domingo, 27 de setembro de 2009

“A caminho das Índias”: Alguma vez teve princípio e fim?

A balde de água gelada nos sonhos dos telespectadores! A novela de Glória Perez, célebre por produzir telenovelas famosas como “O Clone”, foi alvo de inúmeras críticas devido ao final que aconteceu há sensivelmente duas semanas.

Confesso, sem vergonha nenhuma, que adoro ver novelas, principalmente as brasileiras. Tive de ver o final no Youtube, que era acompanhado de “testículos” opinativos críticos e insultuosos a autora.
Devo dizer que concordei com alguns deles... Passamos meses e meses com coração nas mãos por causas das milhentas histórias da novela e ela acaba assim em três pancadas? E como se não bastasse não da forma que sonhamos.

Mais respeito pelas nossas fantasias e sensibilidades. Depois de tanta intimidade com os personagens estamos à espera de, no mínimo, um fim justo, equilibrado e romântico. Não queremos muito, só a perfeição!

A minha frustração e a das outras pessoas despertou, depois de acalmar os ânimos, a minha atenção para dois factos: primeiro, o Homem procura nas criações, a concretização dos seus sonhos e fantasias, já que a vida raramente oferece espaço para tal. A novela torna-se o espaço das liberdades, o único mundo que pode ser cor de rosa. E foi lhes cortada até a possibilidade de sonhar, não há direito! Além de que foi um fim que pode ser considerado disfórico, contrariando a característica das novelas (ai a resistência as mudanças... )

Segundo, a novela começa já com histórias de “paternidade atribuídas”, a novela é particularmente alimentada por elas e o seu fim é caracterizado pela continuidade desta particularidade. Ou seja, faltou o fecho, ou melhor, a solução. Afinal o fecho não significa necessariamente a solução...
Que mensagem a autora quis passar com estas histórias excessivamente repetidas?
Ainda não alcancei, mas percebi que todo o poder que a mulher indiana tem na mão é por ela manifestado de forma inconsciente.

Apesar de estar em desvantagem nas relações de genéro, ela desencadeia as mais profundas mudanças nas relações sociais da sua sociedade, porque no final quem tem o poder, deverdade, é ela.

Ora vejamos, se as pessoas de castas diferentes não se podem casar, por umas serem inferiores a outras, as mulheres acabam por pôr fim a essa barreira de forma não “oficial”, ou por debaixo do pano, ao terem filhos de homens de castas diferentes, mais especificamente, pobres. No final não há castas puras. Não há superioridade, não há estratificação...

Pela vaidade machista de querer ter um filho homem, a mulher também acaba por comprar um filho macho para satisfazer a vontade do seu marido. Este último sente-se então realizado: cego pela sua masculinidade, que está sempre “em cima”, sujeita-se a fazer papel de parvo para o resto da vida.
Como a dominada pode passar a dominante na luta para satisfazer as exigências do dominante?
Até que ponto o opressor passa a ser o oprimido com o chicote na mão?

Este é um caminho, que na minha opinião, nunca teve princípio tal como o seu fim se mostra um miragem...

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