terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vamos "clorificar" sem provocar "cólera" nas pessoas?

O cloro está a matar em Moçambique... E a cólera também... E se as autoridades locais não tomarem medidas sérias e inteligentes, não sei o que matará mais...
Na província da Zambézia, mais concretamente no distrito de Gurue, profissionais de saúde estão a ser atacados por colocarem cloro na água com objectivo de purifica-la. As populações locais, por ignorância, dizem que estes profissionais estão mais é a por colera na água... Dá para rir, não é?
Pois é... A primeira sim, mas na verdade é para chorar... Na sequência de disturbios nesta região sete pessoas já morreram e cerca de cinquenta e quatro foram detidas. Esta região vive um surto de cólera que afecta mais de duzentas e cinquenta pessoas e já matou cinco. A tentativa de minimizar a situação da doença com o cloro só piora tudo...
E este não é o primeiro caso em Moçambique... Em Nampula muitos activistas da Cruz Vermelha de Moçambique foram atacados em 2008 quando desempenhavam acções semelhantes. O governo tirou alguma lição?
Bem, deixemos isso para lá. Não está na hora de passarem a acção agora, assim de uma forma bem básica?
Que tal se mudassem o nome? Em vez de cloro se chamasse, por exemplo, purificador?
Ahhh... Custa muito?
Na verdade, o cloro é mesmo um purificador. Procurei saber também o que é este produto "assassino" em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cloro
Não quero com esta sugestão minimizar a capacidade de aprendizagem dos moçambicanos, pelo contrário, quero apenas que eles entendam de uma maneira simples e clara o que é o tal de cloro... Afinal estamos a falar de uma população rural com baixo índice de escolaridade, pouco esclarecida. É preciso saber chegar até ela...
Enquanto isso as "cóleras" matam no país: a doença e a da população!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Níger: Maktub?

Nesta quinta-feira o presidente do Níger, Mamadou Tandja, foi arrancado do poder por militares e ainda está nas mãos dos golpistas. E sem demoras os autores do golpe de Estado, o Conselho Supremo para a Restauração da Democracia, já anunciaram o novo presidente do país, Salou Djibo, a dissolvição do governo e anulação de uma Constituição polémica. Na verdade a Carta Magna do país foi um dos principais motores desta acção.
Salou Djibo é o comandante da companhia de apoio de Niamey, que dispõe de armamentos pesados. O Conselho militar também instaurou logo um recolher obrigatório e o encerramento das fronteiras, através de um comunicado lido na televisão pública.
Voltando a origem do problema, em 2008 Tandja dissolveu o Parlmento e alterou a Constituição para legitimar o seu terceiro mandato. A partir dai a comunidade internacional abriu o olho e algumas organizações aplicaram sanções ao país, a União Europeia, por exemplo, parou com as ajudas. Estas mudanças de Tandja provocaram uma forte tensão política no país. Mas não faltaram avisos e condenações ao presidente para que voltasse a ordem anterior. Em Setembro último os deputados do Parlamento da CEDEAO condenaram as acções de Tandja, veja mais em: http://www.expressodasilhas.sapo.cv/pt/noticias/detail/id/11727
Também o site Africa 21 Digital de Agosto do ano passado noticiava que "O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou ontem (31) preocupação com a delicada situação política pela qual passa o Níger, devido à insistência do presidente do país, Mamadou Tandja, de realizar um polêmico plebiscito constitucional." Mais para ler em: http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=8742881&indice=20.
Ora, todos estes atropelos criaram, como se vê agora, uma insatisfação que se manifestou ontem de forma também "atropelativa". Era previsivel, não?
A grande questão é a hora "H" da acção reversiva relativamente aos atropelos. As condenações existem sempre antes e depois do caldo entornado. Essa hora parece não ser conhecida pela comunidade intenacional... Logo, os custos de restauração da ordem sãem muito caros a todos. Claro que ela está ciente do alto preço que deve pagar, mas mesmo assim parece que as "dolorosas" não a assustam, porque são recorrentes estes tipos de situações em África e espera-se por acções extremas para soluções.
A África Ocidental, particularmente, tem sido frequentemente palco de golpes de Estado nos últimos anos.
Em Agosto de 2008 na Mauritânia Sidi Ould Cheikh Abdallahi, primeiro presidente democraticamente eleito, é derrubado 15 meses mais tarde pelo general Mohamed Ould Abdel Aziz.
A 23 de Dezembro de 2009 a Guiné Conacri experimentava uma situação semelhante quando o presidente Lansana Conté morreu e o capitão Moussa Dadis Camara tomou o poder. A outra Guiné, Bissau, também viu o seu presidente, Nino Vieira, ser morto brutalmente a 23 de Novembro por militares.
E as histórias se repetem...
Por motivos conhecidos...
Então Maktub, Maktub e Maktub!
Já estava escrito...

Então doadores, chegou a hora de retirar? Ou de impor...

Depois que viram as suas exigências ignoradas pela Comissão Nacional de Eleições e Conselho Constitucional a quando da exclusão dos partidos pequenos nas últimas eleições em Moçambique, chega a hora de se fazerem ouvir. São os doadores internacionais. Na altura apelaram para admissão desses partidos com vista a um escrutínio inclusivo. Hoje, depois da divulgação do Relatório da missão de observadores da União União Europeia, o G-19 está numa posição favorável para se sentar com o governo e exigir mudanças. De acordo a LUSA, "os responsáveis pela missão deixaram 25 recomendações, entre as quais profissionalizar e despolitizar a Comissão Nacional de Eleições (CNE), rever as leis sobre eleições, limitar os gastos em campanhas eleitorais e investigar as mesas onde as urnas tenham uma afluência de 100 por cento". E será esta a grande exigência do G-19.
Bem, o actual governo perde aqui a sua força em nome de uma injecção financeira de mais de 50% no seu Orçamento de Estado. Mas também já estão feitas as compensações, talvez por execesso, se é que se usa o termo... Com as células ou tecidos instalados no Aparelho de Estado...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Já vão nos tecidos enquanto outros falam em células

"Uma coligação de 12 partidos políticos da oposição (extraparlamentares), denominada "G-12", exortou hoje o primeiro ministro de Moçambique, Aires Ali, a "travar" a criação das células da FRELIMO no Aparelho do Estado." Era notícia dos órgãos de comunicação social moçambicanos no dia 15 de Fevereiro.
Entretanto, do novo primeiro-ministro não houve resposta. Talvez seja uma assunto que careça ainda de aprovação superior...
De acordo com o secretário geral da FRELIMO, Filipe Paúnde, com estas células o seu governo pretende materializar o plano quinquenal do Governo.
Ora, é do conhecimento de qualquer moçambicano que essas células sempre existiram no Aparelho de Estado. E se consolidam a cada dia que passa, ou a cada eleição que acontece. O que a FRELIMO fez, ou vai fazer, é formalizar o que é uma velha realidade!
Talvez uma certa oposição estivesse a espera do informe para espernear... Mas não deixa de ser salutar a manifestação de revolta do "G-12". Agora resta saber se os não poucos funcionários vão engolir as sua ambições de progressão de carreira no Aparelho do Estado em nome da Democracia, liberdade de expressão, etc. Essa é na minha óptica uma questão preocupante. Se até alguns dos nossos intelectuais mudaram a casaca, o que dizer de alguns funcionários do Aparelho de Estado que devem ter um salário insultuoso? Enquanto o governo da Frelimo souber se aproveitar das fraqueza do seu povo (ou de uma parte que não resistir a tentação), dominará sempre o país.
E o sector privado não se "inclui fora dessa". Nas mãos de boa parte de membros da Frelimo está também bem entregue.
Não é altura de falarmos em células... Depois de 35 anos no poder? A isso se chama tecido!

Diferentes mas iguais

As diferenças alimentam egos
E são sempre as pequenas...
E os egos bem nutridos se degladeiam...
Porque eles são cegos ao que predomina...
Porque eles nunca terão a capacidade de apreciar e aproveitar o diferente...
Ainda bem que não se localiza fisicamente esse lugar chamado ego
Se não eu iria presa por homicídio dia sim, dia sim
Talvez nem tanto porque teria me suicidado logo cedo...
Esses malditos egos restringem muito o nosso reconhecimento no outro
Mas detectam espantosamente o que não é igual e afastam-nos perigosamente...
Para ti a minha timbila estagnou numa fase qualquer de evolução
Para mim o teu balafon evoluio demais, se perdeu
Para ti a minha timbila carece de refinamento, de acabamento
Para mim o teu balafon é delicado
Procuramos nos distanciar nos detalhes
Só nos detalhes...
Não desvalorizo a frase que diz "as pequenas coisas é que fazem a diferença"
Mas a matriz fala mais alto
E temos de afogar o ego nesse momento e ouvir o grito da matriz
Sem medo de sermos condenados...
Por nós mesmos ou pelos outros
Pelo ego dos outros que na verdade somos nós ...
Matriz que neste caso se chama XILOFONE
Que consoante a localização geográfica pode ser timbila, valimba, balofone, etc...
Com as suas diferenças, claro
Que podem ser aproveitadas...
Para um reencontro saudável nessa matriz de UNIÃO que se chama XILOFONE...
Que se sabiamente conjugadas e evidenciadas podem ser espantosamente proveitosas...
Rentáveis...
Inovadoras...
Harmoniosas...
Admiráveis...
Cumplices...
E sei lá mais o quê!
Minha timbila e teu balafon...
Um reencontro de que faço questão...
Naquela matriz tão antiga que se chama...
Como é mesmo o nome?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Só calçado se vai longe

Foto: Ismael Miquidade
Titulo: Mercado

Os meus antepassados de pés rachados devem estar a rebolar na tumba neste momento... Eles que me perdoem, mas parece que só com sapato se vai longe!
Ha cerca de um ano entrevistei o escritor sueco Henning Mankel em Maputo e ele referiu-se aos sapatos de uma maneira nova para mim: como o sinónimo de desenvolvimento! E isso nunca mais me saiu da cabeça. Mankel disse: "Quando cheguei aqui (em Maputo), fiquei fora do teatro ver as pessoas a passarem e quase ninguém tinha sapatos. E lembro-me também que no primeiro ano de trabalho estranhei o facto de que depois de duas horas de trabalho os actores ficavam muito cansados, não se compreendia. Mais tarde percebi que era fome. A dona Manuela e eu arranjamos comida. Agora aqui todas as pessoas têm sapatos, dois, três, quatro pares de sapatos... Claramente estou a ver um grande desenvolvimento. Mas a coisa mais importante é que há paz que esta cá para ficar."
Meses depois deste entrevista a crise financeira e económica abalou o mundo e muitas fábricas de calçado encerraram, principalmente em Portugal. Ou pelo menos tive uma percepção maior nos casos deste país, talvez por ter noticiado mais sobre este caso.
Bem, a primeira parece que "o cú não tem nada a ver com as calças", mas talvez não seja exactamente assim... Se usamos sapatos é porque já atingimos um determinado estágio de desenvolvimento, pela lógica de Mankel,  então quando não há produção de sapatos pode-se pensar que o desenvolvimento sofre limitações... Mas isso também é uma questão de perspectiva.
A indústria chinesa tem também dado o seu contributo para o encerramento das "tradicionais" fábricas. Podemos falar talvez de uma substituição de "polos" de desenvolvimento?
Os sapatos chineses "nascem" como cogumelos pelo mundo e já há um tempo que nas "esquinas" de Moçambique são vendidos a preço de banana, quase que oferecidos! Um "boom" quase gratuito de desenvolvimento? Essa seria uma das perspectivas...
Paradoxalmente milhares de pessoas vão para o desemprego nas "tradiconais" fábricas, consequentemente milhares de famílias vivem aflitas, menos o país produz, etc... O "boom" aqui é do subdesenvolvimento.
Mas provavelmente que noutra parte do mundo, em contrapartida, criam-se mais postos de trabalho, mas famílias vem as suas condições de vida melhoradas, a produtividade do país aumenta muito... É só uma questão de localização geográfica!
Mas o sapato é mesmo importante... Está visto! Mesmo quando é para atirar contra um presidente... Ele é o sinal também de desenvolvimento de consciência, ou então, serve para expressar "activamente" a liberdade de opinião... Enfim, o sapato até poderia merecer uma estatua equivalente a estatua da liberdade de Nova Iorque...
Hoje entendo claramente a importância de um sapato, ele não apenas um acessório de protecção e
estético. O sapato é uma das bases das dinámicas mundiais!
Agora quando questionarem a quantidade dos meus sapatos terei um explicação: sou muito desenvolvida!!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mandela, um pretexto para uma viagem particular...

"Free Nelson Mandela..."
de punho no ar e sem idade cantava eu
e muitos sem idade também
Johnny Cleg, Miriam Makeba, Paul Simon, Hugh Masekela, Black Mambaso...
quem não se lembra destas repetidas companhias em datas importantes em Moçambique?
era o espetáculo de comemoração da independência do Zimbabué...
lugar onde havia liberdade, para manifestar revolta...
lugar exemplo...
bendita escassez de programação da TVM nesses dias!
ajudou-me a entender melhor quem era esse prisioneiro
por que causa lutava
embora não fosse difícil saber depois das casas bombardeadas exibidas na revista Tempo
dos discursos políticos de Samora Machel
do atentado contra Albie Sach que por pouco matava o meu pai...
Tudo isso é Mandela...
Juntem meia duzia de moçambicanos e acredito que vão afirmar que viveram com Mandela nalgum lugar
na mente,
no ouvido,
no livro da escola,
no discurso político,
no coração,
e ao lado dele, na vida dessas pessoas, em muito momentos, o "se não fosses tu"
o carapau congelado de Angola
a farinha amarela dos bichinhos vinda da Roménia
com um feijão que dava cabo de qualquer saco de carvão de tanto que custava a cozer...
também cheio de furos por causa dos bichinhos...
e viviamos do "ho ambala xicalamidade, hi buluku lexi ya..."
enquanto o nosso vizinho produzia mas o acesso era difícil...
nada mais do que uma viagem no tempo...
quando a desgraça ainda unia as pessoas
e a alegria era membro presente em muitas casas...
para mim isso também é Mandela...
ao lado, mas é...

Irão ou não Teerão coragem?

Sanções há muito na boca de meio mundo
No Irão Teerão?
Individualidade na acção pedem congressitas nos EUA
No Irão Teerão?
Se não ela, então ela...
No Irão Teerão?
Meio mundo quer o urânio fora da terra do Ayatollah
No Irão Teerão?
Os 27 apoiam manifestações pró-democracia na terra da Revolução
No Irão Teerão?
Mais furdunço, maka...
Irão para Teerão agora?
Procura-se a legitimidade?
Ou não?

“Fúria Divina” ou “Ritos de Iniciação” a actualidade

José Rodrigues do Santos, o jornalista português, lançou recentemente (finais de 2009) o livro “Fúria Divina”, obra que devorei rapidamente. E viajei logo para as “chuingas” muito comercializadas em Moçambique da marca chappie, estou a falar de pastilha elástica... E as embalagens das “chuingas” dizem no seu interior “did you know... something”, ou seja, sabias que... alguma coisa.
Resumindo: primeira impressão é de que é um livro de iniciação. É o “bê-a-ba” a muitas coisas, principalmente a duas ou três: ao Islão (nas suas diferentes perspectivas) e ao “terrorismo” (que na verdade pode ser uma conseqüência de uma das interpretações do Islão). O alerta de perigo para aqueles que pensam que não fazem parte do foco do "terrorismo" foi outra mensagem que entendi, embora esta seja uma história de ficção como o próprio autor diz...

DIGERINDO CONHECIMENTO
"Amanhã é o primeiro dia do mês de Moharram e vamos celebrar a Hégira." disse o Mullah. Fez uma pausa para beber um trago de chá. "Sabes o que é?" "É a fuga do Profeta para Medina, xeque."
Isto lê-se na página 41 e se repete SEMPRE no livro de 583 páginas. Na minha opinião o autor pecou por excesso quando por exemplo mostra a ignorância de uma conceituada operacional da CIA, Rebecca Scott, com experiência de combate no Afeganistão em relação ao Islão, História, etc... Ilustro:
"O que tem o petróleo a ver com isto?"
...
"Dinheiro"... "O petróleo enriqueceu os Sauditas. De repente os wahhabistas ficaram cheios de dinheiro e imagina o que decidira fazer?"
"Erguer mesquitas?"
...
"Também", disse. Mas sobretudo, puseram-se a financiar madrassas em todo mundo islâmico..."
Lê-se na página 327 e mais cenas iguais se repetem. A não ser que tenha sido intenção do autor evidenciar a fama de ignorante que caracteriza muitos americanos...



Volto já, nao acabei...

Malangatana, 50 anos de carreira e reforma não está a vista... ainda vem ópera ai..


Foto: Sérgio Manjate

Malangatana recebe nesta quinta-feira, 11 e Fevereiro, o titulo Doutor Honoris Causa da Universidade de Evora de Portugal. Por isso, o conceituado artista plástico moçambicano vai aproveitar brindar o público local com algumas das obras que produziu ao longo dos cinquenta anos de carreira, em jeito de retrospectiva. Em conversa com a Deutsche Welle, Malangatana fez um balanço do seu percurso e contou o seu sonho...

Malangatana: Huuummm.... De facto meio século de carreira é muito, ainda não estou cansado, ainda continuo muito activo. Mas posso dizer que é uma grande experiência humana para mim porque a pintura levou-me também a pensar sobre outras coisas, levou-me a ter outra sensibilidade e envolvi-me politicamente aqui no meu país, para também dar o meu contributo na libertação do país, fui militante na clandestinidade, fui fazendo outras coisas que me permitiram estar envolvido muito a sério na cultura. Portanto, é um meio século não só de envolvimento na pintura ou na escultura, mas também em actividade sociais.

NI: Então não se aplica a palavra reforma na sua profissão?
M: Ehhhh...Reforma não... Risos... Não... Eu não estou a pensar nisso. Acho que se me reformasse hoje envelhecia de um dia para o outro. Eu sei que activamente é impossível que não esteja a cometer erros pelo caminho, mas isso não dá nem para desistir nem para me reformar. Quando penso fazer uma coisa muito a sério, que envolve não só a mim como outras pessoas, pergunto as outras pessoas como devo actuar.

Nádia Issufo: Falta-lhe realizar algum sonho a nível profissional?
Malangatana: Eu acho que sim... Atirei-me há uns poucos anos graças a uma cantora lírica moçambicana que vive na Suíça, a Stela Mendonça, que há anos atrás provocou-me para entrar para entrar no canto de ópera. O meu interesse, o meu sonho humilde é de encontrar um momento em que eu me entrego para educarem a minha voz. Eu canto ópera nos últimos quatro, cinco anos e gosto muito, mas gostaria de adquirir conhecimentos que me permitem pegar naquelas nossas óperas ou operetas escondidas nas vozes dos curandeiros, nos cantos dos curandeiros, nos cantos dos rituais africanos. Para não cantar só “La Traviata” de Giuseppe Verdi ou Caren Bizet ou outras óperas, mas também poder em companhia com outras pessoas criar óperas que também sejam tradicionais numa simbiose de troca de conhecimentos entre as culturas européia e africana.

Pode ouvir este pequeno "bula-bula" em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
selecione a emissão da manhã do dia 11 de Fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O "Novo" Governo Angolano e os Negócios "Grandes"



Nádia Issufo:Convido-o a avaliar o governo hoje empossado...
Rafael Marques: A primeira avaliação que se deve fazer é que é uma rotação de posições com a excepção de dois membros do bureau político que tem estado na Assembléia Nacional desde 1992, todos os outros membros do governo estão  vários anos e alguns foram transferidos de um posto para o outro. Mas o que é mais importante avaliar é o discurso do presidente da República porque ele reiteradamente fala em integridade moral, em probidade por parte dos dirigentes e continua a nomear os mesmo indivíduos que mais estão associados à corrupção no país. O que em principio significa que ou o presidente não tem poder para acabar com a corrupção ou não tem vontade nenhuma. Mas que na verdade é um governo que demonstra a continuidade do que é mau para a boa governação  e transparência que se exige na gestão do património e do erário público.


"MPLA, Sociedade Anónima" é a mais recente pesquisa publicada por Rafael Marques, defensor dos direitos humanos angolano. Nela Marques fala da alienação obscura do património do Estado a favor do GEFI, uma holding do MPLA, o partido no poder em Angola. Numa entrevista a DW o angolano explicou como tal acontece e tocou também noutros pontos sensiveis do país...

NI: Na sua página 7 diz que “investigação realça em particular o modo como o governo tem alienado de forma obscura património do Estado a favor do GEFI para beneficio financeiro e patrimonial do MPLA.“ Pode explicar, por favor, como isso acontece?
RM:Quando se trata da privatização por norma ela deve passar por um concurso público e o que se nota na transferência do património do Estado para propriedade privada da GEFI, que é a holding empresarial do MPLA, é que ela nunca participa em concursos públicos, o património do Estado é sempre transferido para o GEFI por ajuste directo. E aqui o que é mais obscuro ainda é que a GEFI tem pouca produtividade apesar de ter muitos negócios. Logo, o que o governo fez, entregou as principais moageiras do país com capacidade de tornar Angola num país auto-suficiente em termos de produção, de trigo e milho, a GEFI mas todas essa moageiras estão paralisadas porque a GEFI não tem capacidade de gestão. Tem de ir depois buscar um investidor estrangeiro e depois cobrar rendas e ser sócia desse investidor. E no caso das moageiras aborda uma reputada empresa americana que detém 49% o que permite a GEFI gerir na empresa. E parece que tem havido conflitos que levaram ao encerramento temporário da moageira. Logo, aquilo que seria importante para reduzir o preço do pão no país porque as moageiras não estão a funcionar. Este é um exemplo de como esta transferência de património acaba por ser um prejuízo grave para a economia do país e para o contributo para que os pobres tenham acesso ao pão mais barato e a outros negócios.
Falo também da maior cervejeira do país, a Cuca, em que o governo transferiu as suas acções, de forma praticamente gratuita, para A GEFI em associação ao grupo Francês Castel que controla uma multinacional das bebidas a nível mundial. Uma serie de empresas... Porque os membros do conselho de administração da GEFI têm acesso facilitado ao Conselho de ministros e aprovam os projectos de forma muito fácil e atribuem a GEFI aquilo que lhes interessa.

NI: Outro ponto abordado por si na pesquisa é a relação entre a comunicação social e o MPLA. Até que ponto os órgãos de comunicação servem os interesses do partido no poder?
RM: Em 1992 o governo criou quatro rádios comerciais em FM: uma em Benguela, Rádio Morena, uma em Luanda, Radio LAC, uma em Cabinda, Rádio Cabinda, e a Rádio 2000 no sul de Angola, na província da Huila. Essas rádios logo após as eleições foram privatizadas pelo MPLA. Logo, fora de Luanda a imprensa é controlada directamente pelo MPLA porque o partido é proprietário das Rádios. Em Luanda o MPLA continua a criar dificuldades no sentido de facultar a expansão da Rádio Eclésia para as províncias. Na verdade o MPLA controla a imprensa privada por causa desse expediente que lhes permitiu ficar com as rádios quem« foram criadas com fundos do Estado e agora passaram a ser propriedade privada do MPLA.

A pesquisa "MPLA, Sociedade Anónima" de Rafael Marques pode ser lida no seu site: www.makaangola.com

A Nova (In)Constituição de Angola

Angola tem desde esta terça-feira uma nova Constituição. A Carta Magna foi aprovada pela Assembleia Nacional do país e foi promulgada pelo presidente da República na última sexta-feira. Mas a sua aprovação não reuniu consenso  mesmo com as correcções feitas pelo Tribunal Constitucional. Em entrevista a DW, o defensor dos direitos humanos angolano, Rafael Marques, diz que tais mudanças não passaram de operação de cosmetica...


Nádia Issufo: As correções feitas pelo TribunaL Constitucional trazem alguma mudança substancial a Constituição?
Rafael Marques: Na verdade não trazem  nenhuma mudança significativa a Constituição mas tendo havido uma decisão judicial, e é importante que antes da constituição do novo governo se remetesse  o documento de volta ao TC para a averiguação da constitucionalidade das mudanças introduzidas, o que não foi feito mas continua a ter o mesmo texto. Praticamente é o estabelicimento da monarquia dos Santos em Angola.

NI: Então pode-se dizer que esta decisão do TC foi um aoperação de cosmética?
RM: Praticamente acabou por não ter efeito nenhum porque a Constituição é aprovada e durante os próximos cinco anos teremos um presidente da República e um vice-presidente que não foram eleitos. Teremos um novo governo em funções sem o mandato necessário que deve ser dado pelo eleitor, porque eles  não sao eleitos e chefiam o governo. E há um outro aspecto importante, a nova Constiuição diz claramente que deve ser vice-presidente o segundo cabeça de lista, o número dois da lista do partido vencedor. Acontece que o vice-presidente designado não é o segundo na lista. Até nesses aspectos é muito difícil o MPLA dar um passo sem incorrer em novas inconstitucionalidades e novas irregularidades apesar da tendência que tem de renovar em reformar as leis para adequar os poderes pessoais dos seus lideres

Pode ouvir parte desta entrevista em: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
selecionando a emissão da noite do dia 4 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Crescei e Multiplicai-vos

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
Gênesis 1:26-28


 E ao pé da letra Jacob Zuma seguiu a ordem! Apesar de não saber se ele é cristão ou não... Mas ele com certeza conhece a frase...
Desta vez calhou-lhe na lotaria, uma filha que resulta de uma relação extra-conjugal. A menina nasceu em Outubro do ano passado. O presidente sul-africano fez saber hoje, através de um comunicado presidencial, que assume a paternidade da criança. Jacob Zuma já soma vinte filhos e tem 67 anos de idade. Entretanto, isto não parece ser problema para o presidente sul-africano, já que a sua cultura dispõe de mecanismos para solucionar o problema: ele vai pagar uma espécie multa a família da lesada...
Lê-se na lusa:  
"Empreendi os imperativos culturais numa situação desta natureza, por exemplo o reconhecimento formal da paternidade e das responsabilidades, incluindo o pagamento de "inhlawulo" (perdas e danos) à família", pode ler-se no comunicado divulgado pela Presidência.
Lê-se também na Lusa:
Apesar de ser casado com três mulheres, divorciado de uma quarta, viúvo de uma quinta e noivo de uma outra ao abrigo das leis consuetudinárias zulus, Jacob Zuma, de 67 anos, afirma que esta relação extraconjugal com uma mulher de 38 anos não deveria ter sido tornada do domínio público e que só o foi
porque "a Imprensa ganha dinheiro com isso". 
O polémico presidente deu largas a sua imaginação superando mesmo Deus e acrescentou a frase: casai-vos... "Crescei, casai-vos e multiplicai-vos". Assumo que digo isso com certa maldade... Este Homem tem uma cultura, como todos, e a sua permite isso! É considerado anormal por muitas sociedades hoje, mas para a sua sociedade pode ser muito bem visto! 
Quem o pode condenar por ser preso aos seus valores, a sua cultura? Provavelmente os seus antepassados assim o fizeram... Pode ser só uma questão de preservação cultural. Como há quem defenda a preservação da floresta amazónica, a "protecção" dos índios brasileiros em "reservas" (não como ficam os animais, não , não...), etc...
Mesmo que vá contra "a maioria" ele assume o que é! E as mulheres que a ele se juntam o fazem porque querem! Não são para aqui chamados os motivos...
Este caso me faz lembrar Moçambique, onde se vive uma situação contrária: não há um assumir de situações, neste caso da poligamia.
Há uma ambiguidade originada pela forte influência da cultura ocidental, fundamentalmente do cristianismo.
Então as relações poligámicas, legitimadas nas sociedades patrilineares, acontecem muitas vezes por debaixo do pano, por serem consideradas ilegítimas sob a perspectiva cristã que domina a vida dos "pseudo-assimilados". Entretanto, a cultura "asfixiada" pede constantemente para apanhar umas lufadas de ar...
Estamos a falar de uma guerra que resulta em danos incalculáveis...
Ou se é peixe, ou se é carne! Com todos os malefícios que cada um dos ingredientes carrega...
Quem quiser que leia o livro poetizado de Paulina Chiziane "Niketche". Pelo menos a minha interpretação desemboca nesta conclusão...
Os meus valores e princípios não se assemelham em nada aos de Zuma, muito pelo contrário, mas consigo, embora que por escassos momentos, deixar de me "umbigar", para perceber a cultura dos outros...
Respeitar o diferente... Mesmo que não goste...
Poderia ver as consequências negativas deste comportamento sob os pontos de vista social, político, etc... mas não foi este o objectivo, pelo menos neste texto! Num próximo apedrejarei o homem!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Anjos de borla

O Haiti oferece agora, de forma gratuita, uma oportunidade para o florescimento de um dos negócio mais antigos do mundo: o tráfico humano. O mais correcto é mesmo falar de tráfico de crianças, porque os mais jovens mesmo e adultos são considerados Personae non gratae nos prinicipais países doadores e que "mais ajudam o país no terreno" como é o caso dos Estados Unidos da América. O lema deste país é: ajudar sim, mas só na tua casa. Comprensivel esta atitude, afinal ninguém quer sarna a mais para se coçar, já bastam as sarnas domésticas que cada um tem. O inverso não acontece, as crianças estão a ser bastante disputadas! Enquanto a UNICEF apelava para a interrupção temporária do envio de crianças para fora do território haitiano, os franceses promoviam manifestações exigindo que as crianças haitinas carentes, por sinal já antes do terramoto..., fossem enviadas rapidamente para a França.
Os momentos dramáticos de extremo, como o terramoto do Haiti, são normalmente, ou "anormalmente" (depende do ângulo em que se vê o assunto) mais vendidos pelos media (e não só) do que os dramas "menos visiveis" como o caso do próprio Haiti "nas suas condições de temperatura e pressão", considerado um dos países mais pobres da América Central. A exposição da desgraça, sofrimento desencadeiam positivamente o lado humano ou até o "supra-humano" do mundo se é que existe o termo...
Estranho é como esse lado "supra-humano" paradoxalmente se pode tornar tão "desumano" quando por exemplo, se retiram essas crianças das suas famílias. Seja por motivos humanitários, seja para colmatar carências afectivas ou dificuldades de procriação. Estas situações de catástrofe se mostram a possibilidade da realização de sonhos de muitas famílias fora do Haiti. Um duro e duplo, ou multiplo golpe, para os familiares (se é que sobreviveram...) e uma alegria para os novos familiares. Pior do que este cenário, é larga oportunidade de negócio para os traficantes. Com que direito? Quem protege as crianças e os seus pais?

Se estiver interessado em saber mais sobre o provável tráfico de crianças no Haiti pode ouvir uma reportagem em :
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html selecionando a emissão da noite do dia 2 de Fevereiro de 2010

Mais uma vez sugiro ouvir Márcio Faraco que descobri com Carla Fernandes em mais um momento de longo bla, bla depois de ter escrito este texto. Não pude deixar de ligar música a isto...
 "Dor na Escala de Richter" em: http://www.youtube.com/watch?v=1bYATyDG6tQ  ou então veja a letra em: http://letras.terra.com.br/marcio-faraco/1548019/
Vale a pena!