NI: Qual o titulo da tua apresentação?
SS: "construindo um sonho" em audiovisual de três a quatro minutos onde mostro imagens das minhas incursões e palestras por bairros e escolas em Maputo.

NI: Qual é tua opinião sobre a abordagem do sida em Moçambique pelos artistas e não só?
SS: Essa área é muito controversa, gostaria de fazer um abordagem não são pelo mundo dos artistas mas também pelas instituições que lutam contra o SIDA, pela sociedade civil e pelos próprios artistas. Demorou muito até que as instituições desenhassem uma estratégia eficaz na luta contra a doença e essa idéia é corroborada por muita gente, até pelo próprio CNCS, Conselho Nacional de Combate ao Sida, e eu acho que a função deste organismo seria de coordenação de todas as unidades que combatem a doença.

NI: O que achaste da idéia do governo de incluir artistas na sua comitiva?
SS: Fiquei surpreendido quando recebi o convite mas fiquei feliz porque pela primeira vez recebi um convite oficial do governo para fazer parte de uma delegação e de um assunto tão importante de se discutir onde as decisões a sair deste encontro podem ser cruciais para baixar a prevalência do HIV SIDA em Moçambique.

Pode ouvir uma peça sobre este encontro em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html   selecione a emissão da noite do dia 18 de Março de 2010.
E também a música "wulombE" em:  
http://www.youtube.com/watch?v=ZoU0VJx0tbc&feature=related

Se quiser também pode ver o video apresentado pelo cantor no encontro:  
http://www.youtube.com/watch?v=nvwHvTyY1LI

terça-feira, 16 de março de 2010

Togo: Monarquia democrática?

Gnassingbé Eyadéma dirigiu o Togo durante 38 anos. Faure Gnassingbé, seu filho ocupou a cadeira, por indicação de militares, assim que o seu progenitor morreu a cinco de Fevereiro de 2005. Com as eleições de 4 de Março, o presidente renovou um segundo mandato. Gnassingbé Eyadéma, que foi militar ao serviço da França, chegou ao poder depois de um golpe de Estado em 1967, altura em que acabou com a oposição no país.
Na altura do pai, as eleições tinham lugar, tanto é que Gnassigbe venceu em três presidenciais, mas a bandeira da democracia não era tão visivel como hoje. Tanto é que a força das armas sempre estiveram acima do bem e do mal. Hoje, com eleições ou democracia, a dinastia Gnassingbé ainda tem formas de se perpetuar no poder.
A primeira não dá para prever um golpe de Estado no Togo porque o presidente eleito só está no poder devido ao apoio militar. Se este apoio está em pé, depois de cinco anos, então quem o derrubará do poder? A menos que uma parte dos miliatres esteja descontente.
Por isso talvez este seja um dos raros casos em que a crise não desembocará no golpe. Afinal a oposição togolesa é apenas de consciência. Não tem apoio de quem pode com acção mudar situações...
O pai foi um dos homens que mais tempo ficou no poder no mundo, provavelmente, também, pela forma como conseguiu o poder: através do derrube do poder, forma intimidatória também. 
A lista de golpes de Estado em África é extensa, desde a decada de 60 cerca de 28 derrubes de poder aconteceram. Dez anos depois do florescimento das independências no continente houve um Boom de golpes, mas nada se compara aos finais da decada de 90. Só em 1999 o Niger, Comores, Guiné-Bissau e Costa do Marfim viveram isso.
Mais sobre o assunto para ler em: http://forum.angolaxyami.com/ultimas-noticias-de-africa/10606-golpes-de-estado-praticados-na-africa-dede-1960-terra-noticias.htmlA este período só se compara o tempo em que vivemos com cerca de 4 golpes em cerca de dois anos e meio: Mauritânia, Guiné-Bissau (novamente), Guiné-Conacry e Niger.
Mas o interessante é que parece que os golpes reacendem no mesmo campo da democracia, que está no auge. Nestes casos os intrumentos ao serviço da democracia aparecem como a solução aos golpes de Estado, ou seja, garantem a restituição a ordem anterior. Mas nos casos de perpetuação de dinastias de poder através da democracia não há um antídoto.
Será momento para uma revisão deste conceito ou...

quarta-feira, 10 de março de 2010

G-19 e Governo Moçambicano em discordância



O G-19, o grupo de doadores externos, e o governo de Moçambique estão em rota de colisão. Enquanto isso, o dinheiro que devia ter sido desembolsado em Janeiro último não caiu no cofre moçambicano e isso, obviamente, trará consequências para o país. Os doadores, em Dezembro último,  condicionaram a ajuda em nome de três pontos: a revisão eleitoral, criação de lei de combate a corrupção e a menor influência da Frelimo nas instituições do Estado. Reagindo a estas exigências o governo da Frelimo disse que só o Parlamento pode rever a lei eleitoral. Os doadores, que contribuem com cerca de 50% para o Orçamento de Estado moçambicano, deram, entretanto um ultimato, até meados deste mês ao executivo da Frelimo para se manifestar. Por isso, este ano a transferência poderá ser feita em abril. 
Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiro de Moçambique, Oldemiro Balói, assumiu ontem que há crispação entre as partes, falando a Rádio Moçambique "Infelizmente, para nós, o G19 não é um grupo muito homogéneo. São países que estão unidos num objetivo comum, que é apoiar o OGE, mas com cada umdestes países temos relações bilaterais muito melhores com uns e simplesmente boas com outros"
E sobre este momento de tensão a Deutsche Welle ouviu o economista moçambicano Hélder Chambise que afirma que esta é uma situação caracteristica de um momento negocial. O economista falou ainda sobre possiveis consequências do atraso no desembolso dos fundos por parte dos doadores externos....


Nádia Issufo: O G-19 tarda em desembolsar para o OE. O que isso poderá significar para os planos de desenvolvimento e projectos em curso do governo?
Hélder Chambisse: Primeiro cria problemas de funcionamento do próprio Estado porque o Orçamento é composto por despesas correntes e de investimento. Não havendo desembolso de parte importante de fundos previstos no orçamento naturalmente que as componentes são prejudicadas. Temos prejuízos do ponto de vista do funcionamento do próprio Estado
e temos dificuldades de execução de alguns projectos que são financiados pelo Orçamento de Estado. Há grande parte de projectos que estão por detrás deste crescimento recente do país que são privados, mas estes não serão prejudicados, mas os projectos que tem uma componente do Estado, esses sim poderão ser prejudicados.

NI: Esta instalada a tensão entre as duas partes, o governo e os doadores. Qual poderá ser o resultado desta situação?
HC: Creio que é uma tensão própria de um momento negocial onde cada parte mantem-se firme nas suas posições e nenhuma das partes parece ceder. Mas acredito que é normal esta tensão e ficamos a espera para ver o desfecho. Naturalmente que há contornos que não são do domínio público, mas esperamos que tudo se resolva,  uma vez que o país depende dos fundos dos doadores.

Nádia Issufo: Entretanto, nem todos os doadores querem fechar os cordões as suas bolsas. Portugal é um deles que disse que continuará a ajudar “sem falhas” o OGE. Esta falta de consenso entre os doadores  abre algum espaço de manobra para Moçambique?
Hélder Chambisse: Não tenho pormenores do que se passa nos meandros políticos eventualmente seja uma situação que se repete de ano a ano, onde os doadores colocam determinadas condições. O que sucede e que  desta vez  houve eleições marcadas por querelas entre as partes envolvidas, os doadores usam isso para forçar alguma celeridade nas reformas, nas alterações do quadro legal das eleições. Mas é uma situação que joga a favor de Moçambique, o facto de haver doadores dispostos a continuar a ajudar incondicionalmente, mas também da parte dos doadores querem forçar a celeridade nas reformas que julgam necessárias. Infelizmente ocorre tudo numa altura em que há um novo governo, estamos nos princípios do ano e é necessário ter o Orçamento aprovado, já estamos no final do primeiro trimestre e ainda não temos orçamento com fundo garantidos. Portanto, é uma situação delicada que nesse aspecto joga a desfavor de Moçambique mas o facto de haver doadores dispostos a ajudar Moçambique é uma situação positiva, é uma luz no fundo do túnel.


NI: Mas os PAPs, Parceiros de Apoio Programático, se comprometeram em Setembro último a injectar dinheiro no Orçamento. Será possível haver um recuo depois da palavra dada?
HC: Creio que recuo não será. Trata-se um momento próprio em qualquer negociação. Os doadores sempre insistiram que a velocidade das reformas, principalmente no judicial, e também na forma como os processos eleitorais são conduzidos não satisfazia os doadores. Eles não estavam satisfeitos com essa situação e pretendiam dar um ímpeto maior as reformas. Estão a usar isso como um factor de pressão ao governo de forma a acelerar as reformas e ter resultados positivos de forma imediata. Não será um recuo, mas sim um condicionamento para que seja dado mais um passo por parte do governo.

Pode ouvir esta entrevista que está em duas partes no seguinte endereço: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
selecione as emissões dos dias 9 e 10 de Março, as duas na noite.



terça-feira, 9 de março de 2010

PARPA: A "shopping list" do governo moçambicano para os doadores financiarem

 O PARPA, o Plano de Acção para a Reducção da Pobreza Absoluta, não passa de uma lista de compras apresentada pelo governo moçambicano aos doadores. Quem assim o diz é o economista moçambicano Lourenço Veniça que questiona mesmo a viabilidade do instrumento nos moldes em que foi concebido. Numa entrevista a Deutsche Welle, a Rádio Internacional da Alemanha, o economista falou mais sobre o principal instrumento do governo moçambicano de combate a pobreza, principalmente do PARPA II que expirou no último ano.



Nádia Issufo: Pode por favor fazer uma avaliação da implementação do PARPA II que iniciou em 2006 e terminou em 2009?
Lourenço Veniça: Assim como está desenhando não é mais do que uma lista de compras, aquilo que chamamos de shopping list, em que há uma série de actvidades apresentada pelos ministérios com uma grande componente de infraestrutura que são apresentadas aos doadores para financiar. Portanto, baseada não na capacidade do país, mas na disponibilidade de doações e sobretudo créditos que o sector externo tem em relação ao país.


NI: Então pode-se dizer que este é um instrumento flutuante?
LV: Exactamente por isso. Uma das grande conclusões de debates internos diz que por essa via não conseguimos sair da dependência. Andamos a fazer planos ambiciosos muitas vezes a depender de fundos externos ou doações de países e organizações ou de doadores não tradicionais como a China. Na minha opinião esta levanta uma questão metodológica fundamental, é se este PARPA, feito desta maneira, está ou não a servir objectivos. Pode-se chegar a conclusão de que  há muita coisa que está a ser feito, por exemplo em termos de infra-estruturas boa parte das estradas, o sector energetico estão a ser financiadas por doações externas, estão a ser realizadas, estão a surtir os efeitos desejados. Mas resta saber se isso contribui ou não para a redução da pobreza,  mas não acho que as coisas sejam assim.

Mais para ouvir em:  http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html selecionando a emissão da manhã do dia 9 de Março de 2010.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ai minha mãe que me fez mulher...


Foto: Ivan Laranjeira

Cresci a ouvir este desabafo acompanhado sempre de suspiros profundissimos... Só nunca entendi porque são as mulheres que colocam, sozinhas, o fardo nas suas próprias costas... Ou então colocam nas costas das outras...
Porque culpam as suas mães por terem nascido mulheres??? Mulheres também contam com a participação masculina para o seu surgimento... Acredito que seja difícil, em muitos casos, ser mulher... Mas não se puxem para baixo ao assumirem culpas que não tem ou ao atribuirem culpas a outras...
É como culpar a inocência e condená-la a prisão perpétua... Há maior erro do que esse?
As vezes desconfio que esta frase foi inventada pelos homens... (já que eles são culpados por muito, então já agora...) e eles passaram para as mulheres com uma magia... Sim, porque como pode uma mulher querer se libertar da sua "condição feminina" e ao mesmo tempo se amarrar a ela como se fosse a sua tabua de salvação? É um paradoxo... Será uma tendência feminina para a cristalização do masoquismo? Ou o papel de vitima lhes fica bem? Até certo ponto, com muito exagero da minha parte, dá para buscar certo fundamento no síndrome de estocolmo (ver maishttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Estocolmo)
Sei que viagei na mayonese, como sempre...
Mas porque não buscar este exemplo tão banal para ir mais longe?
Neste dia da mulher o meu desejo é que se institua o dia dos homens, afinal eles também merecem. Afinal eu defendo, REALMENTE, a existência de igualdade de direitos entre os sexos... Por isso lutemos por um dia deles ou então vamos abolir o nosso dia 8 de de Março em nome da solidaridedade e da igualdade...
Sou filha da mãe com ajuda ( mais generosamente falando, com 50%) do pai, graças a Deus...
Seja feita a justiça!

sábado, 6 de março de 2010

Cheny Wa Gune e o seu som do universo, a timbila

Foto: Werner Puntigam

Nádia Issufo: Quem é Cheny Wa Guni?
Cheny Wa Guni: é um musico chopi que nasceu e cresceu em Maputo mas com influência da música chopi, porque os pais são chopi, e tanta convivência com os chopi nos tempos das férias e visitando família absorveu essa herança cultural da família, especialmente na música da timbila.

NI: Para além da timbila tocas outros instrumentos como o xitende, a mbira... Onde aprendeste a tocar?
C: Durante estes anos tive curiosidade de aprender outros instrumentos, embora o meu instrumento principal seja a timbila, e optei por investigar instrumentos tradicionais de Moçambique, fui fazendo amizade com outros músicos e daí tive a curiosidade e a aproximação com os instrumentos. Mas há outros instrumentos que pesquiso pessoalmente sem a ajuda de ninguém, ou ouvindo música e vou praticando e aperfeiçoando. Sabes que como músicos é mais fácil aprendermos a tocar mais um instrumento, afinal são muitos anos de aprendizagem de musica só pelo ouvido, sem ir para a escola, acho que isso também ajuda na rapidez do aperfeiçoamento. Vais ouvindo o que tocas e sabes qual é a qualidade exigida...

Foto: Werner Puntigam

NI: A timbila é um instrumento especial. Com é recebido o som deste instrumento nos países por onde andas?
C: As pessoas gostam, admiram e é incrível que algumas pensam que dentro das cabaças existe algum metal, que há alguma coisa que amplifica, mas a timbila não leva nenhum ferro. Já se sabe que a timbila foi considerado como património mundial em 2004 pela UNESCO. Então tentamos fazer o possível para divulgar a timbila, de dar a musica chopi pelo mundo fora, as pessoas gostam porque tem um ritmo especial, tem um som característico. É diferente dos outros xilofones como o caso do balafone, vibrafone, valimba. Ela tem um som característico que normalmente é tocado nas orquestras. Há alguma coisa de familiar para as pessoas, ela não é tão estranha, é uma coisa... Não sei... Acho que caracteriza o som do universo, acho que posso exageradamente dizer assim.


NI: Timbila Muzimba é a tua banda. O que está a fazer o grupo agora?
C: Recentemente está a fazer a promoção do segundo álbum que gravou agora em Junho (2009). Temos projectos de co-produção em parceria com outros. Esperamos lançar, se tudo correr bem, ainda este ano. Como se sabe o Timbila Muzimba é uma banda tradicional, mas também contemporânea, então quando não estamos no palco ocupamo-nos a fazer investigação, absorver outras influências e cultivamos outras partes da criação das músicas. Está activo dentro do programa que foi traçado pelo grupo.


NI: Fazes parte do Timbila Muzimba, mas tens feito trabalhos a solo. Por onde tens andado e o que tens feito?
C: Comecei este projecto a solo em Moçambique. Timbila Muzimba é uma banda muito grande e às vezes fico trancado a tocar sozinho em casa e daí me veio a idéia de tocar sozinho. Comecei em Moçambique e as pessoas encorajam-me, é uma coisa intimista porque sabes que o Timbila Muzimba é um elefante no palco e transmite uma energia muito forte. Este (Alemanha) é o segundo país onde apresento este projecto a solo. O primeiro foi o Brasil, estive em São Paulo. Acho que é uma maneira de levar o Timbila Muzimba para os sítios novos. O meu projecto a solo será como uma flecha que abrirá caminhos para a banda. Aqui em Estugarda também foi um sucesso, acho que foi uma revelação por tocar muitos instrumentos, cantar em chopi e explicar a musica. Acho que está a ser um sucesso. Estou a gostar, acho que é um caminho que está a ser bem trilhado.
 

NI: Tu e a Lucrécia estão a levar para o mundo a peça dela “Mulher Asfalto”, com a característica de que nesta peça, pela primera vez, há um instrumento musical, ou há uma parceria entre a música e o teatro, pelo menos no teatro moçambicano. Queres falar desse trabalho?
C: Foi a fazer este projecto a solo que surgiu a oportunidade e interesse de fazer parte deste projecto. A experiência é boa porque normalmente quando trabalhamos no filme ou no teatro nunca aparecemos no palco e acho que agora com esta experiência estou-me a descobrir, estou a aprender a ser actor ou a actuar como actor e como músico. Mas é acima de tudo uma aprendizagem e um privilégio trabalhar com uma pessoa como a Lucrecia, uma pessoa cheia de experiência no mundo de teatro, no mundo da comunicação, de captar sensações, de transmitir expressões ou sentimentos e isso ajuda-me como artista porque preciso de aprender isso. Além de que é uma oportunidade de partilhar ao mesmo momento essa emoção de fazer teatro e é uma peça especial porque trabalhei nas composições. Criamos juntos, às vezes é um stress, mas quando conseguimos ficamos felizes. Está a ser uma boa experiência para mim, estou a gostar cada vez mais e acho que estamos a conquistar uma marca ao nível do teatro porque acho que já se faz isto, mas não com esta intensidade. Acho que estamos a registar uma marca no mundo da música e do teatro. Mas é mais teatro do que música. Mas está a ser um trabalho agradável.




Esta entrevista foi feita em Novembro de 2008

sexta-feira, 5 de março de 2010

Adelino Branquinho: foi ao teatro concertar o ar condicionado e de lá não saiu mais


Nádia Issufo: Conta la Coisas…
Adelino Branquinho: Vou falar do meu surgimento na área teatral, especialmente no grupo Mutumbela Gogo isto há 23 anos. Comecei assim a praticar teatro em Moçambique onde havia pouca expressão teatral, era uma fase pós independência. Em 1986 houve a oportunidade de se formar um grupo, o Mutumbela, e entrei nessa altura para o grupo. Ia lá como técnico de refrigeração e nessa altura estavam a montar uma peça infanto-juvenil, “Qual é a coisa, qual é ela?” e a partir dessa altura comecei a fazer teatro com a Graça Silva, Lucrécia Paco, João Manja, Victor Raposo e foi assim que aparecei no teatro.

NI: E o Ar condicionado do Teatro Avenida funciona bem até hoje? Risos...
AB: Sim, funciona bem. Já se mudou umas duas ou três vezes porque na altura era um AC central, e era um monstro. Não havia peças, manutenção, era mais complicado. Mas estão a funcionar bem agora. Conseguimos dar espetáculos sem transpirar sem estragar a maquiagem.

NI: E de lá até agora sentiu que o palco é a sua praia, como se costuma dizer...
AB: Exactamente. Achei que palco já vinha no sangue. E lembro-me que em Pemba já tínhamos montado um peça que era “O APIE” quando Samora Machel era vivo e ele foi ver, e achou formidável, numa altura em que era complicado fazer críticas ao funcionamento do Estado e mesmo assim gostou da peça porque viu que havia muita verdade, não era um teatro de fazer critica apenas, também apresentava solução.

NI: O que te marcou pela positiva na tua carreira?
AB: O que me marcou foi o facto de ir tendo muito intercâmbio com grupos europeus e africanos e isso foi muito importante porque passou a ser uma escola. Acho importante para a formação de um actor ter intercambio. Já estive na Alemanha a ter formação, e mais outros colegas, e aprendemos muito.

NI: O que te marcou pela negativa?
AB: Foi a crise financeira que afectou muito o teatro. Não são o nosso. O teatro não é como vender agulhas, açúcar, kilos de açúcar, é mais complicado. Gasta-se muito mas não se consegue ter retorno. Então esta crise veio abalar muito o nosso andamento. Hoje vemos muitos grupos que não estão a conseguir suportar e isso afectou-nos bastante.






DA FRUTA SECA NÃO SAI SUMO....

NI: Faz lá uma analise clinica ao teatro moçambicano
AB: O teatro moçambicano tende para o bom caminho, se bem que há grupos que tendem para um teatro fraco, não só em termos técnicos, mas também de qualidade que oferecem ao público. Os grupos amadores aparecem como cogumelos e depois de expremos  não  encontramos sequer um litro de sumo, e isso é muito mau. Então acho que o Estado tem de intervir assim como intervêm na dança. O teatro precisa de um suporte não só do público, mas o Estado tem de suportar esta arte que é muito importante.

NI: Pode-se falar de união no seio dos actores?
AB: Não. Infelizmente não existe. Tenho reparado nisso quando as grandes multinacionais vem fazer filmes em Moçambique e vemos que nesses momento falta a união. Não existe um sindicato que nos proteja, os actores estão dispersos e cada um se desenrasca a sua maneira. E isso para dizer em poucas palavras que não existe união. Por isso é que estamos nesta situação de “ao tio ao tio” como se costuma dizer.

NI: O que era preciso fazer para o que o teatro moçambicano desse aquele arranque?
AB: A união deve ser incentivada pelo próprio Estado. Apoiar  festivais de teatro, não deixar que sejam os grupos a faze-los sozinhos. O que acontece é que os grandes festivais se limitam a cidade de Maputo mas os outros também precisam. É preciso criar um movimento paraunir os grupos. Assistimos muitas vezes o Festival de Agosto, que infelizmente morreu, mas ele conseguia movimentar grupos e criar intercâmbio. Não basta fazer festivais na Casa da cultura com grupos amadores, é preciso juntar os pequenos grupos através dos grandes grupos como o caso do Mutumbela Gogo e do Gungu. Estes devem estar unidos para levar o teatro a o bom porto.




Democracia Epidérmica



Amor, não é ai…
É mais em baixo…
Huuummm...
Já disse que não é ai...
Entendeste o que disse??
Desculpa?
Não percebo??
Eleiçõestransparenciafraudeliberdadejustiçainclusãoimparcialidade...
Ahhhhh?
Há ruído na comunicação...
Mas só uma perguntinha coração: isso tudo pode acontecer lá em baixo também?
ajhsjkldsfhuilryighotçuj...
Estou a ver que não...
Experimentamos uma maior aproximação mais tarde, então...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Daria tudo para ser uma cabra...

Pensaria eu se não fosse o que sou... Ter a garantia de que manter relações sexuais com um homem resulta imediatamente em casamento, ou lobolo. As coisas afinal não mudaram tanto, ainda vale o sistema "sujou limpou"... Ainda a honra da família, ou do proprietário, tem de ser preservada e da própria cabra também, pois quem quererá uma femea usada? Ter gente que vele pelos meus interesses...
Não é piada, dois jovens envolveram-se sexualmente com uma cabra em Gondola na província de Manica em Moçambique e o propritário do animal exigiu que os "violadores" fossem julgados em tribunal e se casem com ela... ou seja, paguem o lobolo!!! Não é burro o gajo... Ele afirma, com toda a razão, que ninguém comprará a cabra e o seu negócio é criação para venda... Não quer prejuizo!
E a cena se deu no matinho, onde de certeza há muito capim (mais um motivo para eu querer ser cabra... os meus compatriotas sabem bem que "cabrito come onde está amarrado"...) e teve audiência que contou sobre o estado do animal depois do sexo. De acordo com a LUSA uma testemunha contou o seguinte:  "No preciso momento que fui ver, a cabra apresentava corrimentos, o sexo estava inchado. Um dos jovens estava nu enquanto segurava a cabeça, e outro a fazer sexo com o animal". Mas os jovens já foram prontamente condenados a seis meses de prisão por furto qualificado mas o lesado propritário não está satisfeito e não desiste da ideia do casamento. O caso será discutido num fórum social local. Parece que esta história não acaba aqui...
Ficam entretanto aqui algumas questões... A pronta actuação do tribunal no caso (finalmente se faz justiça nesse país...), a astucia do proprietário da cabra em se apropriar dos instrumentos que a sua tradição disponibiliza para não ficar lesado, recorrendo ao lobolo! Esse gajo deve ser um bom homem de negócios pá!!

Desta vez foi a mada que descobriu o video para casar com o texto: 
http://www.youtube.com/watch?v=KwSZoNjU1aI&feature=related

terça-feira, 2 de março de 2010

"Preto sobre o verde" intenso de São Tomé e Príncipe

Será o petróleo a tábua de salvação de São Tomé e Príncipe? Se tal for encontrado em quantidades comercializáveis pode ser que sim. Seria uma maneira de o país não se afundar na rede da dependência externa, afinal mais de 70% do seu Orçamento vem de fora. Enquanto isso,  foi aberto hoje o leilão para a exploração de sete dos 19 blocos de petróleo identificados na ZEE, zona de exploração exclusiva. Os interessados tem de se manifestar até ao dia 15 de Setembro próximo. Gerhard Seibert falou mais sobre o petróleo são-tomense com Nádia Issufo




Nádia Issufo: O petróleo será a tábua de salvação de São Tomé e Príncipe?
Gerhard Seibert: Pode ser, mais prefiro ser cauteloso porque é muito difícil falar de uma coisa que ainda não existe. Existe a possibilidade, mas enquanto não existem resultados exactos e seguros sobre a existência de petróleo comercialmente explorável é dificil falar disso, mas é obvio que será um ajuda se existir porque pode trazer receitas muito elevadas. Mas é óbvio que o dinheiro por si só não chega para o desenvolvimento de uma sociedade ou de um país.

NI: Como avalia o desempenho económico de São Tomé e Príncipe?
GS: É uma questão muito difícil. Naturalmente existem vários problemas que tem a ver com a actual crise económica. Sobretudo em relação a investimentos programados, refiro-me sobretudo a construção do porto de águas profundas por uma empresa francesa. Estava previsto o início das obras para este ano, mas foi adiado porque a empresa francesa tem problemas devido a crise financeira. Outro problema tem a ver com um certo atraso do sector petrolífero, porque quando este projecto comecou  nos fins de noventa havia grandes perspectivas no país com esta nova janela que se abriu na altura, mas até agora  houve pouco desenvolvimento neste sector, e pior ainda, até hoje nem sequer petróleo foi descoberto nas águas territoriais de São Tomé e Príncipe...

Mais sobre o tema para ouvir em: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html

Reeeeeeeeeeeeeeeeee....

Entrou agora na minha sala e não pediu licença!
Veio nas mãos da Re e foi colocado a minha frente
ou quase isso, porque em frente tenho o computador que me impede de vê-lo por completo
mas de cada vez que levanto os olhos sinto aqueles olhos azuis poisados sobre mim de forma incansável e irritante
fixo novamente os meus olhos no monitor ora no teclado
mas algo me inquieta
são aqueles olhos em cima de mim novamente!
não gosto de me sentir vigiada, pa!!!
e grito: Re!!! tira-me o Leonardo Di Caprio daqui!!!
põe o gajo na sala da De!!!

Tachos e Laptops em guerra: casamentos diluem-se?

Tachos, biberões, lençóis e flor de laranjeira palavras hoje substituídas por laptop, meetings, viagens, lipoaspiração e relações ocasionais. Não só no vocabulário do chamado sexo fraco no velho continente, mas também no modus vivendus delas.
Lá se vão os tempos em que o casamento era o “sonho” das mulheres. Cada vez mais elas procuram singrar na profissão. Deixam de pilotar o fogão, como se diz, e passam a pilotar os computadores dos seus locais de trabalho.
Há algumas milhas deste “mundo” o cenário é bem diferente. O velho sonho ainda desfila pelo cérebro da maioria das mulheres: encontrar o marido ideal, ter filhos, enfim o lar! Embora já comecem a aparecer, até em número considerável, as que se desligam deste universo ou então tentem conciliar o laptop e fogão.
Estas mudanças de comportamento estão a influenciar fortemente a composição mundial nas diferentes perspectivas. O crescimento populacional é uma delas.
A Europa é o continente que apresenta as mais baixas taxas de natalidade. Até ao momento nenhum país europeus atingiu o chamado "nível de substituição" da média de 2,1 filhos por mulher, através do qual a geração dos filhos pode substituir a de seus pais.
De acordo com a análise demográfica do Instituto Max Plank de Rostock, na Alemanha, todos os países europeus apresentam a taxa de natalidade baixa demais para manter o seu nível populacional. O estudo indica ainda que na origem desta situação está o adiamento da formação familiar devido à formação profissional. A crescente inserção da mulher no mercado de trabalho também contribui para uma constituição tardia da família, pois esta não é compatível com questões domésticas. O aumento do investimento na educação dos filhos e a desvalorização de orientações religiosas também têm a sua cota de responsabilidade nesta situação.
Já no continente das mil e uma cores as tradições ainda são os pilares fortes em qualquer instituição. Por isso o casamento ainda não começou a ser visto como coisa de outro mundo, afinal ele também trás vantagens para as famílias. Os filhos também servem de mão de obra para ajudar no sustento familiar.
A frequente pratica deste tipo de união contribui, em certa medida, para que as taxas de natalidade em África sejam as mais elevadas do mundo. Sem contar que este tipo de ligação é feita muitas vezes de forma precoce. A contribuir para este Boom está também o analfabetismo que se coloca como uma barreira no acesso ao planeamento familiar.
Se por um lado dirigir laptops trás também realização profissional as mulheres, por outro o casamento tardio ou a falta deste tem muitas outras conseqüências nefastas. Por exemplo; dificulta o amadurecimento do individuo aumentando assim uma forma individualista de ser que depois se fossiliza, por terem levado uma vida de forma descomprometida dificilmente conseguem viver em comunhão, o que origina mais facilmente o divórcio, e este por sua vez favorece o surgimento de relações poligâmicas deixando a mulher em posição desfavorecida. A lista de pontos negativos é infindável.
Já dizia o escritor Oscar Wilde, no seu livro "O Retrato de Dorian Gray" que
a “A verdadeira desvantagem do casamento é que nos despoja do egoísmo. E as pessoas que não são egoístas são absolutamente desinteressantes. Falta-lhes individualidade. Contudo, há certos temperamentos que se tornam mais complexos com o casamento. Mantêm o egotismo e acrescentam-lhe muitos outros egos. São obrigados a ter mais que uma vida. Tornam-se mais eficientes na sua disciplina, e uma organização eficiente é, segundo creio, o objectivo da existência do homem. Além disso, toda a experiência é válida e, por mais que se fale contra o casamento, não deixa de ser uma experiência.”
Será que o egoísmo é uma “doença” a ser eliminada?

Escrito para a Revista Essencial (Não sei se foi publicado...)
Nádia Issufo