quarta-feira, 29 de abril de 2009

Peço Antecipadamente a Minha Certidão de Óbito

60 kg de massa humana não têm força para suportar o pesado fardo do vazio da impotência... Nem debaixo da mais potente lente do microscópio JEOL ele se deixa ver.

É no descair dos ombros que se sente, os olhos da rua alcançam apenas ombros erectos, carregados de autoconfiança. No olhar distante, que nem eu sei qual o seu raio, não se alcança o infinito da Iris no cruzar de olhares das esquinas do mundo... Tão inerte que não reage a atropelos... humanos, animais... É a morte!
O batom, os sapatos de salto, queixo a tocar o céu, meia duzia de papeis carimbados por pobres mortais são as minhas armas para enfrentar a vida... Não posso ser engolida por ela! Mas sigo debaixo da indiferença diária dos olhos do mundo... É esta reacção que necessito para me trazer a confirmação de que está tudo certo! Somos todos iguais... Cada um com a sua kalaschnikov, magnum 45, 38, uzy, catana, pau, pedra... Ninguém tem fraquezas... Somos todos fortes, afinal estamos armados! Diferentes no calibre apenas... Isso é apenas um detalhe, não é?
Mas um dia sou atingida... As vezes por uma pedra, outras por uma catana, e no pior dos piores dias por um míssil de longo alcance que não é dos testes que causam muito furdunço lá nas bandas de Kim Jong-il ... Esse é intencional! Fica a espera de uma vitima que também está armada... Ai os detalhes... Posicionei-me no hemisfério norte com a ajuda de uma bússola de modo a ser reduzida a nada... Seduzida pelas luzes da Kurt-Schumacher Strasse... Em Dezembro a árvore de natal em tamanho gigante, tudo só luzinhas, acende e paga... Muda de côr... Num edifício desta rua... É tão linda! As crianças da minha terra quereriam ver também! Mas há outras luzes ainda... essas estão acesas todos os dias, nunca se faz o "switch off"...
É preciso ter cabedal! Coisa que descobri que em mim não passava de rascunho... Como eu me acho!!
Nem toda a maquiagem do mundo ressuscita o que está no chão... Não está a sete palmos da terra... Ainda não... Mas não há maquiagem... No meu intimo a dor escorrega nas paredes como água, como corpo sem consistência, sem formas, sem sustento... Só segue as formas dos 60 kg de massa humana...
Sou dona de quê? Apenas de 60 kg? Também poderia ser proprietária de 60 kg de pedra, de amendoins, de açúcar... Pelo menos esses corpos nunca tiveram a consciência de nunca foram nada... ou alguma coisa... Um amendoim não trama outro amendoim...
Mas um Homem pode retirar a existência de outro... Coitados dos humanos...
Desde quando pode um Homem retirar o conteúdo do seu semelhante? A isto se chama matar pela metade! A esperança só respira porque os 60kg ainda se movem, embora que mecanicamente. Está programado para actividades de 24 horas, mais do que isso dá bloqueio. Não há coordenação de movimentos, muito menos harmonia...
Fujo hoje, fujo amanhã, fujo depois... Até quando? Procuro os cuidados intensivos ou caminho para o necrotério?
No hemisfério sul o batom e os sapatos de salto também tem serventia... apesar dos buracos!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Madiba: Sujar a cara em nome do povo?

Jacob Zuma caminha tranquilo, seguro e com estilo para a presidência da África do Sul. Quando se finaliza a contagem dos votos, tudo indica que o histórico ANC vai continuar com os cerca de dois terços no Parlamento.

O controverso político segue com tranquilidade pelo facto de pertencer e liderar uma formação política de peso, uma segurança porque o seu poder é sustentado por grandes figuras do partido. Mas o estilo foi a coroa do fim do seu percurso, colocado pelo herói.

Nelson Mandela aparece na recta final da campanha eleitoral do partido com a imagem de Jacob Zuma no peito. Deve ter custado muito a engolir esse sapo, ou melhor, esse Zuma!

Em nome do povo se engole até elefantes! Como compreender isso? É realmente para se ficar com um ponto de interrogação. O carismático e imaculado ao lado chamuscado?

Acredito que apenas um homem com espírito de sacrifício consegue passar por cima de convenções sociais, morais, etc, por uma causa nobre: o povo.

O Congresso Nacional Africano (ANC) representa a esperança dos sul-africanos. Em nome deles Madiba passou por cima de si próprio, na minha opinião. Para sustentar a minha opinião estão alguns factos: primeiro, Mandela nunca se pronunciou em nenhum momento sobre os escândalos em que esteve envolvido o futuro Presidente, obviamente que não tem de o fazer, mas o assunto era tão cabeludo e envolveu todo um sistema partidário. Também pode ter deixado os miúdos resolverem as suas makas sozinhos, afinal são maiores de idade... Segundo não apareceu em nenhum momento da campanha, se não no fim, a apoiá-lo, e terceiro foi em nome do povo que ele falou na campanha, manifestou o desejo de que fossem salvaguardados os interesses populares.

Apesar de ilibado, persistem duvidas sobre os envolvimentos de Zuma em águas não muito claras. O que isto pode significar em termos de imagem do país e até para o continente? A questão da credibilidade foi profundamente colocada em xeque.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Presentes Repetidos


Foto: Ivan Laranjeira

Pessoas se repetem na minha vida, mas com uma única diferença: vem pela segunda vez em invólucro diferente. Olho para elas a primeira e não merecem mais do que a minha indiferença, até que me aproximo delas e os olhos brilham! E penso: ganhei um presente! Tudo mentira... À medida que o desembrulho vão se revelando partes da prenda bem conhecidas. Tudo o que os meus sentidos permitem perceber é tranquilamente agradável... Desde princípios deste mês dei início a minha luta contra o papel e fita cola... Ainda não vislumbrei na totalidade as formas desta prenda, mas chego lá!! O tempo não pesa nestes assuntos...

A sensação é aquela que os recém casados têm quando abrem os presentes. Um conjunto de copos! Não, não é verdade, esse é o presente mais vulgar! Para entregar aos putos para partirem. No caso trata-se um presente especial, daqueles que os noivos colocam na cristaleira da sua sala para as visitas alegrarem os olhos e sentirem um pouco de inveja...

Então me faço duas perguntas ou vou mais longe e atrevo-me a confirmar: ou estou a envelhecer ou então o mundo que se supõe imensurável afinal não tem muitas alternativas. Caso contrário não me daria mais um presente desses, talvez outro, melhor ou pior... Não interessa!

Uma das grandes vantagens que vejo em receber pela segunda vez o mesmo presente é a chance de usufruí-lo com sabedoria como não o soube fazer antes. Ai terei de mostrar a Deus e a mim mesma que não sou tão incompetente assim. É sim também uma questão de vaidade! Vai ver que é também vaidade dele, quer ter a certeza de que não espalhou apenas bestas pelo mundo. É a segunda chance! Nunca pensei que com pessoas houvesse segunda chance! Funciona como um teste. O que correu bem antes deve ser aplicado e melhorado ao detalhe. Levo vantagem, mas não devo repetir os mesmos erros, são admitidos outros tipos de danos, mas não os mesmos. Palha de aço é só para panelas.

Na verdade repetição não é a palavra certa para definir a situação, será um reencontro? Continuidade? Acho esta última melhora, afinal presentes podem acabar no sótão se perdem a utilidade... Tudo o que não é dispensável neste caso não tinha sequer o seu espaço. Vamos começar onde paramos há alguns anos. Um mais um é igual a dois, aguentamos? Então como fazemos? A solução é somar tudo e dividirmos em partes iguais e cada um toma conta! E no final se não conseguirmos? Mas arriscamos, não é?

A fase dos silêncios recheados de conteúdos sobejamente conhecidos, poderosas armas mortíferas, ficou para trás. Na continuidade o silêncio foi brutalmente assassinado, as verdades são jogadas na mesa com a mesma força bruta usada para tirar a vida ao silêncio! Apenas persiste a mudez dos sábios... doce calar...

Há que ter cuidado no manuseamento de peças raras! Panos de flanela, macios, água morna... Colocá-lo num lugar especial, senão riscam-se... E se isso acontecer onde achar outro? Bondade de Deus não é como areia da praia! Duas vezes já é privilégio, terceira poderia dizer com toda a certeza que não sou enteada do grande, mas sorte tem limites! A frase “quem não arrisca não petisca” não é para aqui chamada!

Agora me pergunto: ou a vida decidiu que o presente é o objecto dos meus olhos ou ela, consoante os meus estágios de evolução, vai pondo o mesmo presente na esperança de que cuide então melhor dele! Com 24 atirando a peça querida para um canto pensando que não se parte! Com 30 pensando que é de cristal, lindo, com brilho natural e não deve de forma nenhuma ser riscado e misturado! Aos 40 como será? Criarei um pedestal só para ele?
Haja saúde até lá...

(Munganuwanga(s), nunca se esqueçam da vossa relevância, mas não dá para sentar em cima da realidade... não há bunda, por maior que seja, que consiga esconder isso!)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Vinte batutas para uma orquestra de sete biliões

O grande concerto foi em terras de sua majestade! E depois que os panos caíram não podia deixar de “ratar” o acontecimento... Ah... Os biliões não estiveram lá, claro! Mas o dinheiro velho e novo tiveram direito ao acesso a grande sala.
Os que não têm nem um nem outro nada mais podiam fazer do que ficar com o coração nas mãos! Tamanho era o medo de que não caísse nas suas mãos permanentemente estendidas os habituais tostões... Mas ainda tentaram jogar psicologicamente com as regras de cavalheiros, “palavra dada é palavra dada”, mas podem ter a certeza de que não foi isso que não os fez ficar com uma mão na frente e outra a trás.
Enquanto isso o dinheiro novo soma e segue, as suas cordas vocais vibraram pela primeira vez na reunião dos mais velhos! Nos tempos da vítima do sapato estes não teriam passado, tal como ele agora, de poeira!!
Na distribuidora de papel é que as coisas vão mudar, entrou mais papel, estão tramados os que reclamam da corrosão do poder voto. Agora é que não vão usar mais calças dentro das suas próprias casas! Afinal não conseguem elevar a "voz"...
Mas quem não anda a dormir é uma certa espécie semelhante ao molusco... Aprendeu com outra espécie do seu habitat que “camarão que dorme a onda leva”, decidiu meter algum na distribuidora! Afinal o dinheiro fala todas as línguas... Ou então agora vai falar! Será um camarão falante não apenas da língua do poeta zarolho... Estou a ver que esse ainda vai vender a alma ao diabo ou então vai pôr milhões a fazerem isso! Tanto cercou as meninas multilaterais que já conseguiu uma. A ver vamos se tem estofo para aguentar a “mãe”... Mas tem se portado bem que até mereceu elogios de um sonhador de peso...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Divisão de Bens

Sinto que te divido com a terra
Tua pele foi apropriada por ela
Mas as pintinhas ficaram comigo
Sinto que te divido com a terra
Tua pele foi apropriada por ela
Mas a secura, rachas e escamas dos teus tecidos deixaste comigo
Sinto que te divido com a terra
Tua voz ela tomou
Mas o conteúdo rebola na minha cabeça
Sinto que te divido com a terra
Até o teu silêncio ela tomou!!!
Mas também isso eu consegui um pouco! (Ias te orgulhar um pouco de mim... mesmo que não dissesses, eu sei...)
Sinto que te divido com a terra
Teus olhos ela levou
Mas o teu contemplar eu ganhei! E como ganhei...
Sinto que te divido com a terra
Teu sofrer está com ela
Mas não conseguiu tudo... Comigo ficou muito...
Ai se eu pudesse entrar em acordo com a terra... Havia de querer ficar com tudo!
Partilhava-te como todos, mas com ela não
Maldita terra, eu quero tudo! Heranças parciais não me satisfazem
Gananciosa
Gulosa
Insaciável
Egoísta! Mais do que eu...
Nem quero imaginar quantos olhos, bocas, silêncios, peles, engoliste tu
Ainda bem que sabes esconder... Se não terias formas monstruosas de meter medo ao susto...
Mas imagino sim porque muitas vezes és vermelha...
A título de empréstimo deste-me e agora tens de volta e pago com juros altos!
Vou ter de te regar com lágrimas até ao fim dos meus dias...
(Lu, é pra ti também...)